sábado, 26 de setembro de 2009
Blog de Sheila Maria Madastavicius
Este é o "Cinema e Letras: Impressões" - tenho certeza de que vai gostar de ler os textos aqui oferecidos.
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
"Caso venha a saber de uma traição, pense bem antes de contar à vítima"
Graças a Deus, tenho muitos – e bons - amigos. Alguns dentre meus familiares e outros advindos dos diversos setores e fases da minha vida... E registre-se que sou muito grata pela dedicação de cada um deles, pois imagino que não seja fácil manter estreita ligação com alguém que, como eu, esteja sempre disposto a aprofundar qualquer assunto...
Observo isso na reação de algumas pessoas que, não convivendo comigo e não tendo o hábito da reflexão permanente, de repente se veem diante de uma de minhas "perguntas remissivas” – no sentido de remeter o interlocutor a si mesmo, à compreensão de suas ações... Ou reagem como se eu fosse “a chata de galocha”; ou como se eu fosse meio maluquinha; ou ainda põem-se na defensiva... Em um mundo no qual tantas pessoas sabem mais sobre as vidas das "celebridades"do que daquilo que se passa dentro de si mesmas, talvez tais reações devam ser mesmo esperadas... E quando percebo que não vão me entender mesmo, acabo rindo da situação e me afastando de fininho...
Pois eu não perco a oportunidade ( principalmente se sou atingida de alguma maneira ) – anos e anos de psicanálise - de perguntar a todos os que me rodeiam, da mesma forma que o tempo todo a mim mesma: vem cá, por que você fez isso ou disse aquilo? O que você estava sentindo naquele momento? O que sua atitude significou pra você, no fundo do seu coração? Será que foi isso, ou seria aquilo...?
Às vezes chego a me perguntar se não deveria mudar, conter esses meus impulsos perguntativos, curiosos da alma humana... Mas acho que não conseguiria ser diferente...
Ainda bem que meus amigos me amam e, para falar a verdade, até parecem sentir falta de minhas perguntas quando deixo passar alguma coisa de qualquer jeito... E o fato é que ser assim é o que ilumina meus textos... Pois muitas vezes é tentando compreender aquilo que me causou espanto no comportamento de alguém que imagino os personagens das histórias que escrevo...
Em artigo intitulado “Caso venha a saber de uma traição, pense bem antes de contar à vítima”, publicado em uma dessas revistas que costumamos encontrar em consultórios ou salões de beleza, a analista junguiana Leniza Castello Branco leva seus leitores a refletirem sobre o quanto talvez sejam mais importantes os sentimentos que se escondem por trás de cada uma de nossas ações do que a maioria das ações em si mesmas.
Em resumo, em suas bem traçadas e simples linhas, ela torna acessível aquilo que eu talvez não esteja conseguindo transmitir no momento em que formulo minhas perguntas...
Ela explica que, num impasse de tal monta, devemos nos perguntar o que nos moveria ao optarmos por qualquer uma das possibilidades: contar ou não contar, no caso, à vítima da traição...
Contaríamos, porque no fundo invejamos a relação que a amiga tem com seu marido e queremos aproveitar a oportunidade para destruí-la?
Não contaríamos, porque no fundo queremos olhar para a amiga que pensa ser feliz usufruindo do prazer de determos a informação que pode a qualquer momento mudar a sua vida?
Em qualquer uma das duas atitudes, embora aparentemente diferentes, o sentimento por detrás - algumas vezes inconsciente -, revela-se o mesmo: inveja, maldade, pequenez de espírito...
O fato é que devemos estar sempre atentos para qualquer fiapo de prazer diante do fracasso ou infortúnio alheios, da mesma forma que a qualquer sinal de insatisfação com seus sucessos... A tomada de consciência quanto a esses sentimentos, além de nos tornar seres humanos melhores e de aumentar o controle que temos sobre nossas ações, pode significar grandes progressos em direção aos nossos limites e potencialidades, aumentando em muito as chances de superação/aceitação de uns e de desenvolvimento de outras...
Enfim, não podemos nos esquecer de que também poderíamos tomar qualquer uma das duas atitudes movidos simplesmente pela certeza em nosso coração de que seria aquela a que gostaríamos, invertidos os papéis, que tomassem em relação a nós mesmos.
E esse talvez seja o único sentimento que, por trás das escolhas feitas ao longo de nossa vida - e ainda que não tenhamos agradado a todos - pode ser aceito por nossa consciência, deixando-nos dormir em paz.
Convenhamos: autoconhecimento é uma preciosidade...
Vem cá: vale ou não vale a pena escarafunchar a própria alma?
Observo isso na reação de algumas pessoas que, não convivendo comigo e não tendo o hábito da reflexão permanente, de repente se veem diante de uma de minhas "perguntas remissivas” – no sentido de remeter o interlocutor a si mesmo, à compreensão de suas ações... Ou reagem como se eu fosse “a chata de galocha”; ou como se eu fosse meio maluquinha; ou ainda põem-se na defensiva... Em um mundo no qual tantas pessoas sabem mais sobre as vidas das "celebridades"do que daquilo que se passa dentro de si mesmas, talvez tais reações devam ser mesmo esperadas... E quando percebo que não vão me entender mesmo, acabo rindo da situação e me afastando de fininho...
