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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

"Quando me apaixono"

Sinceramente, não posso compreender por que “Quando me apaixono” não logrou o sucesso merecido.

Todas as críticas que cheguei a ler concluíram tratar-se de um filme "feminino" em torno da maternidade, ou, no máximo, sobre a questão da adoção; além de manifestarem alguma perplexidade diante de uma Helen Hunt completamente sem maquiagem e de um Salman Rushdie numa pontinha de médico...

Será possível que ninguém associou a “piada” que inicia e fecha a película tanto à presença do escritor de “Versos Satânicos” quanto à nenhuma produção da imagem da atriz? Será que ninguém percebeu que “Quando me apaixono” é na verdade um filme sobre a FÉ?

A historinha da abertura é mais ou menos assim: o pai pede ao filho pequeno que suba um degrau da escada e, em confiança, pule, a seguir, em seus braços. Assim, de degrau em degrau. Quando o menino se joga, afinal, de altura considerável, o pai se afasta, deixando-o estatelar-se no chão, sob a macabra pergunta: “Aprendeu a lição?”

A princípio, podemos pensar que tal lição seja a fria conclusão de que, na vida, não se pode confiar em ninguém, nem no próprio pai. E nos assustamos...

Aonde, então, o Deus amoroso, que deveria nos proteger de todo o mal?

É diante de tal questão, após seguidas perdas a abalarem sua fé, que se vê April, a personagem de Helen Hunt. Mas ela acaba sendo confrontada – com a ajuda da mãe biológica recém encontrada - com a necessidade de reconhecer que Deus é Amor, sim. Mas talvez seja também Temor. Simples e Complicado... De certa forma, exatamente como ela própria e como aqueles que a cercam: capazes de amar e de trair...

Ao final do filme, sabemos que a historinha pode ser mais libertadora do que amedrontadora. Só quem sabe que a qualquer momento pode ser magoado é que realmente se torna capaz de amar, de perdoar. Só quem sabe que, “querendo ou sem querer”, pode vir a trair, de alguma maneira, inclusive aqueles que ama, torna-se realmente capaz de dar, de receber, e também de evitar a traição.

A lição "dura" transmitida pela metáfora judaica, enfim, talvez fale da Unidade, da compreensão e da aceitação de nós mesmos, de nosso próximo e da VIDA em sua totalidade.

Tudo a ver com o rosto lavado e belamente envelhecido de Helen Hunt.

( Em "O Sagrado", livro do rabino Nilton Bonder, encontramos fundamentos para essa teoria:

"É sem dúvida impressionante a grandeza de um ser que pensa e que consegue não se colocar no topo de nenhuma cadeia ou pirâmide. Há nobreza no pensamento que não se enreda em autovalorização e autoglorificação e se submete a uma incessante auditoria para não se corromper por seus próprios desejos. Não somos especiais e esse é o segredo do segredo." )

O título do filme em Português poderia ser melhor escolhido.

domingo, 21 de novembro de 2010

Cristovam Buarque ( 2 )

Em artigo intitulado “Gordura e crescimento”, publicado no jornal O Globo do último sábado, o senador Cristovam Buarque traça um interessantíssimo paralelo entre o excesso de gordura em nossas cinturas, sabidamente pernicioso, e a gordura acumulada pelas sociedades capitalistas.

As cinturas, em sociedades desiguais como a nossa, seriam as classes mais favorecidas, que representam os 20% que consomem, segundo o senador, 85% de todos os bens produzidos... Segundo o texto, tal concentração não pode ser considerada positiva, resultando em espécies de dores e tumores por todo o corpo social.

Ficamos sabendo ainda, durante a leitura do referido artigo, que andam em busca de um outro indicador para o progresso, em vista do total contraste da valorização do PIB com essa nova consciência – uma possibilidade seria o IDH -; e também que a Europa discute espécie de “Decrescimento Feliz”, que se resumiria no "decrescimento da produção de bens materiais e privados, com aumento na oferta de bens e serviços públicos e culturais".

Cristovam Buarque não se esquece de ressaltar que esse decrescimento, numa sociedade tão desigual como a nossa, não poderia ser linear, levando-nos a deduzir que, paralelamente a ele, ou antes dele, seria necessário implementar-se algumas reformas ( aquelas previstas no último Plano Nacional de Direitos Humanos? ).

