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quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O Politicamente Correto: espécie de conversa com Luiz Felipe Pondé

O Politicamente Correto, a meu ver, é código de conduta – quase um manual de bom comportamento – necessário, ou melhor, indispensável à proteção daqueles que, em determinadas sociedades, de uma ou outra maneira, permanecem a descoberto, sempre desrespeitados pelos interessados em manter o “status quo” (inclusive muitas vezes apoiados por Leis por eles mesmos criadas).

Na verdade, os detratores do “politicamente correto” se valem de evidentes exageros (criados de propósito?) – que acabam por merecer atenção particular, como aquele recente caso a envolver a obra de Monteiro Lobato; ou a absurda polêmica em torno de verbetes dos dicionários -, para confundir a todos. Ridicularizando assim os princípios erigidos em torno da necessidade da boa convivência, da boa educação e do respeito humano como bases para a construção de um mundo melhor.

O filósofo Luiz Felipe Pondé é um bom exemplo de figura conhecida a se exercitar com evidente gozo no sentido de confundir o indivíduo sensibilizado pelo cada vez mais flagrante caos a permear nossa sociedade. Caos esse que, em síntese, talvez possamos dizer que se origine exatamente do desrespeito às diferenças; caracterizado também pela hierarquização humana pautada na valorização extrema de dotes como dinheiro, poder e beleza.

Seguem alguns comentários em torno das primeiras páginas do “Guia Politicamente Incorreto da Filosofia”, de Pondé. A leitura que dele faço, agora iniciada, certamente irá demorar mais do que desejaria, uma vez que tenho precisado interrompê-la inúmeras vezes para acalmar as minhas náuseas.

1) O referido livro começa com a “confissão de um pecador irônico”, que logo percebemos considerar-se muito interessante, corajoso e engraçadinho. Diz ele:

“Estou voando, na classe executiva, não suportaria estar numa classe econômica, um galinheiro de gente. Costumo dizer que os aeroportos e os aviões, além de todos os lugares do mundo, viraram um grande churrasco na laje.”

Pois não é que o tão” privilegiado” senhor, ao se considerar “o máximo” pela coragem de “pecar” demonstrando seu preconceito em relação aos pobres – genuíno comportamento politicamente incorreto -, corre o risco de parecer, dentre outras coisas, terrivelmente infantil?

Ora, ao ser humano foi dado o direito de pensar, sentir e interpretar; e também foi ele dotado da capacidade de imaginar e fantasiar qualquer atitude ou ideia em resposta a tais processos. Sendo que, com a maturidade, ele deveria aprender a filtrar o que precise ou não precise ser dito ou feito, sempre que a ética e o respeito a outro ser humano o exigir (vide Umberto Eco, em “Quando o outro entra em cena, nasce a ética”).

De qualquer forma, imagino que Pondé tenha assumido o acintoso comportamento politicamente incorreto no momento mesmo em que percebeu que, dentro de um grande número de pessoas, as mesmas filigranas de intolerância, acompanhadas de fantasias de superioridade, se faziam presentes. Ele deve ter dito para si mesmo: está aí um bom filão para aplaudir minha “coragem”; ou seja, todos aqueles que, além de “desprezarem” tantos seres humanos, desejavam fazer isso em alto e bom som, sem qualquer tipo do merecido constrangimento; desvirtuando totalmente o sentido da dita “liberdade de expressão”...

E ele se deve ter dito isso sem, no entanto, naquele instante, considerar a possibilidade de, em todos os seus admiradores, existir, como nele mesmo, quase germinada em todas as ocasiões em que seus valores não os livraram das vicissitudes humanas (ah, a inexplicável vaidade humana!...; qualquer ser passível de adoecer, esgarçar - ainda que sob cuidados milionários, envelhecer, apodrecer e morrer não pode se sentir melhor do que ninguém... A não ser enquanto mergulhado no autoengano de ser imune a tudo isso), nada mais, nada menos do que a sementinha da dúvida quanto àqueles sentimentos e ideias... Aos quais decidira dar a sua cara...

