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quinta-feira, 8 de abril de 2010

O "Feitiço do Tempo", em Míriam Leitão

Como meus leitores sabem, gosto de relacionar filmes com questões das mais corriqueiras às mais sérias. Os textos assim enriquecidos parecem ficar mais saborosos.
E foi exatamente essa a impressão que tive do texto da Míriam Leitão publicado hoje ( 08/4 ) em O Globo.

A comentarista econômica traça um paralelo entre o personagem principal do filme “Feitiço do Tempo” e a performance do presidente Lula, concluindo que: “No filme 'Feitiço do Tempo', Bill Murray tenta consertar num dia o erro que cometeu no dia anterior. Nem isso se pode dizer das contradições do presidente Lula”.

Eu faria uma observação. O repórter Phil Connors, encarnado por Bill Murray, não tenta simplesmente consertar seus erros. Ele tenta manipular a realidade em função do conhecimento prévio que tem dos acontecimentos. Ou seja: repete o mesmo erro o tempo todo. Sempre em função de si mesmo e de seu próprio ganho.

Por isso aquele dia parece sempre se repetir: o que se repete é a estrutura na qual o personagem se movimenta, muito semelhante àquela à qual muitos em nossa sociedade parecem estar acomodados. Sempre buscando o melhor para si mesmos, o lucro pessoal. Comportamento no qual não podemos identificar qualquer mérito.

Quando Phil: 1) é tomado pela consciência de que coisas verdadeiramente importantes - como o amor - não se atualizam em nossas vidas através de manipulações; e 2) apenas em função dos melhores valores humanos e sem almejar qualquer resultado preconcebido – nem mesmo mudar de dia -, resolve todas as mesmas situações anteriormente a ele apresentadas, é que consegue romper os grilhões que o amarravam. Ele se humaniza.

Míriam acertou na escolha do filme: o que acontece com Phil Connors é exatamente o que de melhor podemos desejar a cada um de nossos governantes e a seus governados.