Pois eu não perco a oportunidade ( principalmente se sou atingida de alguma maneira ) – anos e anos de psicanálise - de perguntar a todos os que me rodeiam, da mesma forma que o tempo todo a mim mesma: vem cá, por que você fez isso ou disse aquilo? O que você estava sentindo naquele momento? O que sua atitude significou pra você, no fundo do seu coração? Será que foi isso, ou seria aquilo...?
Às vezes chego a me perguntar se não deveria mudar, conter esses meus impulsos perguntativos, curiosos da alma humana... Mas acho que não conseguiria ser diferente...
Ainda bem que meus amigos me amam e, para falar a verdade, até parecem sentir falta de minhas perguntas quando deixo passar alguma coisa de qualquer jeito... E o fato é que ser assim é o que ilumina meus textos... Pois muitas vezes é tentando compreender aquilo que me causou espanto no comportamento de alguém que imagino os personagens das histórias que escrevo...
Em artigo intitulado “Caso venha a saber de uma traição, pense bem antes de contar à vítima”, publicado em uma dessas revistas que costumamos encontrar em consultórios ou salões de beleza, a analista junguiana Leniza Castello Branco leva seus leitores a refletirem sobre o quanto talvez sejam mais importantes os sentimentos que se escondem por trás de cada uma de nossas ações do que a maioria das ações em si mesmas.
Em resumo, em suas bem traçadas e simples linhas, ela torna acessível aquilo que eu talvez não esteja conseguindo transmitir no momento em que formulo minhas perguntas...
Ela explica que, num impasse de tal monta, devemos nos perguntar o que nos moveria ao optarmos por qualquer uma das possibilidades: contar ou não contar, no caso, à vítima da traição...
Contaríamos, porque no fundo invejamos a relação que a amiga tem com seu marido e queremos aproveitar a oportunidade para destruí-la?
Não contaríamos, porque no fundo queremos olhar para a amiga que pensa ser feliz usufruindo do prazer de determos a informação que pode a qualquer momento mudar a sua vida?
Em qualquer uma das duas atitudes, embora aparentemente diferentes, o sentimento por detrás - algumas vezes inconsciente -, revela-se o mesmo: inveja, maldade, pequenez de espírito...
O fato é que devemos estar sempre atentos para qualquer fiapo de prazer diante do fracasso ou infortúnio alheios, da mesma forma que a qualquer sinal de insatisfação com seus sucessos... A tomada de consciência quanto a esses sentimentos, além de nos tornar seres humanos melhores e de aumentar o controle que temos sobre nossas ações, pode significar grandes progressos em direção aos nossos limites e potencialidades, aumentando em muito as chances de superação/aceitação de uns e de desenvolvimento de outras...
Enfim, não podemos nos esquecer de que também poderíamos tomar qualquer uma das duas atitudes movidos simplesmente pela certeza em nosso coração de que seria aquela a que gostaríamos, invertidos os papéis, que tomassem em relação a nós mesmos.
E esse talvez seja o único sentimento que, por trás das escolhas feitas ao longo de nossa vida - e ainda que não tenhamos agradado a todos - pode ser aceito por nossa consciência, deixando-nos dormir em paz.
Convenhamos: autoconhecimento é uma preciosidade...
Vem cá: vale ou não vale a pena escarafunchar a própria alma?
terça-feira, 15 de setembro de 2009
"A JUÍZA"
Você pode encontrar o livro na Livraria Leonardo Da Vinci, no Rio de janeiro, e nas livrarias Gutemberg e Prêmio, em Niterói, Icaraí.
Aos domingos, na pracinha em frente à Praia de Icaraí, na barraquinha dos "escritores ao ar livro" - a boa ideia do colega Cecchetti.
Aos domingos, na pracinha em frente à Praia de Icaraí, na barraquinha dos "escritores ao ar livro" - a boa ideia do colega Cecchetti.
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
XIV BIENAL DO LIVRO - RIO
A Editora Nitpress e eu convidamos aqueles que não puderam comparecer ao primeiro lançamento de "A Juíza" para o evento a ter lugar desta vez na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, espaço Letras de Niterói, Pavilhão Verde ( Q31 / R22 ), Riocentro, a partir das 17h do próximo dia 20.
sábado, 5 de setembro de 2009
"Quando o outro entra em cena, nasce a ÉTICA"
“Em que crêem os que não crêem?”, cartas entre Umberto Eco e Carlo Maria Martini, é leitura indispensável a todos aqueles que refletem sobre o que move o homem no sentido de buscar as melhores condições de vida possíveis para todos os seres humanos, independentemente de qualquer medo do castigo no inferno eterno.
A carta “Quando o outro entra em cena, nasce a ÉTICA”, dirigida a Martini, resume em seu título as principais ideias abraçadas por Eco no livro.
Nela, o pensador consegue magnificamente nos mostrar o quanto a capacidade de nos identificarmos com qualquer outro ser humano; o quanto o fato de podermos nele perceber semelhanças conosco e com nossos queridos é fator fundamental para o desenvolvimento de uma postura ética diante da vida.
Igualados os seres humanos, seja por seus limites e potencialidades físicas, seja por seus desejos e fraquezas, seja por suas reações diante do prazer ou da dor, todas as diferenças passam a ser melhor respeitadas e passamos a saber que a máxima “não fazer ao próximo aquilo que não desejamos para nós mesmos” talvez resuma grandes tratados filosóficos sobre o assunto – ÉTICA.
