Arquivo do blog

sábado, 5 de setembro de 2009

"Quando o outro entra em cena, nasce a ÉTICA"

“Em que crêem os que não crêem?”, cartas entre Umberto Eco e Carlo Maria Martini, é leitura indispensável a todos aqueles que refletem sobre o que move o homem no sentido de buscar as melhores condições de vida possíveis para todos os seres humanos, independentemente de qualquer medo do castigo no inferno eterno.
A carta “Quando o outro entra em cena, nasce a ÉTICA”, dirigida a Martini, resume em seu título as principais ideias abraçadas por Eco no livro.
Nela, o pensador consegue magnificamente nos mostrar o quanto a capacidade de nos identificarmos com qualquer outro ser humano; o quanto o fato de podermos nele perceber semelhanças conosco e com nossos queridos é fator fundamental para o desenvolvimento de uma postura ética diante da vida.
Igualados os seres humanos, seja por seus limites e potencialidades físicas, seja por seus desejos e fraquezas, seja por suas reações diante do prazer ou da dor, todas as diferenças passam a ser melhor respeitadas e passamos a saber que a máxima “não fazer ao próximo aquilo que não desejamos para nós mesmos” talvez resuma grandes tratados filosóficos sobre o assunto – ÉTICA.
De repente, vejo-me pensando sobre o imperativo categórico de Kant, segundo o qual devemos agir sempre em conformidade com a possibilidade de que nossos atos possam tornar-se leis a serem seguidas por todos, e acabo por concluir que, além de cuidarmos para não ferirmos o próximo com aquilo que abominaríamos que ele, por sua vez, nos atingisse, talvez também pudéssemos prestar atenção para não lhe fazermos aquilo que não deseje para si, ainda que para nós o que quer que isso represente tome a feição mais banal possível.
Isso seria de fato aprendermos a respeitar as sutis diferenças entre as pessoas, religiões e culturas a perpassarem a certeza de sermos essencialmente iguais.