Na verdade, os detratores do “politicamente correto” se
valem de evidentes exageros (criados de propósito?) – que acabam por merecer
atenção particular, como aquele recente caso a envolver a obra de Monteiro
Lobato; ou a absurda polêmica em torno de verbetes dos dicionários -, para
confundir a todos. Ridicularizando assim os princípios erigidos em torno da
necessidade da boa convivência, da boa educação e do respeito humano como bases
para a construção de um mundo melhor.
O filósofo Luiz Felipe Pondé é um bom exemplo de figura
conhecida a se exercitar com evidente gozo no sentido de confundir o indivíduo
sensibilizado pelo cada vez mais flagrante caos a permear nossa sociedade. Caos
esse que, em síntese, talvez possamos dizer que se origine exatamente do
desrespeito às diferenças; caracterizado também pela hierarquização humana pautada
na valorização extrema de dotes como dinheiro, poder e beleza.
Seguem alguns comentários em torno das primeiras páginas do
“Guia Politicamente Incorreto da Filosofia”, de Pondé. A leitura que dele faço,
agora iniciada, certamente irá demorar mais do que desejaria, uma vez que tenho
precisado interrompê-la inúmeras vezes para acalmar as minhas náuseas.
1) O referido livro começa com a “confissão de um pecador
irônico”, que logo percebemos considerar-se muito interessante, corajoso e
engraçadinho. Diz ele:
“Estou voando, na classe executiva, não suportaria estar
numa classe econômica, um galinheiro de gente. Costumo dizer que os aeroportos
e os aviões, além de todos os lugares do mundo, viraram um grande churrasco na
laje.”
Pois não é que o tão” privilegiado” senhor, ao se considerar
“o máximo” pela coragem de “pecar” demonstrando seu preconceito em relação aos
pobres – genuíno comportamento politicamente incorreto -, corre o risco de
parecer, dentre outras coisas, terrivelmente infantil?
Ora, ao ser humano foi dado o direito de pensar, sentir e
interpretar; e também foi ele dotado da capacidade de imaginar e fantasiar
qualquer atitude ou ideia em resposta a tais processos. Sendo que, com a
maturidade, ele deveria aprender a filtrar o que precise ou não precise ser
dito ou feito, sempre que a ética e o respeito a outro ser humano o exigir
(vide Umberto Eco, em “Quando o outro entra em cena, nasce a ética”).
De qualquer forma, imagino que
Pondé tenha assumido o acintoso comportamento politicamente incorreto no
momento mesmo em que percebeu que, dentro de um grande número de pessoas, as
mesmas filigranas de intolerância, acompanhadas de fantasias de superioridade,
se faziam presentes. Ele deve ter dito para si mesmo: está aí um bom filão para
aplaudir minha “coragem”; ou seja, todos aqueles que, além de “desprezarem”
tantos seres humanos, desejavam fazer isso em alto e bom som, sem qualquer tipo
do merecido constrangimento; desvirtuando totalmente o sentido da dita
“liberdade de expressão”...
E ele se deve ter dito isso sem, no
entanto, naquele instante, considerar a possibilidade de, em todos os seus
admiradores, existir, como nele mesmo, quase germinada em todas as ocasiões em que
seus valores não os livraram das vicissitudes humanas (ah, a inexplicável vaidade
humana!...; qualquer ser passível de adoecer, esgarçar - ainda que sob cuidados
milionários, envelhecer, apodrecer e morrer não pode se sentir melhor do que
ninguém... A não ser enquanto mergulhado no autoengano de ser imune a tudo isso),
nada mais, nada menos do que a sementinha da dúvida quanto àqueles sentimentos
e ideias... Aos quais decidira dar a sua cara...
Pois, nas profundezas do próprio filósofo e de cada um de
seus fãs, acredito não ser impossível encontrar o homem consciente de que na
classe econômica – daquele avião ou de qualquer outro - não seria difícil
constatar a presença de grande diversidade de criaturas, muitas mais
interessantes humana e/ou intelectualmente, por exemplo, do que muitos dos
refestelados na classe executiva...
2 ) Primeiro capítulo: Pondé confirma a confusão que parece
fazer entre alguém ser agressivo/mal-educado/presunçoso/ignorante, e ser “honesto”,
ao enfatizar o propósito - que parece envaidecê-lo - de desmascarar, a cada
oportunidade, o que, dentro do movimento do politicamente correto, chama de “caso
de hipocrisia a ser revelado”, afirmando nunca haver entendido o que venha a
ser “consciência social”.
