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terça-feira, 2 de dezembro de 2014

"Conte algo que não sei"

Dias atrás, o Globo, na seção “Conte algo que não sei”, entrevistou Theodore Marmor, professor emérito de Yale.
Do especialista em políticas públicas, o entrevistador, em dado momento, quis saber:
“O Brasil tem algo a ensinar para os EUA quando se trata de políticas públicas?”
Resposta: "Nos últimos dez anos, houve um movimento social impressionante para uma diminuição da desigualdade. Os americanos ficariam surpresos em aprender. Houve apoio político para que o governo mudasse a distribuição de renda de forma muito substancial.”

Insatisfeito, talvez, com tal resposta, e após abordar outras questões, o jornalista encerra a matéria com a seguinte pergunta:
“No Brasil, há uma sentença popular que diz que não se deve dar o peixe, mas ensinar a pescar. O que acha disso?”
E obtém a excelente resposta: “Esse é um clichê que ouvi por 40 anos. É uma abordagem simplória quando se trata de pessoas pobres, desempregadas, prejudicadas(*), doentes, em situação de caos social e outras circunstâncias do tipo.”


Portanto, enquanto medidas amplas e abrangentes - como a taxação sobre as grandes fortunas, por exemplo - não sejam implementadas, continuemos a aplaudir as políticas públicas de distribuição de renda do atual governo, beneficiando os pobres de modo geral; paralelamente à implantação de políticas afirmativas no que se refira aos especialmente prejudicados (*pela escravidão), que, ao longo do tempo, têm visto fechadas um número ainda maior de portas

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

"OPINIÃO"

Sob o título “DESONESTO”, em um desses quadrinhos diários que veiculam a “Opinião” de seus editores, o Globo ontem publicou o seguinte texto:

“O Ministério da Saúde anuncia que a proporção de mulheres “negras e pardas” que morrem devido a complicações no parto é maior que a de mulheres brancas.
Mais uma pesquisa produzida no setor público sob o viés do racialismo. Soltam-se informações deste tipo, sem maiores explicações, para que fique subentendida a ideia estapafúrdia de que o fato se deve ao “racismo”.
Quando um minuto de reflexão sem desonestidade intelectual leva à explicação de que morrem mais negros na rede pública de saúde não por serem negros, mas por serem pobres e dependerem apenas do SUS.”

Sinceramente, será que o Ministério da Saúde deveria desenhar a relação estabelecida por sua pesquisa para que fosse melhor compreendida?
Afinal, parece-nos que seja simples assim. É maior o número de negras e pardas que morrem devido a complicações no parto do que de mulheres brancas porque, em um país onde durante tanto tempo imperou a escravidão, e no qual apenas muito recentemente começaram a ser implementadas algumas políticas afirmativas no sentido de atenuarem o resultado de anos e anos de preconceito e falta de oportunidades, existem mais mulheres pardas e negras pobres do que mulheres brancas pobres.
E a relação entre a pobreza e a morte prematura, sabemos bem, não passa simplesmente pelo fato de os pobres “dependerem apenas do SUS”. Passa por toda uma vida sem os cuidados necessários, sem a alimentação devida, sem o respeito merecido, sem...
Portanto, explicada está a relação direta entre a cor negra e a morte prematura, e certamente não só no que se refira às parturientes.
Afinal, trata-se de silogismo dos mais simples: existe uma relação direta entre a cor negra e a pobreza; existe uma relação direta entre a pobreza e a morte prematura. Portanto, existe uma relação direta entre a cor negra e a morte prematura.

E não compreender isso pode soar como ausência da consciência da responsabilidade de toda a sociedade diante da imperiosa necessidade de mudar o terrível quadro 

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

INTERESTELAR

Tempo e espaço. Vida e morte. Unidade e diversidade. A relatividade de todas as coisas... Eis algumas questões sobre as quais somos lançados enquanto assistimos a "Interestelar”.
Apesar das críticas que possam fazer ao filme especialistas em técnicas cinematográficas ou em Cosmologia, o espectador tem grandes chances de ampliar seus horizontes ao perceber-se parte de algo muito maior do que as quatro paredes de sua existência.
E é a própria intuição desse pertencimento que, de alguma maneira, parece se chocar com a visão, no filme, da solitária bandeira americana fincada no solo do planeta a ser colonizado pela e para toda a humanidade...
Afinal, seria verossímil que um dia o homem seja capaz de vencer todas as fronteiras do Tempo e do Espaço em viagens interestelares antes de criar uma bandeira que, afixada por onde quer que passe, represente todos os povos da Terra?

