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segunda-feira, 21 de setembro de 2009

"Caso venha a saber de uma traição, pense bem antes de contar à vítima"

Graças a Deus, tenho muitos – e bons - amigos. Alguns dentre meus familiares e outros advindos dos diversos setores e fases da minha vida... E registre-se que sou muito grata pela dedicação de cada um deles, pois imagino que não seja fácil manter estreita ligação com alguém que, como eu, esteja sempre disposto a aprofundar qualquer assunto...

Observo isso na reação de algumas pessoas que, não convivendo comigo e não tendo o hábito da reflexão permanente, de repente se veem diante de uma de minhas "perguntas remissivas” – no sentido de remeter o interlocutor a si mesmo, à compreensão de suas ações... Ou reagem como se eu fosse “a chata de galocha”; ou como se eu fosse meio maluquinha; ou ainda põem-se na defensiva... Em um mundo no qual tantas pessoas sabem mais sobre as vidas das "celebridades"do que daquilo que se passa dentro de si mesmas, talvez tais reações devam ser mesmo esperadas... E quando percebo que não vão me entender mesmo, acabo rindo da situação e me afastando de fininho...
Pois eu não perco a oportunidade ( principalmente se sou atingida de alguma maneira ) – anos e anos de psicanálise - de perguntar a todos os que me rodeiam, da mesma forma que o tempo todo a mim mesma: vem cá, por que você fez isso ou disse aquilo? O que você estava sentindo naquele momento? O que sua atitude significou pra você, no fundo do seu coração? Será que foi isso, ou seria aquilo...?

Às vezes chego a me perguntar se não deveria mudar, conter esses meus impulsos perguntativos, curiosos da alma humana... Mas acho que não conseguiria ser diferente...
Ainda bem que meus amigos me amam e, para falar a verdade, até parecem sentir falta de minhas perguntas quando deixo passar alguma coisa de qualquer jeito... E o fato é que ser assim é o que ilumina meus textos... Pois muitas vezes é tentando compreender aquilo que me causou espanto no comportamento de alguém que imagino os personagens das histórias que escrevo...

Em artigo intitulado “Caso venha a saber de uma traição, pense bem antes de contar à vítima”, publicado em uma dessas revistas que costumamos encontrar em consultórios ou salões de beleza, a analista junguiana Leniza Castello Branco leva seus leitores a refletirem sobre o quanto talvez sejam mais importantes os sentimentos que se escondem por trás de cada uma de nossas ações do que a maioria das ações em si mesmas.
Em resumo, em suas bem traçadas e simples linhas, ela torna acessível aquilo que eu talvez não esteja conseguindo transmitir no momento em que formulo minhas perguntas...
Ela explica que, num impasse de tal monta, devemos nos perguntar o que nos moveria ao optarmos por qualquer uma das possibilidades: contar ou não contar, no caso, à vítima da traição...
Contaríamos, porque no fundo invejamos a relação que a amiga tem com seu marido e queremos aproveitar a oportunidade para destruí-la?
Não contaríamos, porque no fundo queremos olhar para a amiga que pensa ser feliz usufruindo do prazer de determos a informação que pode a qualquer momento mudar a sua vida?
Em qualquer uma das duas atitudes, embora aparentemente diferentes, o sentimento por detrás - algumas vezes inconsciente -, revela-se o mesmo: inveja, maldade, pequenez de espírito...

O fato é que devemos estar sempre atentos para qualquer fiapo de prazer diante do fracasso ou infortúnio alheios, da mesma forma que a qualquer sinal de insatisfação com seus sucessos... A tomada de consciência quanto a esses sentimentos, além de nos tornar seres humanos melhores e de aumentar o controle que temos sobre nossas ações, pode significar grandes progressos em direção aos nossos limites e potencialidades, aumentando em muito as chances de superação/aceitação de uns e de desenvolvimento de outras...

Enfim, não podemos nos esquecer de que também poderíamos tomar qualquer uma das duas atitudes movidos simplesmente pela certeza em nosso coração de que seria aquela a que gostaríamos, invertidos os papéis, que tomassem em relação a nós mesmos.
E esse talvez seja o único sentimento que, por trás das escolhas feitas ao longo de nossa vida - e ainda que não tenhamos agradado a todos - pode ser aceito por nossa consciência, deixando-nos dormir em paz.

Convenhamos: autoconhecimento é uma preciosidade...
Vem cá: vale ou não vale a pena escarafunchar a própria alma?