Pois consciência social, caro escritor, é simplesmente
consciência de pertencimento. É saber-se parte de algo maior, para muito além
do próprio umbigo. É saber-se de muitas maneiras responsável pela realidade
circundante, respeitando e buscando compreender como partes de nós mesmos inclusive
criaturas que pensam e agem como o senhor.
E fico muito curiosa: será que o senhor é também tão
“honesto” e “espontâneo” ao lidar com poderosos que o incomodem? Ou será que
seria capaz de, ainda que a contragosto, abrir-lhes e segurar-lhes portas?
Enfim, por que será que o senhor se comporta, pelo menos a meu ver, durante os programas
do qual participa, tão contidamente, mesmo quando lhe arrancam a palavra?
Por gentileza e respeito às regras daquele jogo que lhe
interessa?
Pois bem: todos os participantes do jogo social merecem que
sejam contidas toda e qualquer manifestação ofensiva de visão de mundo ou de
absoluta ausência de espiritualidade. É justamente essa a regra número um do
politicamente correto.
Mais à frente, deparamos com declarações do filósofo de
admiração à Islândia, em cujo aeroporto encontrara em propaganda de roupas de inverno o seguinte
texto: “Respeite a natureza, mas não há garantias de que ela o respeitará de
volta”.
Sugeriria ao filósofo, então, que assistisse ao
filme/documentário “Trabalho Interno”, que trata da crise que, em
2008, atingiu drasticamente essa ilha. Pode ser que os responsáveis por tal
mensagem publicitária – quem sabe!? - tenham parcela de responsabilidade no
caos que se instaurou naquelas paragens então.
3) O segundo capítulo é intitulado “Contra a Covardia”, e nele
Pondé defende o comportamento do general Patton, do exército americano, que,
segundo nos informa, teria sido um dos responsáveis pela derrota dos nazistas.
Ironicamente, a atitude do general que Pondé faz questão de
destacar com admiração parece carregar em si flagrantes tendências nazistas:
Patton, em visita a hospital, após importante batalha, congratula o soldado
ferido, e qualifica como covarde aquele que declara ali estar por problemas
emocionais.
Esse fato que, para o filósofo, não seria nada menos do que
o relato do “nascimento do politicamente correto” - uma vez que teria gerado na
sociedade a revolta que viria a fazer com que o exército punisse o general -
leva Pondé ao desabafo: “A praga PC (abreviatura pelo autor utilizada para o politicamente
correto) é uma mistura de covardia, informação falsa e preocupação com a
imagem”.
Ora bolas, muito me engano ou quem parece haver sido covarde
em relação ao soldado debilitado foi o general; e quem pareceu preocupado com a
imagem – “o espectro da ética da coragem...”, no texto – não parece haver sido
ninguém mais do que o mesmo general.
Afinal, quem garante que o soldado ferido não haja sido
atingido enquanto fugia, ou que aquele tão abalado psicologicamente não tenha
assim terminado justamente por haver protegido inúmeros companheiros? Depois, quanto de coragem não seria
necessária a um soldado para admitir qualquer problema em “seus nervos”, sem
qualquer preocupação, vejam só!, com a i-ma-gem!?
E não é que agora me vejo obrigada a sugerir a Pondé a
leitura do livro “O Andar do Bêbado”, de LeonardMlodinov, que belamente trata
da relatividade na coerência das estatísticas? E vejam se não tenho razão,
diante da bobagem que encontramos, ainda nesse segundo capítulo do “Guia” de
Pondé, apresentada sob espécie de silogismo:
“Homens sensíveis também morrem na guerra porque foram
corajosos, logo, o que levou aquele soldado em questão à enfermaria não foi sua
sensibilidade, mas sua covardia”.
O equívoco bárbaro, por óbvio: nem todos os soldados mortos
foram corajosos. Existem muitos corajosos vivos e muitos covardes mortos.
E não é que o filósofo parece haver raciocinado como qualquer
mediana criatura? Pois se acreditamos, por exemplo, que todo homem ou mulher
que traia seu parceiro mente, corremos o risco de, ao descobrirmos nosso
parceiro ou parceira em mentira, tola que seja, podermos vir a padecer da
desconfiança crônica. Ainda que nunca tenhamos sido traídos (vide o citado
livro)...