Enfim, mesmo sabendo o quanto a novidade encontrará resistência, sabemos que o primeiro passo, que é pensar-se seriamente sobre o assunto, já foi dado. E, afinal, como lembra o senador, se houve um tempo em que as pessoas muito gordas eram símbolos de saúde, riqueza e satisfação, e hoje essa visão acabou por se inverter, é claro que podemos ter esperança.

Cristovam Buarque ( 1 )

Parece que o senador Cristovam Buarque apresentou projeto de lei que obriga todo político eleito ( prefeitos, vereadores e deputados ) a colocarem seus filhos nas escolas públicas de suas cidades.

Excelente ideia, que deveria desde já receber todo o apoio possível. Seus presumidos efeitos, eu não preciso sequer enumerar...

Em texto intitulado “Sobre as Cotas”, julho/09, eu sugiro outra também interessante forma de levarmos cada um de nossos legítimos representantes a agir como tal. Veja no trecho abaixo:

“Assim é que fico imaginando o que poderia ser feito, paralelamente ao estabelecimento do sistema de cotas, no sentido de que dele pudéssemos abrir mão o mais breve possível. E não consigo imaginar seguimento da sociedade com mais DIREITO e OBRIGAÇÃO de participar diretamente desse momento do que nossos políticos.

Simplesmente porque se, escolhidos pelo povo - sobre o qual pesa toda a amorfa culpa histórica de que falávamos -, acabam usufruindo de inumeráveis benefícios, nada mais justo do que, também como nossos representantes, serem obrigados a contribuir com uma porcentagem da verba destinada a seus gabinetes ( que no Brasil parece ser três vezes maior do que nos países de primeiro mundo ) ou de seus salários, com o objetivo de criar condições, a médio prazo, de nossos jovens negros e pobres poderem ingressar por mérito nos cursos superiores de sua escolha.

Essa contribuição, além de destinar-se à melhoria da qualidade do ensino de modo geral, incluindo-se aí uma atenção aos cursos de formação de professores, poderia ter ainda um destino revolucionário.

Fico imaginando a possibilidade de uma MESADA a ser oferecida a cada aluno da rede pública, em pequenas parcelas diárias ou ao final de cada semana de aula ( garantindo sua presença na escola ), para que ele pudesse ter condições similares às de nossos filhos diante da rotina escolar: lanche ( além da merenda oferecida pela escola – por que não? ), material, LIVROS, passagens ( eles não precisam ir apenas à escola ), CINEMA, xeroxes, DIGNIDADE. O que, por acréscimo, ao desonerar suas famílias, acabaria por melhorar expressivamente sua qualidade de vida e, automaticamente, o aproveitamento dos estudantes.

Claro que cada aluno seria observado por assistentes sociais, psicólogos e professores no sentido de se identificar se estaria adquirindo o material necessário aos estudos, bem como andando limpo e alimentado. E, dentre os inúmeros benefícios de tal medida, registre-se que muitos desses jovens deixariam de ser alvo fácil de qualquer grupo que desejasse cooptá-los para o crime, acenando-lhes com dinheiro sujo e prazo de validade estreito. A escolha seria rápida: sua mesada, além de limpa, a acenar-lhes com a possibilidade do futuro.

Registre-se também que ninguém poderia acusar tal medida de “paternalista”, justamente porque é o que seria mesmo ela, uma vez que, em última análise, somos todos e cada um de nós, adultos, de certa forma, "paternalmente" responsáveis por cada criança que nos há de suceder no tempo e na História.”

VOVÓ ( 2 )

Acabo de receber simpático e-mail do amigo Saint-Clair Machado de Mello, que mantém o blog "Asfalto e Mato" ( com o nome dele e o nome de seu blog, no Google, vocês chegam lá ), sobre a minha tentativa de por em palavras a emoção de ser avó.

Ele, que já é avô há algum tempo, sabiamente me aconselha a esperar pela concretização do fato para escrever sobre o assunto, pois será quando a emoção, em suas palavras, definir-se-á como "um amor acachapante antes da derrocada final do ser humano".

Lindo! Lindo! Lindo!

Infelizmente, da mesma forma que a paternidade e a maternidade não sensibilizam alguns dentre nós, imagino que o poder do sentimento “voterno” não esteja acessível a todos aqueles que começam a ver seus filhos se multiplicarem...

