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domingo, 22 de agosto de 2010

"ANITA GARIBALDI, HEROÍNA DE 2 MUNDOS"

RAUL DE OLIVEIRA RODRIGUES - político, advogado e jornalista, além de escritor e poeta -, de quem tenho a honra de ser neta, estava concluindo a revisão de um livro sobre ANITA GARIBALDI quando foi interrompido por aquela que, parodiando o poeta, a qualquer momento, há de interromper cada um de nós.

Abaixo, assinada por mim, a "Apresentação" de sua obra intitulada"Anita Garibaldi, Heroína de 2 Mundos", que acaba de ser publicada pela família Oliveira Rodrigues:

"RECENTEMENTE, ao assistir a uma entrevista com o autor de uma pesquisa sobre a vida de Anita Garibaldi, recordei-me de meu avô falar apaixonadamente a respeito do livro que escrevia (e que deixou já em fase de conclusão) também sobre a heroína, conhecida por haver lutado no Brasil, no Uruguai e na Itália, ao lado do marido, Giuseppe Garibaldi, um dos heróis da unificação italiana.

Curiosa, peguei seus originais para “dar uma olhada”. No entanto, tendo resolvido por primeiro fazer uma rápida leitura daquela outra pesquisa, desanimei-me, uma vez que ela não me conseguiu convencer do heroísmo de Anita, deixando apenas, de Garibaldi, a impressão de que fora, antes de tudo, um desassossegado que, por razões internas, tomava para si alguns propósitos que lhe permitissem justificar sua prévia rebeldia; e, de Anita, a sensação de que era uma mulher apaixonada que, como tantas, desejando exibir-se ao amado, abraçava suas causas e seguia seus passos. Surgiu a pergunta: Por que heroína? E foi formulando esta questão que sentei diante dos arquivos de Raul de Oliveira Rodrigues, ainda confusa.

Emocionante, abrir aquelas pastas amareladas e, mais ainda, deparar com sua caneta, marcando o ponto em que estava na revisão de seu trabalho. O que estaria ele pensando naquele momento em que depositou a caneta e fechou as páginas de seu livro, sem imaginar que seria a última vez? E foi mesmo como neta, com o espírito comovido pelo sentimento da continuidade, que peguei seu instrumento de trabalho, decidida a retomar aquela tarefa.

Logo às primeiras páginas, percebi que ele respondia à minha indagação: Anita, desde menina, e não apenas após seu encontro com Garibaldi, fora uma revolucionária, no sentido mais amplo do termo. No dia a dia, através de seus atos e palavras, mostrava sua paixão pela verdade e pela liberdade. Assim principia Oliveira Rodrigues:

'Duas fases distintas se apresentam na vida de Anita Garibaldi: a primeira situa-se entre o seu nascimento e o seu encontro com o condotieri italiano, Giuseppe Garibaldi; e a segunda, partindo desse encontro, termina com a sua morte dramática, nas charnecas de Mandriolo, ao sul da Itália. Em ambas, estão presentes as mesmas virtudes de espírito, de coração e de caráter, bem como a firme resistência moral que trouxera do berço e jamais alienara.'

No mais, a sensibilidade e coragem do biografista, ao traçar o perfil da Anita em que deveras acreditava, distanciam sua obra daquelas que, a pretexto de manterem-se fiéis aos acontecimentos, passam a ser meros relatórios das informações coligidas. Informações essas que, muitas vezes, ao apontarem em direções opostas, fazem crer na quase impossibilidade de biografar-se alguém. O que, no entanto, a profunda interação entre o espírito do biógrafo e a figura biografada, delineada, simultaneamente, através das pesquisas realizadas e de um sensível mergulho no inconsciente coletivo, talvez transforme em resultados emocionantes como o que ora o leitor tem em mãos.

Ressalte-se ainda que, se a opção de um biógrafo por uma ou outra versão dos acontecimentos pesquisados acaba por dizer tanto sobre ele próprio quanto sobre o sujeito biografado, o desejo de Raul de Oliveira Rodrigues, ao dedicar-se, já com mais de 80 anos de idade, disciplinadamente e por iniciativa própria, ao estudo da vida de Anita Garibaldi, fica evidente no resultado de seu trabalho. Anita, vista através de seus olhos, é alguém tão idealista e humana que, sem mais demora, é preciso melhor conhecer. Afinal, é o que Oliveira Rodrigues parece nos dizer:

'Na França, intelectuais e homens públicos, empenhados na constante valorização de seus símbolos patrióticos e de suas figuras históricas, nunca permitiram que se amortecesse, no conceito nacional e internacional, a imagem, para eles sagrada, de Joana D’Arc. Mas no caso de nossa inolvidável Anita Garibaldi, como observou, em 1960, em discurso proferido na Câmara Federal, o então Deputado Otacílio Costa, neste século e meio decorridos desde a morte da ilustre brasileira, a sua imagem foi negligenciada e a sua glória, que continua a luzir na Europa, aqui se fez desbotada, quase esquecida, como se pudéssemos dispensar, na formação política e social das novas gerações, o culto aos exemplos de abnegação e civismo de nossos antepassados e dos valores exponenciais da nacionalidade.'"