De repente, vejo-me pensando sobre o imperativo categórico de Kant, segundo o qual devemos agir sempre em conformidade com a possibilidade de que nossos atos possam tornar-se leis a serem seguidas por todos, e acabo por concluir que, além de cuidarmos para não ferirmos o próximo com aquilo que abominaríamos que ele, por sua vez, nos atingisse, talvez também pudéssemos prestar atenção para não lhe fazermos aquilo que não deseje para si, ainda que para nós o que quer que isso represente tome a feição mais banal possível.
Isso seria de fato aprendermos a respeitar as sutis diferenças entre as pessoas, religiões e culturas a perpassarem a certeza de sermos essencialmente iguais.
A carta “Quando o outro entra em cena, nasce a ÉTICA”, dirigida a Martini, resume em seu título as principais ideias abraçadas por Eco no livro.
Nela, o pensador consegue magnificamente nos mostrar o quanto a capacidade de nos identificarmos com qualquer outro ser humano; o quanto o fato de podermos nele perceber semelhanças conosco e com nossos queridos é fator fundamental para o desenvolvimento de uma postura ética diante da vida.
Igualados os seres humanos, seja por seus limites e potencialidades físicas, seja por seus desejos e fraquezas, seja por suas reações diante do prazer ou da dor, todas as diferenças passam a ser melhor respeitadas e passamos a saber que a máxima “não fazer ao próximo aquilo que não desejamos para nós mesmos” talvez resuma grandes tratados filosóficos sobre o assunto – ÉTICA.
De repente, vejo-me pensando sobre o imperativo categórico de Kant, segundo o qual devemos agir sempre em conformidade com a possibilidade de que nossos atos possam tornar-se leis a serem seguidas por todos, e acabo por concluir que, além de cuidarmos para não ferirmos o próximo com aquilo que abominaríamos que ele, por sua vez, nos atingisse, talvez também pudéssemos prestar atenção para não lhe fazermos aquilo que não deseje para si, ainda que para nós o que quer que isso represente tome a feição mais banal possível.
Isso seria de fato aprendermos a respeitar as sutis diferenças entre as pessoas, religiões e culturas a perpassarem a certeza de sermos essencialmente iguais.
ASSÉDIO MORAL II
“Nas sociedades de nosso mundo ocidental altamente industrializado, o local de trabalho constitui o último campo de batalha em que uma pessoa pode matar outra, sem qualquer risco de chegar a ser processada diante de um tribunal.” Heinz Leymann
Esta citação abre o livro “MOBBING ( como sobreviver ao assédio psicológico no trabalho )”.
De leitura indispensável para todos aqueles que se sintam vítimas das mais sutis às mais terríveis agressões no ambiente de trabalho, esse livro, do psicólogo do trabalho e professor da Universidade Complutense de Madri, Iñaki Piñuel Y Zabala, é também interessante leitura para os que participam ou se sentem propensos a participar como agressores de qualquer ação que possa ser caracterizada como assédio moral.
Desde os perfis tanto das vítimas mais comuns de assédio moral e de seus assediadores, até uma profunda análise do problema hoje no mundo podem ser encontrados nas mais de 300 páginas dessa obra de fundamental importância para quem queira se aprofundar no assunto. Inclusive buscando conhecer um pouco mais sobre si mesmos e sobre o como estão sendo vistos pelos especialistas.
Aqui, a título de aguçar a curiosidade de vocês, cito algumas passagens emblemáticas do conteúdo da obra, cujo objetivo principal parece ser mostrar o quanto o assediador conta com a desmoralização e com o enfraquecimento da autoestima de sua vítima para se certificar de que, ainda que ele tente reagir – reações nem sempre configuram uma boa ideia -, jamais saibam como de fato lhes dar uma resposta.
Lembrem-se de que o que segue é apenas uma pequena amostra do que encontrarão nas páginas dessa publicação. Mesmo dos temas que destaco apenas lhes passo umas pinceladas. Vale a pena dedicar-se à leitura completa de trabalho tão sério como esse.
“Perfil profissiográfico das vítimas do psicoterror no trabalho:
“Elevado grau de Ética, honradez e retidão, assim como elevado senso de justiça ( fazem as perguntas-chave e incômodas, que ninguém ousa formular; denunciam as situações indignas ou injustas para outros; são livres, divergindo da opinião oficial ou do pensamento único que leva a ocultar alguns fatos; não se deixam comprometer com prebendas, dinheiro, postos, promoções, em troca de ser um bom menino e ficar quieto; falam claro e chamam as coisas por seus nomes, eliminando a distância entre o dito e o feito nas grandes declarações de princípios que se fazem em muitas organizações; não são politicamente corretas, falando de temas, valores e situações que são tabu na organização; buscam a verdade dos fatos e não o compromisso viável das versões oficiais etc. ).
“Autônomas, independentes e com iniciativa ( não cerram fileiras em torno de cegos corporativismos ou falsos sentimentos de lealdade devida à organização; conseguem respeitar a hierarquia sem cair no servilismo ou na submissão inconsciente etc. )
“Altamente capacitadas por sua inteligência e suas aptidões, destacam-se por seu brilhantismo profissional ( obs. nossa: ou poderiam fazê-lo, se tivessem chance ).
