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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O cabelo de Michele Obama

Parece mentira, mas, mais uma vez, vemos pessoas, inclusive apresentadores de programas televisivos, desfazerem da esposa do presidente dos Estados Unidos...

Mais uma vez, o cabelo bem tratado e arrumado da sempre elegante Michele Obama parece servir de pretexto para a expressão de impressões, a meu ver, essencialmente racistas...

Em programa matinal sobre saúde, há pouco, acabo de ver comentários irônicos sobre a "chapinha" do cabelo da primeira dama americana... Inacreditavelmente, ali, chegaram a fazer "piada" sobre a possibilidade de chover...

Por trás, o desejo - algumas vezes explicitado por respeitáveis membros de nossa sociedade,e  até mesmo, pasmem!, por algumas mulheres negras - de insinuar que o racismo parte dos próprios negros quando "rejeitam" seus cabelos naturalmente crespos?...

Mas nós sabemos bem onde o racismo está: ele está justamente em mais esse grilhão especialmente imposto à mulher negra. Por que ela, ao contrário do que é inerente ao feminino, estaria obrigada a nunca variar?

Por que todas as mulheres do mundo podem, o tempo todo, mudar os cabelos, encrespando-os, ondulando-os, alisando-os um pouco mais, colorindo-os etc, e as negras não?

Por que o permanente sempre foi uma possibilidade para as brancas de cabelo minguado - eu mesma utilizei o recurso inúmeras vezes -, sem que qualquer acusação de rejeição a suas origens europeias lhes fosse impingida?

Tema para reflexão.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Minhas impressões sobre o Mensalão

É triste, mas a verdade é que, fora as questões processuais, das quais não estou apta a tratar, parece não haver muito a se dizer em defesa dos condenados nessa longa história do Mensalão...

 
Por outro lado, no entanto, podemos enfatizar a necessidade de vermos futuramente a mesma postura da Corte que os julgou, e da Mídia que a instigou, diante de outros réus de tanta ou mais importância. Podemos sonhar com que os jovens e bons jornalistas que tiveram carta branca para escrever “sobre” o partido do governo tenham pego “o gostinho” e comecem a se incomodar com qualquer tipo de mordaça. Devemos, enfim, acreditar possível uma verdadeira reforma política.  

 
E, antes de parabenizarmos a Mídia por sua demonstrada competência investigativa, devemos torcer para que use o mesmo dom em torno de outras questões, ou melhor, em torno das mesmas questões envolvendo outras figuras... Especialmente aquelas figuras sobre as quais apenas ficamos sabendo aquilo que, ao transbordar, não pode mais ser olvidado.

 
Quanto à performance do Ministro Joaquim Barbosa durante todo o julgamento, tão aplaudida pelos veículos de comunicação, talvez mereça uma ou duas observações...

 
Afinal, a mídia (de direita), que acabou por elevar o Ministro – depois de conhecer suas interpretações do processo - à condição de ídolo, foi a mesma que, antes, em vista de uma sua temida atuação em favor do PT (de esquerda, sim!), não lhe poupou críticas, flagrantemente desejosa de enfraquecê-lo diante da manipulável opinião pública...

 
Perfeito exemplo de casuísmo jornalístico, não é?

 
Assim foi que, durante os meses que antecederam o julgamento do Mensalão, vimos inúmeras matérias insinuando que o Ministro Joaquim Barbosa fora indicado pelo presidente Lula, numa decisão política, muito mais pela cor de sua pele do que por sua competência... E outras em que o problema na coluna do Ministro Joaquim Barbosa foi claramente menosprezado pela mesma imprensa que ora o pinta com as cores da dor de um herói... Confira aqui, no blog, texto intitulado "A Implicância com o Ministro Joaquim Barbosa", em torno de reportagem sobre suas licenças médicas.

 
Mas a verdade talvez seja que tanto Joaquim Barbosa quanto cada um dos demais ministros responsáveis pelo árduo trabalho ora concluído não passam de seres humanos, à mercê de todos os sentimentos e contradições que habitam cada um de nós, muitas vezes orientados por impulsos inconscientes...

 
Quando fui professora de um de meus filhos, ele me disse que eu exigia muito mais dele do que de seus colegas de turma, talvez tentando frear qualquer impulso no sentido de protegê-lo...

 
Dessa forma, não posso deixar de compreender o quanto deve ter sido confortável para os Ministros, principalmente para os indicados pelo atual governo, poderem escolher – ainda que o tenham feito exclusivamente movidos por suas convicções – o lado da aparente mistura entre a dita opinião pública e a grande Mídia. O que tornou óbvia e humanamente mais fácil o seu trabalho, e o cumprimento do dever moral de não decidir em função de qualquer tipo de dívida ou envolvimento pessoal.

 
O que estou querendo dizer é que, se os Ministros cumpriram sua obrigação de maneira suavizada, o tempo todo sob aplausos retumbantes, talvez não tenham sido, afinal, protagonistas de qualquer façanha grandiosa... Esperemos que, ao repetirem tal firmeza frente a outros réus, e em contexto diverso, possamos justamente comemorar sua força e sua coragem.

 
Enfim, para o consciente e lúcido Ministro Joaquim Barbosa, de certa forma, deve ter sido muito bom ver – talvez com algum tipo de nojo - a mesma Mídia que dele tanto tripudiou, logo a seguir, acreditando ser possível manipulá-lo como a qualquer um (através da vaidade?), quase lambendo seus sapatos... Deve ter sido muito bom poder ver o mesmo jornal que tantas insinuações traçou sobre seu percurso profissional “obrigando-se” a reverenciá-lo; admitindo, ao mesmo tempo, sua competência e sua escoliose.

 
E, embora eu não tenha condições para avaliar em profundidade o presente desempenho do Ministro Joaquim Barbosa, toda a admiração que sempre tive por ele e por suas posturas sempre humanas e coerentes com os melhores valores – vide agora, por exemplo, como critica a promoção de juízes por “mérito” -  me leva à certeza de que ainda o verei incomodar muito a muitos daqueles que, no momento, tão enfaticamente o aplaudem.