Quanto a mim, cujo papel de mãe sempre foi a prioridade da minha vida, imagino que realmente irei a nocaute quando vir meu neto nos braços de sua mãe... Quando pegar o nosso reizinho em meus braços...

Segundo Freud, três grandes golpes foram desferidos, ao longo da História, na vaidade humana: além da descrição, feita por ele mesmo, do inconsciente, que levava o homem à certeza de não ser senhor em sua própria casa, a constatação, de Copérnico, sobre a Terra não ser o centro do Universo, e os estudos de Darwin, segundo os quais descendemos do macaco...

Fico pensando que muitos parecem se haver protegido de tais golpes com mais vaidade ainda... A ponto de tentarem hoje vencer também o tempo, inclusive recusando-se a assumir o papel de avós... Como se não quisessem deixar o lugar - ilusório? - de protagonistas...; preferindo abrir mão da dádiva de se sentarem na privilegiada cadeira dos derretidos espectadores...

Se apenas prestássemos atenção à fugacidade de nossas vidas – a "derrocada final" sempre está à espreita -, isso bastaria para nos tornarmos humildes, independente de termos vindo ou não dos macacos, ou de sermos movidos por acontecimentos dos quais não temos a menor lembrança... Pois o simples fato de aceitarmos nosso fim - iminente como o de qualquer ser humano - levar-nos-ia à permanente consciência e consequente aceitação de não sermos o centro do Mundo. E pronto.

Sabe, acredito que o amor por nossos netos, tão fortemente quanto o amor por nossos filhos, seja espécie de ensaio para o amor universal, também porque nos oferece, carinhosamente, através desse “amor acachapante antes da derrocada final”, a consciência de que sempre chega a hora de passarmos nossa "coroa"...

A verdade é que mesmo aqueles dentre nós que nunca tiveram filhos, se olhassem a sua volta de coração aberto, teriam a oportunidade de perceber – na beleza e nos sonhos dos jovens e na pureza e alegria de todas as crianças ( postos permanentemente revezados ) - que não há por que lançarem mão de tantos recursos, teimosos em não ceder o seu lugar às gerações que seguem...

Pois não existe sentimento que possa justificar mais a vida de um homem do que o sentimento da sucessão humana, a levá-lo à consciência da única razão possível para que haja nascido: colaborar na construção de um mundo melhor não para si mesmo, mas para aqueles que vêm depois. Sejam eles seus filhos e netos, ou não.

sábado, 20 de novembro de 2010

VOVÓ ( 1 )

Perplexidades à parte, fiquemos com o que realmente importa: já me sinto avó desde que minha filha resolveu engravidar...

Mas agora, que começamos a contagem regressiva, simplesmente não consigo colocar em palavras o que sinto.

Mas hei de tentar!

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Querido John

O fato é que cada vez me convenço mais de que estar entre os livros mais vendidos ou dentre os filmes mais assistidos nem sempre tem a ver com a qualidade da obra...

“Querido John”, que acabo de assistir e imagino que o livro não seja muito diferente, pode ser resumido em duas palavras: superficial e piegas.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Aritmética Emocional

Bom filme!

Algumas contas precisam ser feitas... E todos os sofrimentos devem ser respeitados.

TODOS!

Mary e Max

Muito interessante!

Mas, apesar de ser espécie de desenho animado, nada apropriado para crianças.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

FRACASSO(?)

De vez em quando, penso em parar com o blog... Essa minha necessidade de falar de minhas impressões, de dizer o que sinto e penso, às vezes me deixa preocupada...

Principalmente quando vejo pessoas que, como o jornalista/cineasta Arnaldo Jabor, parecem não saber ouvir, sobre seu trabalho ou ações, opiniões que, sob seu próprio ponto de vista, não lhes sejam favoráveis ou destoem da imagem que fazem questão de ter ( e de impor aos outros ) de si mesmas.

O referido jornalista/cineasta manifesta seu descontentamento, em relação, por exemplo, aos comentários pouco elogiosos a seu recém-lançado filme “A suprema felicidade”, através de sua coluna no jornal O Globo... O artigo que me levou às presentes reflexões intitula-se “Patrulhas ideológicas e patrulhas pop” e foi publicado na última terça-feira.

E fico pensando que aqueles que, não sabendo receber críticas e não tendo qualquer habilidade com as palavras, ou qualquer dom criativo, através dos quais possam expressar seu orgulho ferido(?), possam lançar mão de artifícios outros – trotes telefônicos? - com o único intuito de desconfortar os que, de uma ou outra maneira, acabem por “revelá-los”, ainda que por tabela.