“Elevada capacidade empática, sensibilidade, compreensão do sofrimento alheio e interesse pelo desenvolvimento e bem-estar dos demais.
“Portadoras de situações pessoais ou familiares altamente satisfatórias e positivas.”
“Perfil do assassino moral:
“Quando uma cifra auspiciosa se torna especialmente proeminente e relevante, a maioria das pessoas se rende à idolatria do êxito. Ficam cegas diante do correto e do incorreto, do verdadeiro e do falso, do jogo limpo e do jogo sujo.
“...À proposição de que o êxito é bom, segue-se outra que tende a estabelecer as condições para a continuação do êxito. Essa proposição sustenta que o êxito é o único que é bom...
“A faculdade crítica moral e intelectual torna-se obnubilada. Fica deslumbrada pelo brilho do homem bem-sucedido e pelo anseio de participar de alguma maneira desse êxito... Só tem olhos para a realização, para o resultado promissor.
“Chega-se a ignorar que a culpa é cicatrizada com o êxito, precisamente porque já não se conhece a culpa ( obs. nossa: psicopaticamente... ). O êxito é um bem sem igual.
“Só se pode adquirir esta atitude no caso de uma profunda hipocrisia interna, de um autoengano consciente. Chega-se então a uma corrupção interna cuja cura é muito difícil de conseguir."
DIETRICH BONHOEFFER, Ética
"Características psicológicas do perseguidor moral:
“O medo e a insegurança que experimentam em relação a suas próprias carreiras profissionais, sua própria reputação ou sua posição na organização impelem-nos a denegrir outras pessoas.
“Esse medo, essa insegurança são habitualmente determinados pela própria consciência de mediocridade, que é posta em evidência, muito amiúde de maneira inconsciente, pela conduta profissional, ética e respeitosa da pessoa que depois vem a ser selecionada como objetivo.
“Os sentimentos de inadequação apresentados pelos assediadores usualmente procedem, como posteriormente se verá, de múltiplas fontes possíveis: psicopatias, paranoia, transtornos narcisistas... tendo, porém, um mesmo efeito sobre o comportamento: a compulsão por fazer desaparecer do ambiente à volta do assediador ou assediadores aqueles estímulos que desencadeiam neles sentimentos patológicos de ameaça, vale dizer, a eliminação da vítima.”
Com nossas palavras ( está no livro de forma melhor elaborada ):
Infelizmente, quando alguém começa a ser vítima de algum tipo de assédio moral do qual participem pessoas hierarquicamente superiores, a tendência daqueles que estão a uma certa distância ou que não participem da agressão é aliviar a própria consciência – por nada fazerem em sua defesa – dizendo-se precipitada, submissa e levianamente, um “alguma coisa deve ele(a) ter feito”. Assim, constituem-se as “testemunhas mudas”, até porque passam a ter medo de serem as próximas vítimas daquela espécie de ritual macabro.
Isso, aliado à autoestima ferida do perseguido, cria o campo propício para que os assassinos morais dêem continuidade ao projeto criminoso.
Dentre os direitos essenciais atropelados pelo psicoterror elencados no livro, destacamos:
“Atropelo do direito à intimidade ou à inviolabilidade da informação confidencial que afeta a pessoa.
“Realizam-se tentativas ilícitas de receber informação confidencial acerca da pessoa...
“Atropelo do direito à honra, ao bom nome ou à reputação mediante a calúnia consciente, intencionada e repetida.
“O assediador leva a efeito falsas imputações de erros ou descumprimentos e proporciona dados ou informes negativos falsos, com detalhes e declarações que não correspondem à realidade do desempenho da vítima. A razão apóia-se em facilitar argumentos falsos para livrar-se da vítima ou impedir que ela encontre facilmente um novo trabalho depois de sair da organização ( obs. nossa: até porque se o assediado tiver oportunidade de demonstrar seu valor em outro emprego, pode ficar mais evidente a perversidade sofrida anteriormente )."
Enfim, devo lhes dizer que o autor de trabalho tão completo, ao final, depois de muitas outras abordagens às quais aqui sequer fiz referência, não poderia deixar de esclarecer que a melhor libertação de todo o sofrimento provocado, principalmente pela injustiça sofrida, é sem dúvida o PERDÃO.
Sem, no entanto, tentar-se fugir à dor experimentada.
Para lidar com ela, com a dor, Iñaki sugere que se preste atenção às palavras de Krishnamurti:
“Posso compreender o que é o sofrimento quando uma parte de minha mente está escapando em busca da felicidade, de uma saída para essa desventura? Portanto, se tenho de compreender o sofrimento, não devo estar completamente unido a ele, sem rechaçá-lo, sem justificá-lo nem condená-lo, nem compará-lo, mas permanecendo completamente com ele e compreendendo-o?”
E compreendendo-o, pode-se, a partir da própria postura diante da vida, colaborar no processo de ampliação da consciência, seja das demais vítimas, para que encontrem alívio; seja das testemunhas mudas, para que sempre confiram aos assediados o benefício da dúvida; seja daqueles que por pouca familiarização com seus melhores aspectos se descubram do lado dos ASSASSINOS DE PESSOAS VIVAS e, não sendo completos psicopatas, possam descobrir no fundo de seus corações um começo da digna VERGONHA a apresentar-lhes oportunidade de seguir o caminho da humanização, da saúde e da consciência tranquila.