Adiante, Pondé nos surpreende ainda mais:
“ Por acaso você já
viu um covarde? Talvez no espelho? Já teve vontade de ficar de joelhos diante
de alguém que de fato não teme aquilo que a maioria teme (seja a morte,
representação mais evidente da questão, seja a perda do emprego, o abandono, a
tristeza)?”
Eu acrescentaria a velhice e a dor a esta meiga lista, e ao
autor perguntaria: o senhor acredita se enquadrar dentre os destemidos? Pois
quem realmente perdeu o medo de tais fenômenos enumerados jamais travaria uma
guerra contra o “politicamente correto”. E não falaria o tempo todo em coragem
x covardia. E teria mais compaixão pelo ser humano de modo geral, uma vez que
só perdemos o medo dos citados fenômenos muito depois de percebê-los pairando
sobre as cabeças de todas as criaturas (para algumas, apenas troquemos “emprego”
por “fortuna” ou “sorte”), independente de sua classe, raça, religião, sexo,
idade... É exatamente quando nos percebemos parte de um todo. O que nos iguala
em essência, deixando as diferenças – ainda que fundamentais - em mero segundo
plano.
Quem perde de fato o medo dessa listinha, Pondé, se enche da
coragem genuína e recusa visceralmente os métodos (os soldados de Hitler eram
muitas vezes tão suas vítimas quanto qualquer outro soldado do outro lado da
fronteira. Vide aqui no blog o texto “O Menino do Pijama Listrado”) de qualquer
guerra que não seja aquela em nome de um mundo melhor PARA TODOS. Não ser
nazista é, acima de tudo, se recusar a causar dor, a matar - física, emocional ou moralmente -, a excluir quem quer
que seja. Patton pode haver “vencido” Hitler, mas, ao que parece, dele herdou sua
visão ex-clu-den-te. Leitura indispensável àqueles que têm dificuldade de
compreender que nenhuma ideologia justifica a destruição de outro ser humano é
“O Homem Revoltado”, de Albert Camus...
Examinemos mais uma das afirmações do autor: “A
sensibilidade democrática odeia esta verdade: os homens não são iguais, e os
poucos melhores sempre carregaram a humanidade nas costas”.
Proposital inversão da velha compreensão que temos em forma de pirâmide?... Tentativa de desconstruir a imagem perfeita para a inegável verdade de que a grande maioria explorada sempre carregou os poucos abastados?
A verdade é que, se devemos nos perceber dentro de uma hierarquia, sem a consciência da verdadeira importância de cada uma das partes aparentemente mais insignificantes desse todo chamado humanidade, acabamos realmente incapazes de relativizar a importância de cada poderoso, e nos submetemos.
A verdade é que, se devemos nos perceber dentro de uma hierarquia, sem a consciência da verdadeira importância de cada uma das partes aparentemente mais insignificantes desse todo chamado humanidade, acabamos realmente incapazes de relativizar a importância de cada poderoso, e nos submetemos.
Mas veja: não precisamos nos sentir “melhores”, sequer
“iguais”, apenas “partes”. A não ser que precisemos da ilusão de sermos
“melhores” para – negando o medo - fugirmos da listinha que o senhor mesmo
propôs (vide acima); a não ser que precisemos dessa ilusão para nos esquecermos
de que, se o avião cair, morreremos tal qualmente cada um daqueles para os
quais em nossa sociedade são reservados os “galinheiros”...
De qualquer forma, o que seria do cientista se ele não
pudesse se dedicar inteiramente a seus estudos, caso não contasse com o
trabalho doméstico realizado por sua esposa ou por terceiros; ou ainda com
todos os envolvidos na produção de todos os alimentos ou objetos de que venha a
fazer uso por toda a sua vida?
O que seria dos bilionários da internet se não houvesse
milhões de internautas, em sua maioria simples mortais, para valorizar e utilizar
as suas criações?
O que seria de todo grande industrial ou comerciante se não houvesse
os incontáveis consumidores ávidos por seus produtos, principalmente depois de
atingidos pelas também às custas destes últimos milionárias empresas de
propaganda?
