A lembrança “espontânea” do fato de o presidente haver rasgado
constituições - ao mesmo tempo em que somos colocados diante de um alguém o
tempo todo confundido com a figura paterna (a filha Alzira parece parte dele);
de um alguém que parece o tempo todo perplexo em face das falcatruas que vão
sendo suscitadas; de um alguém tão querido pelo povo - parece nos impor desde
logo sua aceitação. Somos levados a pensar simplesmente que deve haver uma boa
justificativa para as constituições haverem sido rasgadas, como para qualquer
das atitudes de Getúlio. O filme nos surge, então, tendencioso.
O fato é que sempre que focarmos dias decisivos na vida de um
homem, quanto mais próximos dele olharmos – foram muitas as cenas na penumbra
do quarto de Getúlio -, abrir-lhe-emos um canal de simpatia; o fato é que
sempre que humanizarmos alguém focando em seu medo do fim de um percurso –
todos tememos qualquer tipo de morte -, naturalmente com ele nos
identificaremos, e se tornará impossível julgá-lo. Principalmente se – e esse
parece ser o caso de Getúlio Vargas – a figura realmente merecer algum tipo de
aplauso.
Enfim, não podemos deixar de nos perguntar sobre a
repercussão do lançamento de um filme como esse em pleno ano eleitoral...
A mídia ainda pode muito quando se trata de colocar ou tirar
alguém do poder... E sutis participações de alguns personagens num filme
histórico podem nos tocar de maneira surpreendente.
O personagem mais simpático, humano e coerente com que nos
deparamos em “Getúlio” é, sem dúvida, o jovem Tancredo Neves. Fica a pergunta,
então: será possível que alguns espectadores tendam a olhar para seu neto, o
candidato à Presidência da República Aécio Neves, transferindo-lhe
inconscientemente sua simpatia?