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terça-feira, 21 de setembro de 2010

A FITA BRANCA

Em um fictício vilarejo alemão, pouco antes da primeira guerra mundial, era hábito amarrar-se uma fita branca no cabelo ou braço das crianças, para que não se esquecessem de qualidades como ingenuidade e bondade.

Vários incidentes, no entanto, acabam por acenar para a possibilidade de que, quando se precisa materializar a pureza em um signo, é sinal de que ela, como que congelada, já deu lugar à hipocrisia.

Comenta-se que a feitura do filme pretendeu registrar os traços - presentes nos homens e muitas vezes transmitidos por eles a seus filhos, geração após geração - que poderiam explicar o fato de um povo, de uma ou outra maneira, aceitar o comando vindo de mentes doentias como a de Hitler.

Parece que está tudo lá: as ações sádicas de alguns como provável resultado da convivência numa sociedade essencialmente hipócrita; a hipocrisia e desumanidade do pai ao falar com o filho adolescente sobre questões da sexualidade humana – dando início a uma série de recalques(?); as violência e maldade manifestas pelas pessoas, dentro e fora de suas casas; a intolerância com as diferenças, inclusive da própria mãe em relação ao filho dito “retardado mental”; a coragem de usar-se as pessoas em proveito próprio, ignorando seus sentimentos...

Observei que alguns, após assistirem a "A fita branca", parecem não compreender a acenada relação de sua história com o terrível nazista que só surgiria trinta anos depois...

Bem, fico com a hipótese de ser ela uma alusão à possibilidade de haverem vários “hitleres” em gestação já naquele exato momento... Ou seja: talvez estejamos diante de um filme sobre a sociedade ( certamente não só a alemã ) que forjou o pior ditador nazista de toda a História humana.

Quanto ao fato de um povo aceitar ser comandado por um homem ignóbil, pode ser explicado, por um lado, pela necessidade de cada um dos outros "hitleres" exorcizar de si mesmo os próprios demônios, quando não esteja essa aceitação baseada simplesmente na escolha de um semelhante... E, por outro lado, pela tendência que a grande maioria das pessoas vulneráveis a todo o tipo de maldade, ali, como em qualquer outro lugar, tem de confundir força com despotismo e proteção com opressão.

Enfim, mais uma vez, concluo que um profundo autoconhecimento e o desejo consciente de encontrarmos nosso melhor como seres humanos é e será sempre a única maneira de fazermos, se não a ideal, pelo menos a melhor escolha dentre nossos possíveis representantes.