Arquivo do blog

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Liberdade DE Imprensa ou PARA a Imprensa?

Como o assunto me interessa de perto por conta do personagem jornalista do livro que estou escrevendo, não consigo deixar pra lá essa discussão sobre “Liberdade de Imprensa”.

Minha pergunta é a seguinte: Por que ninguém demonstra claramente o quanto são diferentes os conceitos “Liberdade DE Imprensa” e “Liberdade PARA a Imprensa”?

Em matéria sobre o assunto no Globo de hoje, vemos reproduzidas as seguintes palavras do sociólogo Demétrio Magnoli:

“Vem sendo difundida a teoria de que os jornais são como partidos que fazem parte de um jogo político. Ela surge numa época em que volta a ideia de que o Estado deve falar diretamente às pessoas, evitando a mediação. Essa teoria política dá base a um projeto de jornalismo estatal em curso na América Latina, buscando criar uma imprensa alternativa principalmente nos meios eletrônicos. Fusões na área de telecomunicação poderão, dessa forma, se tornar uma concorrência à imprensa, pois tais empresas se tornariam fornecedoras de notícias que o Estado quer que sejam divulgadas.”

Espanto-me: existe qualquer dúvida quanto à grande mídia funcionar - ainda que por tabela - de acordo com os interesses do partido que represente a ideologia dominante?

Alguém precisa dizer com todas as letras que talvez não exista diferença entre o que vemos a grande imprensa fazer em relação a qualquer ameaça à ideologia que representa e a jovem desejosa de proteger um namoro pelo surgimento de outra, digamos, mais fornida. Ambas – sem qualquer sinal de culpa – parecem tender a omitir as informações que possam favorecer as rivais; por outro lado, fazendo questão de frisar os seus fracassos.

Em relação à mocinha, esperamos que seu namorado esteja preparado para proteger-se de qualquer exagero a ultrapassar a desculpa da imaturidade e da própria fragilidade humana, acenando para um desvio de caráter de sua namorada...

Já, em relação à imprensa, como poderíamos dela nos defender, se ela é a primeira a colocar-se como a grande vítima, desejosa de proteger o seu direito de dizer "toda a verdade, somente a verdade, nada mais do que a verdade"?

Como dizer que nos parece evidente que, ao determinar pautas, ao ignorar ou privilegiar assuntos, ao descartar profissionais, essa imprensa está exercendo não o seu direito à “liberdade de expressão” ou à “liberdade DE imprensa”, como gosta de proclamar; mas sim dando mostras da ilimitada “liberdade PARA a imprensa” em países nos quais o regime é quase uma plutocracia e a grande mídia, quase uma oligarquia?

Acontece que são muito inteligentes alguns de nossos intelectuais que servem, consciente ou inconscientemente, à manutenção do status quo. Eles certamente devem conseguir assustar seus ouvintes ou leitores, ao lançarem mão de exemplos - no caso, em relação à liberdade DE Imprensa - sobre o que ocorre em países sobre os quais não tenhamos mesmo uma boa impressão de seu governo – imagino que, pelo menos algumas vezes, justamente por conta das informações às quais temos acesso ou não temos acesso.

Enfim, chegamos à consciência da importância de que não é interessante para o povo ser informado apenas daquilo que o Estado queira, da mesma forma que não o é sermos informados apenas daquilo que interesse às grandes empresas de comunicação.

E certo é que, enquanto não pudermos contar com pluralidade suficiente nos meios de comunicação a nos garantir maior imparcialidade em relação aos assuntos veiculados - vivas! a alguns blogs com os quais podemos contar -, talvez seja importante, sim, termos veículos a transmitirem o que seja do interesse também de nossos governantes. Simplesmente porque, da mesma forma que o psicanalista encontra o caminho para a história de seus clientes através de suas fantasias - a representarem suas omissões, talvez possamos vislumbrar mais verdades sobre nossa História ao examinarmos paralelamente aquilo que seja valorizado pela grande mídia e ocultado pelo governo – e vice-versa.