Sob o título “DESONESTO”, em um desses quadrinhos diários que
veiculam a “Opinião” de seus editores, o Globo ontem publicou o seguinte texto:
“O Ministério da Saúde anuncia que a proporção de mulheres
“negras e pardas” que morrem devido a complicações no parto é maior que a de
mulheres brancas.
Mais uma pesquisa produzida no setor público sob o viés do
racialismo. Soltam-se informações deste tipo, sem maiores explicações, para que
fique subentendida a ideia estapafúrdia de que o fato se deve ao “racismo”.
Quando um minuto de reflexão sem desonestidade intelectual
leva à explicação de que morrem mais negros na rede pública de saúde não por
serem negros, mas por serem pobres e dependerem apenas do SUS.”
Sinceramente, será que o Ministério da Saúde deveria desenhar
a relação estabelecida por sua pesquisa para que fosse melhor compreendida?
Afinal, parece-nos que seja simples assim. É maior o número de negras e pardas que morrem devido a
complicações no parto do que de mulheres brancas porque, em um país onde
durante tanto tempo imperou a escravidão, e no qual apenas muito recentemente
começaram a ser implementadas algumas políticas afirmativas no sentido de
atenuarem o resultado de anos e anos de preconceito e falta de oportunidades,
existem mais mulheres pardas e negras pobres do que mulheres brancas pobres.
E a relação entre a pobreza e a morte prematura, sabemos bem,
não passa simplesmente pelo fato de os pobres “dependerem apenas do SUS”. Passa
por toda uma vida sem os cuidados necessários, sem a alimentação devida, sem o
respeito merecido, sem...
Portanto, explicada está a relação direta entre a cor negra e
a morte prematura, e certamente não só no que se refira às parturientes.
Afinal, trata-se de silogismo dos mais simples: existe uma
relação direta entre a cor negra e a pobreza; existe uma relação direta entre a
pobreza e a morte prematura. Portanto, existe uma relação direta entre a cor
negra e a morte prematura.
E não compreender isso pode soar como ausência da consciência
da responsabilidade de toda a sociedade diante da imperiosa necessidade de
mudar o terrível quadro