Pois, nas profundezas do próprio filósofo e de cada um de seus fãs, acredito não ser impossível encontrar o homem consciente de que na classe econômica – daquele avião ou de qualquer outro - não seria difícil constatar a presença de grande diversidade de criaturas, muitas mais interessantes humana e/ou intelectualmente, por exemplo, do que muitos dos refestelados na classe executiva...  

2 ) Primeiro capítulo: Pondé confirma a confusão que parece fazer entre alguém ser agressivo/mal-educado/presunçoso/ignorante, e ser “honesto”, ao enfatizar o propósito - que parece envaidecê-lo - de desmascarar, a cada oportunidade, o que, dentro do movimento do politicamente correto, chama de “caso de hipocrisia a ser revelado”, afirmando nunca haver entendido o que venha a ser “consciência social”.

Pois consciência social, caro escritor, é simplesmente consciência de pertencimento. É saber-se parte de algo maior, para muito além do próprio umbigo. É saber-se de muitas maneiras responsável pela realidade circundante, respeitando e buscando compreender como partes de nós mesmos inclusive criaturas que pensam e agem como o senhor.

E fico muito curiosa: será que o senhor é também tão “honesto” e “espontâneo” ao lidar com poderosos que o incomodem? Ou será que seria capaz de, ainda que a contragosto, abrir-lhes e segurar-lhes portas? Enfim, por que será que o senhor se comporta, pelo menos a meu ver, durante os programas do qual participa, tão contidamente, mesmo quando lhe arrancam a palavra?

Por gentileza e respeito às regras daquele jogo que lhe interessa?

Pois bem: todos os participantes do jogo social merecem que sejam contidas toda e qualquer manifestação ofensiva de visão de mundo ou de absoluta ausência de espiritualidade. É justamente essa a regra número um do politicamente correto.

Mais à frente, deparamos com declarações do filósofo de admiração à Islândia, em cujo aeroporto encontrara em  propaganda de roupas de inverno o seguinte texto: “Respeite a natureza, mas não há garantias de que ela o respeitará de volta”.

Sugeriria ao filósofo, então, que assistisse ao filme/documentário “Trabalho Interno”, que trata da crise que, em 2008, atingiu drasticamente essa ilha. Pode ser que os responsáveis por tal mensagem publicitária – quem sabe!? - tenham parcela de responsabilidade no caos que se instaurou naquelas paragens então.

3) O segundo capítulo é intitulado “Contra a Covardia”, e nele Pondé defende o comportamento do general Patton, do exército americano, que, segundo nos informa, teria sido um dos responsáveis pela derrota dos nazistas.

Ironicamente, a atitude do general que Pondé faz questão de destacar com admiração parece carregar em si flagrantes tendências nazistas: Patton, em visita a hospital, após importante batalha, congratula o soldado ferido, e qualifica como covarde aquele que declara ali estar por problemas emocionais.

Esse fato que, para o filósofo, não seria nada menos do que o relato do “nascimento do politicamente correto” - uma vez que teria gerado na sociedade a revolta que viria a fazer com que o exército punisse o general - leva Pondé ao desabafo: “A praga PC (abreviatura pelo autor utilizada para o politicamente correto) é uma mistura de covardia, informação falsa e preocupação com a imagem”.

Ora bolas, muito me engano ou quem parece haver sido covarde em relação ao soldado debilitado foi o general; e quem pareceu preocupado com a imagem – “o espectro da ética da coragem...”, no texto – não parece haver sido ninguém mais do que o mesmo general.

Afinal, quem garante que o soldado ferido não haja sido atingido enquanto fugia, ou que aquele tão abalado psicologicamente não tenha assim terminado justamente por haver protegido inúmeros companheiros?  Depois, quanto de coragem não seria necessária a um soldado para admitir qualquer problema em “seus nervos”, sem qualquer preocupação, vejam só!, com a i-ma-gem!?

E não é que agora me vejo obrigada a sugerir a Pondé a leitura do livro “O Andar do Bêbado”, de LeonardMlodinov, que belamente trata da relatividade na coerência das estatísticas? E vejam se não tenho razão, diante da bobagem que encontramos, ainda nesse segundo capítulo do “Guia” de Pondé, apresentada sob espécie de silogismo:

“Homens sensíveis também morrem na guerra porque foram corajosos, logo, o que levou aquele soldado em questão à enfermaria não foi sua sensibilidade, mas sua covardia”.