De qualquer forma, acabo concluindo mesmo é que a mediocridade humana existe e que todo mundo que escreve ou diz o que pensa e sente acaba tendo de aprender a lidar com ela...

Por outro lado, no entanto, mais difícil de compreender é como criaturas nada medíocres, como certamente é o caso do jornalista/cineasta Arnaldo Jabor, possam prestar-se ao papel de responder com tamanha revolta àqueles que não puderam ver em seu filme aquilo que talvez a princípio desejassem...

Vejam estes trechos, do texto do cineasta, que se referem a um dos críticos de “A suprema felicidade”:

“Sei que grandes frustrações na vida se compensam por elusivas fantasias de grandeza. Sei que a onipotência não realizada, o narcisismo que parou no meio provocam ódio, e entendo que ele tenha buscado, digamos, 'profissionalizar' seu rancor. Assim ele descolou esse 'bico' para aliviar sua dor interna.”

“’A dignidade severa é o último refúgio dos fracassados.’”

Sinceramente, em alguns momentos, parece que podemos voltar suas palavras para sua própria demonstração de intolerância ( justo Jabor, que sabe melhor do que ninguém agudamente criticar ) com a variedade de opiniões possíveis aos diferentes seres humanos, diante da mesma situação, do mesmo fato, da mesma obra de arte...

Quanto à última afirmação, sugeriria ao jornalista/cineasta ( que respeito acima de tudo pela lembrança de belos textos seus produzidos em uma sua outra fase ) a leitura do livro “A corrosão do caráter”, de Richard Sennett.

Nesse livro, o autor consegue relativizar o conceito de “fracasso”, mostrando como ele está associado ao sistema, aos valores capitalistas... Dentre as inúmeras e profundas conclusões que tiramos de seus capítulos, uma das principais talvez seja que o maior de todos os fracassos é não sermos capazes de assumir qualquer um de seus tipos. E todos sabemos que uma boa bilheteria nem sempre é prova do sucesso de um filme, a não ser que o único objetivo dos envolvidos em sua produção possa ser em cifras colocado.

Encerro com uma frase de Sennett:

“Quando as pessoas acham vergonhoso estar em necessidade, podem tornar-se mais decididamente desconfiadas das demais.”

domingo, 7 de novembro de 2010

Ônibus 174

Acabo de assistir ao filme “Ônibus 174”, e fiquei abismada, ao constatar que seu diretor é o mesmo José Padilha de “Tropa de Elite 2”...

Se eu tivesse capacidade para conduzir um roteiro como esse, certamente me prepararia para aprofundar, em outro filme, as teorias nele suscitadas - em vista de desgraças como aquela -, em torno da responsabilidade disseminada por todo o tecido social... Algo bem mais abrangente do que o diretor acabou por fazer - com estrondoso sucesso, diga-se de passagem - em seus dois últimos filmes.

Fico a me perguntar, então, qual o peso da influência do produtor, do diretor e do roteirista no delineamento do espírito de cada filme...

MACHUCA

Belíssimo filme!

Ao registrar o momento, da história do Chile, em que o governo de esquerda de Allende é violentamente substituído pela ditadura de Pinochet ( apoiada pelo governo norte-americano ), dá mostras de como a classe média – iludida e manipulada pelos anseios capitalistas – acaba sendo usada como massa de manobra naquele asqueroso golpe militar.

Excelentes artistas, as crianças conseguem transmitir com muito realismo o quanto “a política” que nos rodeia acaba por interferir em nossos relacionamentos pessoais, colocando em xeque os melhores valores humanos... Inclusive a amizade.

"A suprema felicidade"

Sinceramente, não sei se gostei de não gostar do filme de Arnaldo Jabor, fortalecendo minha ultimamente normal tendência a não gostar daquilo que faça o jornalista/cineasta... Ou se, no fundo, esperava encontrar, em “A suprema felicidade”, motivos para esquecer os textos intragáveis que ele tem escrito.

Mas o fato é que não gostei.

O filme – que tomarei como autobiográfico, pelo menos em algum sentido -, apesar dos ótimos atores, é chato ( as piadas são infames ), cansativo, “histérico”, como a maioria dos textos que tenho suportado ler de seu autor... A conclusão parece ser que o título é um deboche, e que Jabor acredita que a felicidade, em sua fugacidade, simplesmente não existe...

