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domingo, 13 de junho de 2010

"Acima de qualquer suspeita"

“Acima de qualquer suspeita”, com Michael Douglas no papel do promotor capaz de plantar evidências nas cenas dos crimes que “elucida”, é título nacional homônimo do mais antigo e não menos intenso “Acima de qualquer suspeita” protagonizado por Harrison Ford.

Os dois filmes giram em torno da ideia – exaustivamente trabalhada em nossas novelas – de qualquer inescrupuloso, algumas vezes com a ajuda de policiais corruptos, poder forjar provas contra aquele que, por razões pessoais ou profissionais, possa lhe interessar culpar de alguma coisa. No caso dos filmes, de assassinato.

O filme mais antigo trata do assunto do ponto de vista das emoções, inclusive as sufocadas.

O mais recente mostra um promotor capaz de friamente planejar destruir a vida de pessoas com o objetivo de garantir os tais – ironia! -respeitos profissional e social que o impeliriam para “cima”. Desprezivelmente autoenganado ( vide nesse blog artigo “Respeitabilidade e Autoengano” ).

Mas a indignação maior nasce da observação do jornalista vivido por Jesse Metcalfe. Diríamos que ele é a própria encarnação da “meta-hipocrisia”...
Pois, se a hipocrisia se evidencia sempre que alguém utiliza dois pesos e duas medidas em suas avaliações: um peso, para seus interesses e outro peso, para os demais, a meta-hipocrisia, descubro agora, pode ser percebida quando alguém, como o repórter investigativo no filme, associa seus interesses mais mesquinhos ao - a princípio - nobre objetivo de derrubar um hipócrita. Conseguindo, em suas ações, ser ainda mais hipócrita do que o hipócrita. No caso da história em questão, vemos que o personagem – dizendo-se decidido a provar, em nome de um ideal, o quanto eram passíveis de fraude as provas circunstanciais plantadas pelo promotor – visava mesmo era o reflexo positivo em sua carreira que poderia advir do desmascaramento do mau caráter. Carreira em nome da qual, diga-se de passagem, ele era capaz de fraudar e matar.

Ainda bem que na vida real, como na ficção, podemos contar tanto com autoridades quanto com jornalistas honestos, corajosos, apaixonados pela permanente busca da verdade e, por isso, merecedores do verdadeiro respeito de si mesmos e de cada um de nós.
Como, no filme, a promotora vivida impecavelmente por Amber Tamblyn, e o jornalista, amigo de “Metcalfe”.
Como o juiz João Pedro, no romance “A Juíza”.
Como o jornalista Arthur, personagem importante do romance que estou concluindo.