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segunda-feira, 19 de maio de 2014

GETÚLIO

“Getúlio” passa harmoniosamente pela tela, enquanto nos damos conta do quanto lhe falta da ambiguidade da grande e polêmica figura do ditador/democrata que dá nome ao filme.

A lembrança “espontânea” do fato de o presidente haver rasgado constituições - ao mesmo tempo em que somos colocados diante de um alguém o tempo todo confundido com a figura paterna (a filha Alzira parece parte dele); de um alguém que parece o tempo todo perplexo em face das falcatruas que vão sendo suscitadas; de um alguém tão querido pelo povo - parece nos impor desde logo sua aceitação. Somos levados a pensar simplesmente que deve haver uma boa justificativa para as constituições haverem sido rasgadas, como para qualquer das atitudes de Getúlio. O filme nos surge, então, tendencioso.

O fato é que sempre que focarmos dias decisivos na vida de um homem, quanto mais próximos dele olharmos – foram muitas as cenas na penumbra do quarto de Getúlio -, abrir-lhe-emos um canal de simpatia; o fato é que sempre que humanizarmos alguém focando em seu medo do fim de um percurso – todos tememos qualquer tipo de morte -, naturalmente com ele nos identificaremos, e se tornará impossível julgá-lo. Principalmente se – e esse parece ser o caso de Getúlio Vargas – a figura realmente merecer algum tipo de aplauso.

Enfim, não podemos deixar de nos perguntar sobre a repercussão do lançamento de um filme como esse em pleno ano eleitoral...

A mídia ainda pode muito quando se trata de colocar ou tirar alguém do poder... E sutis participações de alguns personagens num filme histórico podem nos tocar de maneira surpreendente.

O personagem mais simpático, humano e coerente com que nos deparamos em “Getúlio” é, sem dúvida, o jovem Tancredo Neves. Fica a pergunta, então: será possível que alguns espectadores tendam a olhar para seu neto, o candidato à Presidência da República Aécio Neves, transferindo-lhe inconscientemente sua simpatia?