SHEILA MARIA MADASTAVICIUS
Esta citação abre o livro “MOBBING ( como sobreviver ao assédio psicológico no trabalho )”.
De leitura indispensável para todos aqueles que se sintam vítimas das mais sutis às mais terríveis agressões no ambiente de trabalho, esse livro, do psicólogo do trabalho e professor da Universidade Complutense de Madri, Iñaki Piñuel Y Zabala, é também interessante leitura para os que participam ou se sentem propensos a participar como agressores de qualquer ação que possa ser caracterizada como assédio moral.
Desde os perfis tanto das vítimas mais comuns de assédio moral e de seus assediadores, até uma profunda análise do problema hoje no mundo podem ser encontrados nas mais de 300 páginas dessa obra de fundamental importância para quem queira se aprofundar no assunto. Inclusive buscando conhecer um pouco mais sobre si mesmos e sobre o como estão sendo vistos pelos especialistas.
Aqui, a título de aguçar a curiosidade de vocês, cito algumas passagens emblemáticas do conteúdo da obra, cujo objetivo principal parece ser mostrar o quanto o assediador conta com a desmoralização e com o enfraquecimento da autoestima de sua vítima para se certificar de que, ainda que ele tente reagir – reações nem sempre configuram uma boa ideia -, jamais saibam como de fato lhes dar uma resposta.
Lembrem-se de que o que segue é apenas uma pequena amostra do que encontrarão nas páginas dessa publicação. Mesmo dos temas que destaco apenas lhes passo umas pinceladas. Vale a pena dedicar-se à leitura completa de trabalho tão sério como esse.
“Perfil profissiográfico das vítimas do psicoterror no trabalho:
“Elevado grau de Ética, honradez e retidão, assim como elevado senso de justiça ( fazem as perguntas-chave e incômodas, que ninguém ousa formular; denunciam as situações indignas ou injustas para outros; são livres, divergindo da opinião oficial ou do pensamento único que leva a ocultar alguns fatos; não se deixam comprometer com prebendas, dinheiro, postos, promoções, em troca de ser um bom menino e ficar quieto; falam claro e chamam as coisas por seus nomes, eliminando a distância entre o dito e o feito nas grandes declarações de princípios que se fazem em muitas organizações; não são politicamente corretas, falando de temas, valores e situações que são tabu na organização; buscam a verdade dos fatos e não o compromisso viável das versões oficiais etc. ).
“Autônomas, independentes e com iniciativa ( não cerram fileiras em torno de cegos corporativismos ou falsos sentimentos de lealdade devida à organização; conseguem respeitar a hierarquia sem cair no servilismo ou na submissão inconsciente etc. )
“Altamente capacitadas por sua inteligência e suas aptidões, destacam-se por seu brilhantismo profissional ( obs. nossa: ou poderiam fazê-lo, se tivessem chance ).
“Elevada capacidade empática, sensibilidade, compreensão do sofrimento alheio e interesse pelo desenvolvimento e bem-estar dos demais.
“Portadoras de situações pessoais ou familiares altamente satisfatórias e positivas.”
“Perfil do assassino moral:
“Quando uma cifra auspiciosa se torna especialmente proeminente e relevante, a maioria das pessoas se rende à idolatria do êxito. Ficam cegas diante do correto e do incorreto, do verdadeiro e do falso, do jogo limpo e do jogo sujo.
“...À proposição de que o êxito é bom, segue-se outra que tende a estabelecer as condições para a continuação do êxito. Essa proposição sustenta que o êxito é o único que é bom...
“A faculdade crítica moral e intelectual torna-se obnubilada. Fica deslumbrada pelo brilho do homem bem-sucedido e pelo anseio de participar de alguma maneira desse êxito... Só tem olhos para a realização, para o resultado promissor.
“Chega-se a ignorar que a culpa é cicatrizada com o êxito, precisamente porque já não se conhece a culpa ( obs. nossa: psicopaticamente... ). O êxito é um bem sem igual.
“Só se pode adquirir esta atitude no caso de uma profunda hipocrisia interna, de um autoengano consciente. Chega-se então a uma corrupção interna cuja cura é muito difícil de conseguir."
DIETRICH BONHOEFFER, Ética
"Características psicológicas do perseguidor moral:
“O medo e a insegurança que experimentam em relação a suas próprias carreiras profissionais, sua própria reputação ou sua posição na organização impelem-nos a denegrir outras pessoas.
“Esse medo, essa insegurança são habitualmente determinados pela própria consciência de mediocridade, que é posta em evidência, muito amiúde de maneira inconsciente, pela conduta profissional, ética e respeitosa da pessoa que depois vem a ser selecionada como objetivo.
“Os sentimentos de inadequação apresentados pelos assediadores usualmente procedem, como posteriormente se verá, de múltiplas fontes possíveis: psicopatias, paranoia, transtornos narcisistas... tendo, porém, um mesmo efeito sobre o comportamento: a compulsão por fazer desaparecer do ambiente à volta do assediador ou assediadores aqueles estímulos que desencadeiam neles sentimentos patológicos de ameaça, vale dizer, a eliminação da vítima.”