Sem falar que quem escreve sabe que uma boa ideia pode vir
do comentário de alguém muito simples; o pesquisador sabe que muitas vezes é
provocado pela experiência ou pelas necessidades da parcela mais pobre do
planeta; e a Ciência contemporânea, todo nosso desenvolvimento tecnológico não
são senão resultado da soma de muitos pequenos trabalhos anteriores, muitas
vezes nada reconhecidos em sua época. Daria para dizer qual deles teria sido o
mais importante?
E não chegamos ao fim: seriam tão bilionários alguns empreiteiros
se não fosse a mão de obra barata e abundante com que podem contar?
O que seria daqueles que julgam carregar a humanidade se não
pudessem contar com a força do trabalho e/ou com o consumo de tantos “carregados”?
Talvez o que ocorra é que todos nós sejamos de alguma forma
carregados, e precisamos assumir a responsabilidade de carregar também... Jura
que nunca percebeu a genuína alegria nos olhos daqueles que declaram receber
muito mais do que dão daqueles que contam com seus cuidados, com seu apoio, com
seu carinho?
E mais: o que seria de alguns apresentadores da TV se não
fosse o público enorme a ser atingido pela publicidade de seus patrocinadores?
Sem falar dos tantos programas que utilizam alguém do povo como “atração” para
encher as horas de transmissão visando atingir aos seus inúmeros pares...
O que seria daqueles grandes proprietários de terras
sucessivamente passadas em herança, geração após geração, se não fossem os
primeiros de seus ancestrais a terem “coragem” de tomar posse daquilo que
originariamente era de todo mundo; e, claro, se não fosse esse todo mundo que,
talvez mergulhado em outros valores, então, não se tenha dado conta da rasteira
que levava?
O que seria de tantos “marchands” e colecionadores de
milionárias obras de arte se não fossem aqueles artistas que um dia se
dedicaram à sua criação, e morreram pobres, sem saber que, um dia, “carregariam”
tanta gente nas costas?
Quem, afinal, é melhor do que quem?
E o próprio Pondé acaba por se entregar, já no início do
terceiro capítulo, intitulado “Alguns poucos homens são melhores do que a
maioria”:
“O termo aristocracia significa, grosso modo, governo dos virtuosos. Em grego antigo, arete é virtude (força), cracia é governo. Mas o que significa ter arete? Se entendermos a palavra no seu sentido mais pleno, aristoi é aquele que fica de pé por si mesmo porque tem força interior ou caráter.”
“O termo aristocracia significa, grosso modo, governo dos virtuosos. Em grego antigo, arete é virtude (força), cracia é governo. Mas o que significa ter arete? Se entendermos a palavra no seu sentido mais pleno, aristoi é aquele que fica de pé por si mesmo porque tem força interior ou caráter.”
Vejamos, obviamente, com olhos de hoje: “aquele que fica de
pé por si mesmo porque tem força interior ou caráter” não poderia ser compreendido,
de acordo com o visto ao longo do que aqui escrevo, como simplistamente aquele
que paga contas ou produz – visivelmente - riquezas. Talvez devesse ser
compreendido primeiro como aquele que, apesar de tudo, não sucumbe, não se
deixa tornar “mau”, ainda que lhe façam mal; conseguindo manter vivos valores outros
que não os da ganância a culminar sempre na “exploração do homem pelo homem”.
Caro filósofo, reparou como, recentemente, mais uma vez,
tantos de nós manifestaram seu desconforto com a questão do “nada” - princípio
do mundo (desta vez por conta da descoberta da tal “partícula de Deus”)?... O
que seria/haveria antes da famosa explosão? - todos se lembraram de repente de que
sempre disso quiseram saber... Daonde
viemos, afinal?
Eu abraço uma teoria...
O senhor se lembra de que na escola aprendemos a somar números negativos com positivos, e, quando os valores de uns e de outros eram iguais, chegávamos a um delicioso nada?
Pois acredito que o nada primordial seja mera ilusão –
simplesmente por não ser um “nada” - a confundir a humanidade. O que chamamos
“nada” talvez seja, à semelhança de nossas continhas do colégio, mera anulação
de quantidades mediante o reconhecimento de valor semelhante com sinal trocado.
Ou seja: o nada é igual ao tudo. Tudo/todo esse tomado como a unidade
resultante da soma de todos os aspectos do mundo, os mais paradoxais possíveis.
Assim é que não é difícil imaginar que, quando se deu a famosa
“explosão” ( espécie de desequilíbrio entre o bem e o mal? – que persiste e
persiste...), tudo já estava lá, como possibilidade (possibilidade = Deus?),
pronto para se manifestar diante de qualquer sacudida – separadora - naquela
acomodação.
