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terça-feira, 21 de setembro de 2010

A CRIAÇÃO

A história de Charles Darwin, retratada nesse filme, é muito mais instigante do que à primeira menção possamos imaginar.

Apegado à família e dedicado à sua pesquisa, que - preocupado que parecia em esmiuçar todas as suas observações da evolução dos seres vivos até o surgimento do animal homem sobre a Terra - leva mais de vinte anos para concluir, ele não para por aí.

A verdade é que o cientista, conhecido por sua teoria da “Evolução das Espécies”, tida ainda hoje por muitos como antagônica à teoria da “Criação” - segundo a qual Deus criou o mundo em 7 dias -, surge-nos como personalidade das mais interessantes.

Tanto quanto sua dedicação ao trabalho, parece-nos imenso o amor que o cientista nutre pela mulher e pelos filhos, com destaque para a primogênita. De tal forma que, após sua precoce morte, aos 10 anos, passa a manter com ela intermináveis conversas imaginárias, num relacionamento diário mais real do que o mantido com o resto da família.

O melhor do filme: levar-nos a imaginar que o que atrasou a pesquisa de Darwin, mais do que o nível de sua exigência profissional, possa haver sido a dúvida em relação à conclusão última que, a seu tempo, suas ideias pareciam sublinhar: a negação da existência de Deus. Todo o amor devotado à filha morta, que o levava a querer acreditar que a morte não podia ser o fim de tudo(?), pode haver sido a razão de sua confusão humanamente enriquecedora.

Melhor ainda: que sua esposa, muito apegada aos dogmas religiosos e o tempo todo contrária àquelas pesquisas, ao final, após ler todo o trabalho do marido - que deixa em suas mãos a decisão sobre sua publicação ou não -, acabe ela mesma encaminhando o calhamaço à editora, pronunciando as contraditórias e humanas palavras: Que Deus nos perdoe!

A bela e humana ambigüidade, o conflito, o quase reconhecimento pelo casal de indícios da existência concomitante e complementar de ambas as teorias, Criação e Evolução, colocam como fundo, para essa história ambientada no século XIX, as ideias mais ousadas em torno dessa convergência, diante das quais, em pleno século XXI, muitos ainda reagem furiosamente.