Com nossas palavras ( está no livro de forma melhor elaborada ):
Infelizmente, quando alguém começa a ser vítima de algum tipo de assédio moral do qual participem pessoas hierarquicamente superiores, a tendência daqueles que estão a uma certa distância ou que não participem da agressão é aliviar a própria consciência – por nada fazerem em sua defesa – dizendo-se precipitada, submissa e levianamente, um “alguma coisa deve ele(a) ter feito”. Assim, constituem-se as “testemunhas mudas”, até porque passam a ter medo de serem as próximas vítimas daquela espécie de ritual macabro.
Isso, aliado à autoestima ferida do perseguido, cria o campo propício para que os assassinos morais dêem continuidade ao projeto criminoso.
Dentre os direitos essenciais atropelados pelo psicoterror elencados no livro, destacamos:
“Atropelo do direito à intimidade ou à inviolabilidade da informação confidencial que afeta a pessoa.
“Realizam-se tentativas ilícitas de receber informação confidencial acerca da pessoa...
“Atropelo do direito à honra, ao bom nome ou à reputação mediante a calúnia consciente, intencionada e repetida.
“O assediador leva a efeito falsas imputações de erros ou descumprimentos e proporciona dados ou informes negativos falsos, com detalhes e declarações que não correspondem à realidade do desempenho da vítima. A razão apóia-se em facilitar argumentos falsos para livrar-se da vítima ou impedir que ela encontre facilmente um novo trabalho depois de sair da organização ( obs. nossa: até porque se o assediado tiver oportunidade de demonstrar seu valor em outro emprego, pode ficar mais evidente a perversidade sofrida anteriormente )."
Enfim, devo lhes dizer que o autor de trabalho tão completo, ao final, depois de muitas outras abordagens às quais aqui sequer fiz referência, não poderia deixar de esclarecer que a melhor libertação de todo o sofrimento provocado, principalmente pela injustiça sofrida, é sem dúvida o PERDÃO.
Sem, no entanto, tentar-se fugir à dor experimentada.
Para lidar com ela, com a dor, Iñaki sugere que se preste atenção às palavras de Krishnamurti:
“Posso compreender o que é o sofrimento quando uma parte de minha mente está escapando em busca da felicidade, de uma saída para essa desventura? Portanto, se tenho de compreender o sofrimento, não devo estar completamente unido a ele, sem rechaçá-lo, sem justificá-lo nem condená-lo, nem compará-lo, mas permanecendo completamente com ele e compreendendo-o?”
E compreendendo-o, pode-se, a partir da própria postura diante da vida, colaborar no processo de ampliação da consciência, seja das demais vítimas, para que encontrem alívio; seja das testemunhas mudas, para que sempre confiram aos assediados o benefício da dúvida; seja daqueles que por pouca familiarização com seus melhores aspectos se descubram do lado dos ASSASSINOS DE PESSOAS VIVAS e, não sendo completos psicopatas, possam descobrir no fundo de seus corações um começo da digna VERGONHA a apresentar-lhes oportunidade de seguir o caminho da humanização, da saúde e da consciência tranquila.
SHEILA MARIA MADASTAVICIUS
ASSÉDIO MORAL
No ônibus, duas mulheres conversavam naturalmente sobre haverem participado de um tipo de brincadeira no trabalho.
Parece que o chefe da seção em que as duas eram espécie de secretárias, em uma empresa da qual não disseram o nome, estivera aborrecido com uma funcionária, segundo ele, arrogante, e quis colocá-la na “geladeira”, apenas para ver se ela pedia transferência de setor.
Assédio Moral, pensei... Assédio moral...
Uma delas parecia um pouco desconfortável, mas a outra demonstrava haver se divertido de alguma maneira com a situação...
O mais interessante, pelo que entendi, era que fora apenas tácito o acordo entre os funcionários e o chefe contra a colega, pelo jeito, um tanto mal quista.
( Aqui, um parênteses, para lembrar que não existem santos e perfeitos em nosso planeta, e que as pessoas não podem ser punidas por vias transversas apenas porque um de seus “defeitos” ou problemas ou uma sua característica incomodativa tocou alguns de seus colegas ou patrões.)
Bem, sem que qualquer plano fosse apresentado, todos se dedicaram à mesma tarefa, cujo sucesso agora redundava em mostras do reconhecimento da chefia, que acabara de aprovar espécie de rodízio de folga semanal há muito pleiteado.
Nas entrelinhas daquela conversa, durante a qual tive vontade de opinar algumas vezes, soube que a moça era bonita e de melhor situação financeira do que as duas – “ela nem precisa do trabalho” - disseram, o que, na verdade, talvez estivesse por trás do recalque a facilitar a posição que haviam tomado contra ela, pensei de novo.
Recalque a reforçar – pequenez de espírito - o impulso no sentido de agradar o chefe e obter disso alguma espécie de recompensa, num jogo perverso e que já parece fazer parte do dia a dia de muitos trabalhadores, fora o que movera as moças, concluí.
Desci chocada daquela condução. Não adianta: jamais vou me acostumar com relatos desse tipo...
Ao afirmarem que a moça não precisava do trabalho e por isso talvez agisse de algum modo a ser etiquetado como “arrogante” pelo chefe, em contraste com elas próprias, a precisarem “imensamente” do emprego e, por isso, facilmente submetidas ao que se lhes apresentassem - pois, frisou a mais “tranqüila” das duas: “temos filhos pra criar” -, ainda me levaram a acreditar que, no fundo, no fundo, talvez o que mais as incomodasse na moça fosse sua autonomia.