Dessa forma, não parece óbvio o porque da atração (sem falar
do medo da anulação que vem junto) entre os opostos? Não parece óbvio o quanto
devemos celebrar as diferenças, ao invés de desprezá-las ou combatê-las? Não
parece óbvio que, enquanto houver um ser humano sequer jogado em qualquer tipo
de galinheiro, cada outro ser humano, de alguma forma, lá também estará?
Simplesmente porque, como já o afirmou alguém, somos como as ilhas, separadas
na superfície mas completamente ligadas nas profundezas das águas. Assim,
aqueles que o senhor despreza, de certa
forma, caro escritor, talvez sejam sua única chance de, um dia, vir a
contemplar a eternidade...
Sem falar que, neste mundo mesmo, os deslumbrados com o
próprio perfil - sempre preparados para um vitupério -, ao envelhecerem (e olha
que, em geral, as favoráveis condições econômicas dessa parcela da humanidade
acaba por prolongar-lhes em muitos anos a vida ), acabam precisando dos
cuidados de boas criaturas não raro advindas da classe por eles a vida inteira
desprezada. E alguns chegam a chamá-las “mãe!”, ironia!, em seus devaneios de
fragilidade senil...
Bom, se todos pudessem, antes disso, atingir o nível da sabedoria, não é? Sabedoria essa que acaba por jogar por terra toda disputa, toda competição,
pois ela não é nada mais além da consciência de que, aqui, não existem
vencedores; só a Morte vence. Sempre.
Enfim, não poderíamos
deixar passar a ironia com que Pondé comenta a diferença entre as velha e nova esquerdas:
para a velha, a salvação viria do proletariado; para a nova, da inclusão dos
grupos excluídos...
Quanto a mim, acredito que a salvação da humanidade, de uma
ou outra maneira, só será possível mediante a consciência dos filhos das
classes dominantes, que há de se dar paulatinamente diante da certeza de sua
improvável felicidade, a igualá-los o tempo todo com aqueles que seus pais lhes
ensinaram a tratar como inferiores (vide textos no blog).
Segundo Teilhard de Chardin, em seu belíssimo “Fenômeno
Humano”:
“A Saída do Mundo, as portas do futuro, a entrada no
Super-Humano não se abrem para diante a alguns privilegiados apenas, nem a um
só povo eleito entre todos os povos! Elas não cederão senão a um empurrão de
todos juntos, numa direção em que todos juntos se podem reunir e completar numa
renovação espiritual da Terra.”
Que tal se livrar de qualquer autoengano, Pondé, lendo “Autoengano”, do Eduardo Giannetti?
Ou, melhor - já que insiste em classificar os homens como
melhores e piores -, tente refletir sobre a sabedoria de nosso Machado de Assis que,
identificado com Pascal, vivia de repetir: “só é grande o homem que se sabe
pequeno”.
E atenção: vivemos uma época confusa, na qual a direita de sempre muitas vezes consegue vender como progressistas ações perversamente reacionárias, como me parecem ser os ataques ao “politicamente correto”.
E atenção: vivemos uma época confusa, na qual a direita de sempre muitas vezes consegue vender como progressistas ações perversamente reacionárias, como me parecem ser os ataques ao “politicamente correto”.
Sua tática do momento: como dito no texto acima, tentar confundir
a natureza mesma do “politicamente correto”com absurdos como a discussão em
torno de verbetes de nossos dicionários; e, a seguir, tentar se apropriar do
signo “liberdade”, grandemente associado à esquerda no imaginário social, dizendo-se
a favor da “liberdade de expressão”.
O que vemos é a repetição do mesmo desrespeito humano que
sempre pautou as ações da direita, associado ao desejo de legitimar
comportamentos pautados pela discriminação, e pela necessidade não só de se
considerar superior, mas de garantir esse status.
Enfim, quando se vir em dúvida, leitor, pense: a esquerda é –
ou deveria ser - aquela que se identifica com o ser humano de modo geral. É
aquela que se preocupa, que soma, que une, que cuida, que quer um mundo melhor
para todos. Consciente de que liberdade só é liberdade quando é para todos.
A permissão que ora alguns reivindicam para ofender,
humilhar, discriminar não é liberdade de expressão, é abuso de poder.