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terça-feira, 29 de dezembro de 2009

"A Juíza"

Em “A Juíza”, romance de Sheila Maria Madastavicius, dentre vários temas abordados, como o assédio moral dentro de uma instituição pública, você pode ler sobre a sindicância instaurada para apurar comportamento supostamente indevido da servidora Sílvia ( uma das principais personagens dessa obra de ficção que anda emocionando muita gente ), da qual resultou uma advertência por "haver ido embora do trabalho sem autorização da chefia imediata".

A barraquinha dos "Escritores ao Ar Livro" voltará à pracinha a partir do primeiro domingo do mês de março.
Mas você continua podendo adquirir "A Juíza", por exemplo, na livraria "Prêmio", em Icaraí, Niterói; ou na livraria "Leonardo Da Vinci", no Centro do Rio, além de pelo site da editora Nitpress.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Lavoura Arcaica... ainda

Estava pensando ainda sobre “Lavoura Arcaica... “
Um colega de leitura disse perceber, no filme, um gesto incestuoso no abraço entre a mãe e André...
É possível que ele não o tenha inventado...
A dúvida permanece, no entanto, colocada da seguinte maneira: o toque mais sensual do que maternal teria de fato partido da mãe ou ali estava sendo retratada a forma através da qual André o recebia?
Por outro lado, parece-nos que ele era o filho preferido por ela. E isso, até onde podemos entender, poderia ser suficiente, por várias razões – inclusive pelo sentimento de culpa -, para desencadear as fantasias do menino, arremessando-o de maneira especialmente forte no caminho que acabamos de vê-lo percorrer...
Complexo de Édipo?
Bem, se, como suspeitáramos de início, essa for mesmo a pista para uma interpretação mais profunda de“Lavoura Arcaica”, talvez possamos até imaginar que toda essa tragédia não passe de caricatura fantasiosa do pavor, do medo, da "aversão" a si mesmo e à própria mãe e ao pai... possivelmente vividos por muitos meninos junto com a "culpa" ante suas primeiras, segundas e terceiras dúvidas, sensações, percepções, emoções, experiências... sexuais.
André se sente um animal: “eu disse erguendo minhas patas sagitárias, tocando com meus cascos a estrutura do teto...” Talvez ele não queira destruir a família, mas, ao contrário, tema que isso seja inevitável, ao perceber, ao buscar nela, no cesto de roupa suja e nos corredores noturnos, a mesma podridão que pensa haver encontrado em si mesmo. Até porque seu sofrimento será tanto maior quanto hipocritamente os que o rodeiam mantenham-se em um pedestal... Pedestal no qual se colocam ainda muitos pais, acreditando sinceramente ser educativo posar de exemplo de "perfeição", ou simplesmente por lhes ser cômoda essa situação...
No entanto, caráter e bons valores nada têm a ver com falsidade e hipocrisia.
Alguns desses pais, ao invés de buscarem autoconhecimento, não raro encontram maneiras obscuras de realizar "à noite" as fantasias que condenam durante "o dia"... Sem falar que outros não fazem mesmo qualquer questão de conhecer o que se passa no fundo de suas almas tamponadas... Para que conhecer nossas fantasias se não devemos realizá-las?
A resposta a essa questão talvez seja: para nos tornarmos menos severos em nossos julgamentos, já que não precisaremos nos livrar de qualquer culpa jogando-a sobre quem quer que seja...; para que nossos filhos, sabendo-nos humanos, possam ser generosos consigo mesmos, desvencilhando-se progressivamente de seus conflitos e monstros juvenis. Pois, sabendo-nos humanos, sua ansiedade em não nos decepcionar será minimizada e, ao invés de fingirem ser o que não são; ao invés de se protegerem atrás de falsas identidades – "positivas" ( tentativa de agradar aos pais ), "negativas" ( desistência, diante da distância imaginada entre si mesmos e a perfeição; ou desistência, diante da hipocrisia percebida ou intuida ), simplesmente caminharão na direção da melhor maneira de serem úteis à sociedade, realizando todo o seu potencial humano e profissional, graças ao então possível autoconhecimento.
Mas voltemos a André: pode ser que ele tenha medo de contaminar a família com sua sexualidade, com a sexualidade que o domina, da mesma maneira que talvez imagine haver sido contaminado pelo toque materno (lembram-se de sua preocupação, logo no início da história, com os olhos do irmão caçula a observá-lo, para seguir seus passos? )...Perfeita metáfora desse receio seria o momento em que vemos Ana enfeitada com os objetos encontrados no baú ( metáfora para psique? ) de André...
Será que, afinal, toda a história não passa de uma maneira buscada pelo autor de nos fazer ver o quanto sofre um menino diante de sua“onipotente” sexualidade?
Lembremos que a história começa com uma masturbação e este ato até hoje é envolto em muitos sentimentos contraditórios e na culpa presente por trás de muitas das fantasias que invadem os rapazes...
Enfim, pode ser que, entre o primeiro toque em si mesmo até o clímax final, todas as emoções e acontecimentos relatados por Raduan tenham lugar apenas no espírito do jovem André, antes de que ele seja capaz de perceber que sua cabeça e seu coração humanos podem manter sob controle suas "patas sagitárias”.