Em resumo: não há como culpabilizar apenas a dependência do emprego, a pressão da chefia... Pois o fator decisivo a impedir a adesão a práticas desse tipo, vindo das próprias vísceras, poderia se manifestar em forma de problemas de saúde, emocionais mesmo, a serem expostos aos demais como impossibilidade para prosseguir participando da trama.
Fingir não entender o que está acontecendo seria uma outra alternativa: muitas vezes, ao serem obrigadas a verbalizar, letra por letra, o que se pretende, muitas pessoas desistem de intentos não muito admiráveis...
O fato era que quem participava desse tipo de coisa, atenuantes vinculados ao poder de coação da chefia à parte, tinha seu quinhão de responsabilidade, sim.
Pitoresco foi que, durante o percurso do veículo, tivemos a impressão de que alguns “pivetes” iriam subir pela porta de trás... Nesse momento, justamente a mais animada com os maus tratos impingidos à colega ficou apavorada, dizendo que reconhecia um deles, que quase roubara seu celular, que não era possível que ainda não tivessem "pego aquele capeta”, "dado uma boa surra nele"...
Meu Deus! Ela certamente se julgava muito melhor do que ele... E realmente parecia não estar consciente da semelhança de seu comportamento com o daquele infrator...
Para aquela jovem senhora, como para muitos de nós, parecia ser mais grave o roubo de celulares do que a usurpação do direito ao respeito de outro ser humano...
Quanto ao fato de “terem filhos para criar”, que parece ser a desculpa mais usada por quem decide encontrar alívio para a própria consciência ao embarcar em projeto de destruição de outrem, soava como absurda ignorância.
E ignorância principalmente quanto a si mesmos, quanto ao que move cada um através da própria vida...
Autoconhecimento era realmente uma preciosidade, pensei... As mentes mais limitadas – e elas proliferam em todos os níveis do funcionalismo público e privado – não percebiam que criar filhos não era apenas garantir o sustento de seus corpos com um pouco mais de feijão ou caviar. Não: criar um filho com responsabilidade era preocupar-se também com o meio ambiente, no sentido ecológico mesmo, e no sentido humano. Era trabalhar na construção de um mundo melhor.
Afinal, ao colaborar na construção e manutenção de relações perversas no mundo do trabalho, quem poderá garantir que não esteja ajudando a perpetuar as estruturas mesmas que um dia poderão vir a atingir seu próprio filho?
E podem ter certeza de que ele vislumbrará, apoiando a mão que lhe atire a primeira pedra dentro de sua repartição, a mão de seu pai ou de sua mãe. Pois os filhos sempre sabem quem são seus pais...
Particularmente, posso dizer que uma de minhas maiores alegrias teve lugar quando minha filha, que hoje trabalha em prol dos mais fracos como defensora pública ( o filho mais velho, do qual igualmente me orgulho, lidando com fisioterapia respiratória, mantém sensível o coração ao sofrimento alheio... ), dedicou a mim sua monografia de final de curso: “À mulher que me ensinou os melhores valores que um ser humano pode ter: minha mãe”.
Transmitir esses valores para nossos filhos é trabalhar na construção de um mundo melhor.
E trabalhar na construção de um mundo melhor em todos os sentidos deve ser meta consciente em nosso dia a dia. Deve ser nossa disposição a cada decisão tomada, a cada palavra dita. Afinal, ser um ser humano responsável não significa apenas pagar as contas em dia, não. Muitos daqueles que as pagam o fazem com o dinheiro roubado da educação e da saúde de um povo que todo dia sofre baixas resultantes da precariedade de suas vidas...
Trabalhar na construção de um mundo melhor para nossos filhos é, sem dúvida, olharmos dentro de nosso coração e sabermos que podemos nos orgulhar daquilo que estamos deixando de exemplo para eles.
Trabalhar na construção de um mundo melhor é sabermos que dormiríamos completamente tranquilos se tivéssemos a certeza de que em nossa direção só seriam emanadas ações tais e quais às que, por nossa vez, cuidadosamente direcionamos ao mundo.
Parece que o chefe da seção em que as duas eram espécie de secretárias, em uma empresa da qual não disseram o nome, estivera aborrecido com uma funcionária, segundo ele, arrogante, e quis colocá-la na “geladeira”, apenas para ver se ela pedia transferência de setor.
Assédio Moral, pensei... Assédio moral...
Uma delas parecia um pouco desconfortável, mas a outra demonstrava haver se divertido de alguma maneira com a situação...
O mais interessante, pelo que entendi, era que fora apenas tácito o acordo entre os funcionários e o chefe contra a colega, pelo jeito, um tanto mal quista.
( Aqui, um parênteses, para lembrar que não existem santos e perfeitos em nosso planeta, e que as pessoas não podem ser punidas por vias transversas apenas porque um de seus “defeitos” ou problemas ou uma sua característica incomodativa tocou alguns de seus colegas ou patrões.)
Bem, sem que qualquer plano fosse apresentado, todos se dedicaram à mesma tarefa, cujo sucesso agora redundava em mostras do reconhecimento da chefia, que acabara de aprovar espécie de rodízio de folga semanal há muito pleiteado.