O equívoco bárbaro, por óbvio: nem todos os soldados mortos foram corajosos. Existem muitos corajosos vivos e muitos covardes mortos.

E não é que o filósofo parece haver raciocinado como qualquer mediana criatura? Pois se acreditamos, por exemplo, que todo homem ou mulher que traia seu parceiro mente, corremos o risco de, ao descobrirmos nosso parceiro ou parceira em mentira, tola que seja, podermos vir a padecer da desconfiança crônica. Ainda que nunca tenhamos sido traídos (vide o citado livro)...

Adiante, Pondé nos surpreende ainda mais:

 “ Por acaso você já viu um covarde? Talvez no espelho? Já teve vontade de ficar de joelhos diante de alguém que de fato não teme aquilo que a maioria teme (seja a morte, representação mais evidente da questão, seja a perda do emprego, o abandono, a tristeza)?”

Eu acrescentaria a velhice e a dor a esta meiga lista, e ao autor perguntaria: o senhor acredita se enquadrar dentre os destemidos? Pois quem realmente perdeu o medo de tais fenômenos enumerados jamais travaria uma guerra contra o “politicamente correto”. E não falaria o tempo todo em coragem x covardia. E teria mais compaixão pelo ser humano de modo geral, uma vez que só perdemos o medo dos citados fenômenos muito depois de percebê-los pairando sobre as cabeças de todas as criaturas (para algumas, apenas troquemos “emprego” por “fortuna” ou “sorte”), independente de sua classe, raça, religião, sexo, idade... É exatamente quando nos percebemos parte de um todo. O que nos iguala em essência, deixando as diferenças – ainda que fundamentais - em mero segundo plano.

Quem perde de fato o medo dessa listinha, Pondé, se enche da coragem genuína e recusa visceralmente os métodos (os soldados de Hitler eram muitas vezes tão suas vítimas quanto qualquer outro soldado do outro lado da fronteira. Vide aqui no blog o texto “O Menino do Pijama Listrado”) de qualquer guerra que não seja aquela em nome de um mundo melhor PARA TODOS. Não ser nazista é, acima de tudo, se recusar a causar dor, a matar - física, emocional ou moralmente -, a excluir quem quer que seja. Patton pode haver “vencido” Hitler, mas, ao que parece, dele herdou sua visão ex-clu-den-te. Leitura indispensável àqueles que têm dificuldade de compreender que nenhuma ideologia justifica a destruição de outro ser humano é “O Homem Revoltado”, de Albert Camus...

Examinemos mais uma das afirmações do autor: “A sensibilidade democrática odeia esta verdade: os homens não são iguais, e os poucos melhores sempre carregaram a humanidade nas costas”.

Proposital inversão da velha compreensão que temos em forma de pirâmide?... Tentativa de desconstruir a imagem perfeita para a inegável verdade de que a grande maioria explorada sempre carregou os poucos abastados?

A verdade é que, se devemos nos perceber dentro de uma hierarquia, sem a consciência da verdadeira importância de cada uma das partes aparentemente mais insignificantes desse todo chamado humanidade, acabamos realmente incapazes de relativizar a importância de cada poderoso, e nos submetemos.

Mas veja: não precisamos nos sentir “melhores”, sequer “iguais”, apenas “partes”. A não ser que precisemos da ilusão de sermos “melhores” para – negando o medo - fugirmos da listinha que o senhor mesmo propôs (vide acima); a não ser que precisemos dessa ilusão para nos esquecermos de que, se o avião cair, morreremos tal qualmente cada um daqueles para os quais em nossa sociedade são reservados os “galinheiros”...

De qualquer forma, o que seria do cientista se ele não pudesse se dedicar inteiramente a seus estudos, caso não contasse com o trabalho doméstico realizado por sua esposa ou por terceiros; ou ainda com todos os envolvidos na produção de todos os alimentos ou objetos de que venha a fazer uso por toda a sua vida?

O que seria dos bilionários da internet se não houvesse milhões de internautas, em sua maioria simples mortais, para valorizar e utilizar as suas criações?

