Talvez possamos dizer que, em certo sentido, o valor de um livro seja determinado na mesma medida pelo perfil daqueles que o apreciam e daqueles que o desprezam.
No posfácio de "As Veias Abertas da América Latina", Eduardo Galeano declara ( grifos nossos ):
"...os comentários mais favoráveis que o livro recebeu não provêm de nenhum crítico literário de prestígio, mas das ditaduras que o elogiaram, proibindo-o."
Desse livro:
"Nestas terras, o que assistimos não é a infância selvagem do capitalismo, mas a sua cruenta decrepitude. O subdesenvolvimento não é uma etapa do desenvolvimento. É sua consequência. O subdesenvolvimento da América Latina provém do desenvolvimento alheio [...]."
"O sistema encontra seu paradigma na imutável sociedade das formigas. Por isto se dá mal com a história dos homens, [na qual]cada ato de destruição encontra sua resposta - cedo ou tarde- num ato de criação."
E, provavelmente se referindo ao fato de seus livros haverem sido proibidos por falarem da realidade imediata, em "Nós Dizemos Não", Galeano declara:
"Os donos do poder se refugiam no passado, acreditando que ele está quieto, está morto, para negar o presente [...]. A história oficial nos convida a visitar um museu de múmias. Assim, não há perigo: pode-se estudar os índios que morreram há séculos e, ao mesmo tempo, pode-se desprezar ou ignorar os índios que vivem agora. Pode-se admirar as ruínas portentosas dos templos, da Antiguidade, enquanto se assiste de braços cruzados ao envenenamento dos rios e à destruição dos bosques onde os índios têm morada na atualidade."
A verdade é que parece muito fácil postar-se como pessoa politizada e humanista, confundindo os ingênuos com um discurso bonito mas sempre voltado para causas distantes - no tempo e/ou no espaço - dos próprios interesses ou conveniências.