Obs. Pois, no próprio filme, fica clara a relação entre o amor e a possibilidade da intercomunicação entre as muitas dimensões do Universo

terça-feira, 21 de outubro de 2014

A FESTA DA INSIGNIFICÂNCIA

Em “A Festa da Insignificância”, de Milan Kundera, estranhamos a ausência de marcas comuns aos demais romances do autor, seja no que diga respeito à consistência narrativa, ou à complexidade do perfil psicológico de seus personagens.

Aparentemente “insignificante” em si mesmo, o livro, no entanto, acena para um gesto grandioso do escritor. Pois Kundera nos surge grande como sempre ao assumir a publicação dessa história meio gaguejante, meio claudicante... Metáfora em si mesma do próprio envelhecimento que não poupa sequer os grandes escritores?

Diante do absurdo da condição humana, somos todos nós insignificantes, essa é a verdade. E, se assumíssemos isso desde sempre, talvez algumas criaturas não se comportassem de maneira tão feia, muitas vezes durante toda a vida, sempre buscando formas de magoar aqueles que semeiem em seu interior qualquer dúvida sobre suas certezas.

Durante a leitura de “A Festa da Insignificância”, lembramos de Hannah Arendt... E fechamos o livro pensando na relatividade de todas as coisas. Do sucesso. Do fracasso. Da loucura. Da sanidade. Do importante. Do insignificante.
Certos, mais do que nunca, de que, como dizia Pascal , e como sempre pareceu saber Kundera, “só é grande o homem que se sabe pequeno”...

sábado, 18 de outubro de 2014

A ESCOLHA PODE SER SUA

Em artigo publicado no Globo essa semana, intitulado A Era da Vulnerabilidade”, Joseph E. Stiglitz, prêmio nobel de economia, desmascara o mito da ascensão social nos Estados Unidos - ainda o maior representante do Capitalismo Financeiro da atualidade. E, como ultimamente a questão do dito baixo crescimento do PIB tem andado na boca da oposição por aqui, acho interessante registrar a conclusão de seu texto:

“Independentemente da rapidez com que o PIB avança, um sistema econômico que não consegue ganhos para a maioria dos cidadãos, e no qual uma parcela crescente da população enfrenta cada vez mais insegurança, é um sistema econômico falido. E são falidas políticas, como a de austeridade, que aumentam a insegurança e baixam a renda e o padrão de vida de grande parte da população.”

 
Pensando nisso, imagine um país no qual volta e meia surjam escândalos envolvendo o partido do governo. E que, ali, a grande imprensa ajude a investigar e a denunciar os grupos envolvidos em terríveis histórias de corrupção que obviamente arrepiam todo cidadão de bem...

Logo, julgamentos e prisões (no mínimo desmoralizantes) enchem as páginas dos jornais, e o governo sente que precisa amadurecer, precisa vigiar mais e impedir que os enraizados costumes da prática política nacional continuem. Até para não servirem de munição para a mídia flagrantemente de oposição.

Afinal, está acima de tudo um grande projeto: transformar o país em um lugar mais igual, distribuindo-se melhor as riquezas, até o ponto de instituir-se impostos sobre as grandes fortunas, e permitir-se que o ônus por uma sociedade melhor recaia também, e numa justa proporção, sobre os mais ricos. Inclusive, revendo-se – até na própria carne, vejam só! – a questão da Seletividade Punitiva.

 

Agora, imagine um país no qual a grande imprensa não se interesse por divulgar em profundidade certas atividades do governo, simplesmente porque ele representa os seus próprios interesses...

Nesse país, as Leis que sempre foram feitas, seja em seu período colonial, seja durante a escravidão, seja durante a ditadura militar, para proteger as elites, ao invés de passarem a ser cada vez mais elaboradas em nome do bem geral, firmam-se como instrumento da manutenção do status quo, sustentando, por exemplo, LEGALMENTE, em várias instâncias, a mesma e inacreditável lógica dos derivativos negociados pelas Bolsas de Valores. Explorando, expropriando e roubando até a dignidade dos cidadãos mais vulneráveis (vide a crise de 2008).

A tendência, então, nesse país, é que as cadeias continuem a encher apenas de ladrões de galinhas.

 

Agora, pense: EM QUE PAÍS VOCÊ PREFERIRIA VIVER?