O que seria de todo grande industrial ou comerciante se não houvesse os incontáveis consumidores ávidos por seus produtos, principalmente depois de atingidos pelas também às custas destes últimos milionárias empresas de propaganda?

Sem falar que quem escreve sabe que uma boa ideia pode vir do comentário de alguém muito simples; o pesquisador sabe que muitas vezes é provocado pela experiência ou pelas necessidades da parcela mais pobre do planeta; e a Ciência contemporânea, todo nosso desenvolvimento tecnológico não são senão resultado da soma de muitos pequenos trabalhos anteriores, muitas vezes nada reconhecidos em sua época. Daria para dizer qual deles teria sido o mais importante?

E não chegamos ao fim: seriam tão bilionários alguns empreiteiros se não fosse a mão de obra barata e abundante com que podem contar?

O que seria daqueles que julgam carregar a humanidade se não pudessem contar com a força do trabalho e/ou com o consumo de tantos “carregados”?

Talvez o que ocorra é que todos nós sejamos de alguma forma carregados, e precisamos assumir a responsabilidade de carregar também... Jura que nunca percebeu a genuína alegria nos olhos daqueles que declaram receber muito mais do que dão daqueles que contam com seus cuidados, com seu apoio, com seu carinho?

E mais: o que seria de alguns apresentadores da TV se não fosse o público enorme a ser atingido pela publicidade de seus patrocinadores? Sem falar dos tantos programas que utilizam alguém do povo como “atração” para encher as horas de transmissão visando atingir aos seus inúmeros pares...

O que seria daqueles grandes proprietários de terras sucessivamente passadas em herança, geração após geração, se não fossem os primeiros de seus ancestrais a terem “coragem” de tomar posse daquilo que originariamente era de todo mundo; e, claro, se não fosse esse todo mundo que, talvez mergulhado em outros valores, então, não se tenha dado conta da rasteira que levava?

O que seria de tantos “marchands” e colecionadores de milionárias obras de arte se não fossem aqueles artistas que um dia se dedicaram à sua criação, e morreram pobres, sem saber que, um dia, “carregariam” tanta gente nas costas?

Quem, afinal, é melhor do que quem?

E o próprio Pondé acaba por se entregar, já no início do terceiro capítulo, intitulado “Alguns poucos homens são melhores do que a maioria”:

“O termo aristocracia significa, grosso modo, governo dos virtuosos. Em grego antigo, arete é virtude (força), cracia é governo. Mas o que significa ter arete? Se entendermos a palavra no seu sentido mais pleno, aristoi é aquele que fica de pé por si mesmo porque tem força interior ou caráter.”

Vejamos, obviamente, com olhos de hoje: “aquele que fica de pé por si mesmo porque tem força interior ou caráter” não poderia ser compreendido, de acordo com o visto ao longo do que aqui escrevo, como simplistamente aquele que paga contas ou produz – visivelmente - riquezas. Talvez devesse ser compreendido primeiro como aquele que, apesar de tudo, não sucumbe, não se deixa tornar “mau”, ainda que lhe façam mal; conseguindo manter vivos valores outros que não os da ganância a culminar sempre na “exploração do homem pelo homem”.

Caro filósofo, reparou como, recentemente, mais uma vez, tantos de nós manifestaram seu desconforto com a questão do “nada” - princípio do mundo (desta vez por conta da descoberta da tal “partícula de Deus”)?... O que seria/haveria antes da famosa explosão? - todos se lembraram de repente de que sempre disso quiseram saber...  Daonde viemos, afinal?

Eu abraço uma teoria...

O senhor se lembra de que na escola aprendemos a somar números negativos com positivos, e, quando os valores de uns e de outros eram iguais, chegávamos a um delicioso nada?

Pois acredito que o nada primordial seja mera ilusão – simplesmente por não ser um “nada” - a confundir a humanidade. O que chamamos “nada” talvez seja, à semelhança de nossas continhas do colégio, mera anulação de quantidades mediante o reconhecimento de valor semelhante com sinal trocado. Ou seja: o nada é igual ao tudo. Tudo/todo esse tomado como a unidade resultante da soma de todos os aspectos do mundo, os mais paradoxais possíveis.