Na minha opinião, a película, de muito mau gosto, ao contrário do que tenho ouvido dizer alguns, nem por um momento poderia ser compreendida como algum tipo de louvor ao Rio de Janeiro, ou a uma época... Acredito que todos que, como eu, não tenham qualquer lembrança dos anos 40/50, ou aqueles que os guardem vivos na memória sequer por um segundo sentiram-se nostálgicos...

Nunca vi alguém, por exemplo, conseguir mostrar tanto desprezo pelas prostitutas, sem dizer que esse seria seu propósito, como Jabor, em “A suprema felicidade”... Aliás, o sexo, no filme, parece sempre colocado de modo perverso... Os sons vindos do quarto dos pais do menino Paulo - eles não tomavam qualquer tipo de cuidado? - incomodavam-no muito... Suas fantasias, associadas aos disparates ouvidos dos grotescos padres do colégio, poderiam mesmo favorecer a construção de uma sexualidade atormentada... E não é que, ao chegar à juventude, todas as mulheres que o atraem, além de parecidas fisicamente com sua mãe, parecem também, como ela, bastante místicas, além de gostarem de dançar e/ou cantar?

A cena da mãe, buscando a “vidente”, cuja família era constituída por cegos, parece ser outro deboche... Jabor sempre fez questão de dizer, em seus artigos, de seu ceticismo... E parece haver acabado, ironia!, tão assombrado por seu passado, por sua visão pessimista da vida e da morte, quanto cada uma das personagens femininas - que acaba por delinear - a se dizerem em contato com o sobrenatural...

Uma forte impressão que nos fica, ao sair do cinema, é a de que, apesar de tudo – e talvez como qualquer um -, Jabor tenha uma visão bastante benevolente de si mesmo... O menino da história, em cada uma de suas fases, é sempre o “mocinho”. Ainda quando, na juventude, acaba por "vingar-se” do pai, que trai a mãe ( a fixação do menino por ela - antes de traí-la, o militar sufoca sua ânsia pela vida - é evidente )... Paulo apaixona-se e conquista - incestuosamente? - a moça pela qual o progenitor estava fascinado...

Fico me perguntando se a raiva que Jabor tem demonstrado nutrir por Lula e pelo PT, fazendo a corte a ideias incompreensíveis, não seria fruto do sentimento ali surgido... Será que o cineasta/jornalista, em algum momento, sentiu como se a esquerda o houvesse traído, ao “deixar-se" ( e a sua pátria - mãe - amada ) sufocar pela ditadura militar?

Talvez, no fundo, de certa forma, Paulo culpasse sua mãe ( o que é, afinal, aquele teatrinho de terror "apresentado" ao menino de 8 anos e a seus coleguinhas? )...

Enfim, se, depois de tantos anos longe dos roteiros, Jabor resolveu escrever “A suprema felicidade” à guisa de exorcismo, fico satisfeita... Pois tenho uma vaga lembrança de uma fase sua na qual produzia textos apaixonados pela possibilidade de um mundo melhor... Quem sabe possa retomá-los agora, reorganizados seus arquivos internos? Deixando desmancharem-se suas mágoas, seu nojo(?), seu desprezo(?) pelo ser humano, pela vida que o tornou impotente(diante da ditadura?)... Por outro lado, permitindo crescer, em seu coração, a certeza de que a felicidade fugaz de que lhe falava o avô – que a experimentara por “10 minutos” - talvez seja o máximo, a suprema felicidade a ser almejada por todos os homens...

Obs. 1) A verdade é que, se essa felicidade for fruto da percepção da unidade, da consciência de sermos um com toda a humanidade – com DEUS -, ainda que a experimentemos uma única vez, sua lembrança há de encorajar-nos, iluminando o resto de nossas vidas.

2) A cena em que o avô mostra a Paulo o homem morto pode ser compreendida como um aceno ao menino para a necessidade de se aproveitar a vida, os prazeres carnais, enquanto isso for possível, uma vez que o fim pode nos surpreender ( infelizmente, talvez seja essa a mensagem do filme )... Mas, por outro lado, poderia ser simplesmente um pedido de sua atenção para aquilo que, acima de tudo, une cada um de nós a cada outro ser humano: sim, somos mortais. Motivo mais do que suficiente para sermos - uns com os outros - infinitamente solidários.