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

SEGUNDO TURNO


 O presidente do PSB no Rio Gláuber Rocha, em relação ao declarado apoio de seu partido à candidatura de Aécio Neves, afirmou:

“-A gente se posicionou durante todo esse processo eleitoral como uma alternativa à polarização (PT X PSDB). A adesão não favorece a posição adotada durante toda a campanha. É um erro histórico, que vai contra a trajetória do partido.”
Eu diria ainda que esse erro histórico deixa claro que o que importa para uns muitos aí talvez seja o poder pelo poder...

Sinceramente, a própria discussão sobre a favor de qual candidato os partidos derrotados (mas que obtiveram votação expressiva) irão se posicionar no segundo turno é de dar ânsia de vômito!

Primeiro, porque seria muito mais correto que simplesmente permitissem que cada um de seus membros escolhesse livremente a quem apoiar.

Segundo, porque seria bem menos hipócrita e mais coerente com as diferenças fundamentais de cada partido não fazer acordos em torno de cargos, em função de qualquer fração de um poder já nas mãos daqueles com os quais diziam não comungar: o que o povo pode esperar de um e de outro lado?

Terceiro, porque trocar-se apoio por qualquer item que seja, em se tratando de política, pode parecer, em certa medida, com os ditos mensalões...

Mas, claro, pode ser que eu esteja errada, e que, nesse caso, o costume possa, ou mesmo deva ser respeitado...

De qualquer forma, que enjoativo!, assistir a um Romário, que provavelmente recebeu a maioria de seus votos vinda de fãs, eleitores de menor poder aquisitivo, declarar apoio ao PSDB!

Talvez seja porque ele já se confunde com nossas elites... Qual parte dos funcionários públicos que viram seus proventos engordarem nos últimos governos petistas e, pensando ser “elite” só porque moram em casa própria e viajam regularmente,  votam em partido que não deve demorar a congelar seus salários, ao mesmo tempo em que deverá chamar de contenção de gastos públicos a progressiva diminuição do reajuste do salário mínimo.

Se Marina, então, tiver a coragem (ou a covardia?) de declarar apoio aos tucanos, tenho a impressão de que meu estômago dará um nó.

Ela, com tal gesto, poderá acabar com qualquer chance futura de reunir o mesmo número – ou maior - de eleitores em torno de outra candidatura... Pois tal atitude será uma decepção total, a nos falar do quanto estava errado o Aécio ao afirmar que era ela o mesmo que o PT; a nos dizer, por outro lado, o quanto estava certa a nossa presidenta ao acenar para a aproximação ideológica da candidata do PSB com o PSDB.

Fim de carreira talvez para quem vem tentando apresentar uma imagem à esquerda, a favor de movimentos sociais, a favor da Justiça Social...

E isso é tão assustador quanto assistir ao PV cair nessa desgraça que deve ser para um partido tão simpático às causas humanas apoiar o partido das elites brasileiras... Apenas para unir forças na tentativa de derrubar o PT, com o qual, em algum momento, bateu de frente?

 Palmas, então, para Luciana Genro, para Marcelo Freixo e para outros tantos que sabem pesar suas escolhas; que sabem que a cada momento corresponde um melhor possível. Para o povo. Para o todo. E não para a vaidade de um partido ou de uma pessoa.

Enfim, a grande verdade é que quem parece mesmo com toda a razão é a nossa presidenta Dilma que, apesar de educadamente não dispensar os acordos costumeiros no segundo turno de qualquer eleição, lucidamente decretou:

“- Ninguém é dono do eleitor!”

 

sábado, 4 de outubro de 2014

LUCIANA GENRO

A verdade é que, se houvesse alguma chance de deixarmos o PSDB para trás ao votarmos na Luciana Genro, meu voto certamente iria para ela.




Que discurso claro, humano, objetivo, inteligente, corajoso!




Nessa moça, sobra o que falta, inclusive, na própria Dilma, que, como aqui mesmo no blog tive oportunidade de comentar, em relação a alguns temas importantes, parece bem menos progressista do que esperamos do PT.




No entanto, pelas razões no texto abaixo enumeradas e porque precisamos escolher o melhor dentre os, neste momento, com alguma chance de vencer as próximas eleições, meu voto permanece com a Dilma, desejando que ela seja capaz de, num possível próximo mandato, açambarcar ideias da admirável colega LUCIANA GENRO ( principalmente a respeito da taxação das grandes riquezas; ou aquelas em torno da mulher, da homofobia etc. ), descendo de qualquer muro em que possa haver, pela governabilidade que seja, se posicionado. Indo, enfim, para o tudo ou nada em prol de um verdadeiro governo progressista por todo o povo brasileiro