Nas entrelinhas daquela conversa, durante a qual tive vontade de opinar algumas vezes, soube que a moça era bonita e de melhor situação financeira do que as duas – “ela nem precisa do trabalho” - disseram, o que, na verdade, talvez estivesse por trás do recalque a facilitar a posição que haviam tomado contra ela, pensei de novo.
Recalque a reforçar – pequenez de espírito - o impulso no sentido de agradar o chefe e obter disso alguma espécie de recompensa, num jogo perverso e que já parece fazer parte do dia a dia de muitos trabalhadores, fora o que movera as moças, concluí.
Desci chocada daquela condução. Não adianta: jamais vou me acostumar com relatos desse tipo...
Ao afirmarem que a moça não precisava do trabalho e por isso talvez agisse de algum modo a ser etiquetado como “arrogante” pelo chefe, em contraste com elas próprias, a precisarem “imensamente” do emprego e, por isso, facilmente submetidas ao que se lhes apresentassem - pois, frisou a mais “tranqüila” das duas: “temos filhos pra criar” -, ainda me levaram a acreditar que, no fundo, no fundo, talvez o que mais as incomodasse na moça fosse sua autonomia.
Em resumo: não há como culpabilizar apenas a dependência do emprego, a pressão da chefia... Pois o fator decisivo a impedir a adesão a práticas desse tipo, vindo das próprias vísceras, poderia se manifestar em forma de problemas de saúde, emocionais mesmo, a serem expostos aos demais como impossibilidade para prosseguir participando da trama.
Fingir não entender o que está acontecendo seria uma outra alternativa: muitas vezes, ao serem obrigadas a verbalizar, letra por letra, o que se pretende, muitas pessoas desistem de intentos não muito admiráveis...
O fato era que quem participava desse tipo de coisa, atenuantes vinculados ao poder de coação da chefia à parte, tinha seu quinhão de responsabilidade, sim.
Pitoresco foi que, durante o percurso do veículo, tivemos a impressão de que alguns “pivetes” iriam subir pela porta de trás... Nesse momento, justamente a mais animada com os maus tratos impingidos à colega ficou apavorada, dizendo que reconhecia um deles, que quase roubara seu celular, que não era possível que ainda não tivessem "pego aquele capeta”, "dado uma boa surra nele"...
Meu Deus! Ela certamente se julgava muito melhor do que ele... E realmente parecia não estar consciente da semelhança de seu comportamento com o daquele infrator...
Para aquela jovem senhora, como para muitos de nós, parecia ser mais grave o roubo de celulares do que a usurpação do direito ao respeito de outro ser humano...
Quanto ao fato de “terem filhos para criar”, que parece ser a desculpa mais usada por quem decide encontrar alívio para a própria consciência ao embarcar em projeto de destruição de outrem, soava como absurda ignorância.
E ignorância principalmente quanto a si mesmos, quanto ao que move cada um através da própria vida...
Autoconhecimento era realmente uma preciosidade, pensei... As mentes mais limitadas – e elas proliferam em todos os níveis do funcionalismo público e privado – não percebiam que criar filhos não era apenas garantir o sustento de seus corpos com um pouco mais de feijão ou caviar. Não: criar um filho com responsabilidade era preocupar-se também com o meio ambiente, no sentido ecológico mesmo, e no sentido humano. Era trabalhar na construção de um mundo melhor.
Afinal, ao colaborar na construção e manutenção de relações perversas no mundo do trabalho, quem poderá garantir que não esteja ajudando a perpetuar as estruturas mesmas que um dia poderão vir a atingir seu próprio filho?
E podem ter certeza de que ele vislumbrará, apoiando a mão que lhe atire a primeira pedra dentro de sua repartição, a mão de seu pai ou de sua mãe. Pois os filhos sempre sabem quem são seus pais...
Particularmente, posso dizer que uma de minhas maiores alegrias teve lugar quando minha filha, que hoje trabalha em prol dos mais fracos como defensora pública ( o filho mais velho, do qual igualmente me orgulho, lidando com fisioterapia respiratória, mantém sensível o coração ao sofrimento alheio... ), dedicou a mim sua monografia de final de curso: “À mulher que me ensinou os melhores valores que um ser humano pode ter: minha mãe”.
Transmitir esses valores para nossos filhos é trabalhar na construção de um mundo melhor.
E trabalhar na construção de um mundo melhor em todos os sentidos deve ser meta consciente em nosso dia a dia. Deve ser nossa disposição a cada decisão tomada, a cada palavra dita. Afinal, ser um ser humano responsável não significa apenas pagar as contas em dia, não. Muitos daqueles que as pagam o fazem com o dinheiro roubado da educação e da saúde de um povo que todo dia sofre baixas resultantes da precariedade de suas vidas...
Trabalhar na construção de um mundo melhor para nossos filhos é, sem dúvida, olharmos dentro de nosso coração e sabermos que podemos nos orgulhar daquilo que estamos deixando de exemplo para eles.
Trabalhar na construção de um mundo melhor é sabermos que dormiríamos completamente tranquilos se tivéssemos a certeza de que em nossa direção só seriam emanadas ações tais e quais às que, por nossa vez, cuidadosamente direcionamos ao mundo.
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