Assim é que não é difícil imaginar que, quando se deu a famosa “explosão” ( espécie de desequilíbrio entre o bem e o mal? – que persiste e persiste...), tudo já estava lá, como possibilidade (possibilidade = Deus?), pronto para se manifestar diante de qualquer sacudida – separadora - naquela acomodação.

Dessa forma, não parece óbvio o porque da atração (sem falar do medo da anulação que vem junto) entre os opostos? Não parece óbvio o quanto devemos celebrar as diferenças, ao invés de desprezá-las ou combatê-las? Não parece óbvio que, enquanto houver um ser humano sequer jogado em qualquer tipo de galinheiro, cada outro ser humano, de alguma forma, lá também estará? Simplesmente porque, como já o afirmou alguém, somos como as ilhas, separadas na superfície mas completamente ligadas nas profundezas das águas. Assim, aqueles que o senhor despreza,  de certa forma, caro escritor, talvez sejam sua única chance de, um dia, vir a contemplar a eternidade...

Sem falar que, neste mundo mesmo, os deslumbrados com o próprio perfil - sempre preparados para um vitupério -, ao envelhecerem (e olha que, em geral, as favoráveis condições econômicas dessa parcela da humanidade acaba por prolongar-lhes em muitos anos a vida ), acabam precisando dos cuidados de boas criaturas não raro advindas da classe por eles a vida inteira desprezada. E alguns chegam a chamá-las “mãe!”, ironia!, em seus devaneios de fragilidade senil...

Bom, se todos pudessem, antes disso, atingir o nível da sabedoria, não é? Sabedoria essa que acaba por jogar por terra toda disputa, toda competição, pois ela não é nada mais além da consciência de que, aqui, não existem vencedores; só a Morte vence. Sempre.

Enfim,  não poderíamos deixar passar a ironia com que Pondé comenta  a diferença entre as velha e nova esquerdas: para a velha, a salvação viria do proletariado; para a nova, da inclusão dos grupos excluídos...

Quanto a mim, acredito que a salvação da humanidade, de uma ou outra maneira, só será possível mediante a consciência dos filhos das classes dominantes, que há de se dar paulatinamente diante da certeza de sua improvável felicidade, a igualá-los o tempo todo com aqueles que seus pais lhes ensinaram a tratar como inferiores (vide textos no blog).

Segundo Teilhard de Chardin, em seu belíssimo “Fenômeno Humano”:

“A Saída do Mundo, as portas do futuro, a entrada no Super-Humano não se abrem para diante a alguns privilegiados apenas, nem a um só povo eleito entre todos os povos! Elas não cederão senão a um empurrão de todos juntos, numa direção em que todos juntos se podem reunir e completar numa renovação espiritual da Terra.”

Que tal se livrar de qualquer autoengano, Pondé,  lendo “Autoengano”, do Eduardo Giannetti?

Ou, melhor - já que insiste em classificar os homens como melhores e piores -, tente refletir sobre a sabedoria de nosso Machado de Assis que, identificado com Pascal, vivia de repetir: “só é grande o homem que se sabe pequeno”.


E atenção: vivemos uma época confusa, na qual a direita de sempre muitas vezes consegue vender como progressistas ações perversamente reacionárias, como me parecem ser os ataques ao “politicamente correto”.


Sua tática do momento: como dito no texto acima, tentar confundir a natureza mesma do “politicamente correto”com absurdos como a discussão em torno de verbetes de nossos dicionários; e, a seguir, tentar se apropriar do signo “liberdade”, grandemente associado à esquerda no imaginário social, dizendo-se a favor da “liberdade de expressão”.


O que vemos é a repetição do mesmo desrespeito humano que sempre pautou as ações da direita, associado ao desejo de legitimar comportamentos pautados pela discriminação, e pela necessidade não só de se considerar superior, mas de garantir esse status.


Enfim, quando se vir em dúvida, leitor, pense: a esquerda é – ou deveria ser - aquela que se identifica com o ser humano de modo geral. É aquela que se preocupa, que soma, que une, que cuida, que quer um mundo melhor para todos. Consciente de que liberdade só é liberdade quando é para todos.


A permissão que ora alguns reivindicam para ofender, humilhar, discriminar não é liberdade de expressão, é abuso de poder.