Acabei de ler a dissertação de mestrado da amiga Sílvia, sobre a dança, e fiquei impressionada com a poesia que perpassa todo o seu texto, que nos remete à filosofia, à filosofia oriental, à física quântica...
Sempre percebi a dança, a música, todas as artes, enfim, por analogia com a literatura – minha paixão, como importantes meios de acesso a nosso interior e, por conseguinte, a uma espécie de comunhão com cada outro ser humano... e com o Universo...
Mas nunca aprendi a dançar...
Um pouco por causa da asma, um pouco pelo superego muito crítico, o fato é que a vida inteira minha dança consistiu apenas em brincar com as palavras no papel...
No entanto, de repente, diante do belíssimo trabalho de minha recente amiga, percebi que a dança poderia ser algo de suma importância na vida dos homens... Indispensável mesmo...
A imagem do dançarino formando UM com a dança, criador e criação, o tempo todo presente na pesquisa de Sílvia, me remete àquela questão esotérica da comunhão entre o observador e a coisa observada, que acaba por nos lançar na certeza de que somos um em Deus...
"A eternidade no momento é a impermanência", diz ela... Pois é justamente a sucessão permanente de movimentos que imobiliza...
E somos levados a compreender que, além de se expandir no espaço, concentrando todo ele, ao final, em um só ponto, a dança também sintetiza passado, presente e futuro, constituindo-se na própria eternidade.
Lindo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
E foi assim que, ao receber convite para participar de um encontro de “dança circular”, que, entre outras coisas, mencionava a não necessidade de “sabermos” dançar..., eu resolvi participar.
Gente, que delícia! Um momento de alegria, de brincadeira, de integração...
E vejam: é natural que associemos a palavra “harmonia” a algo assim como um “tudo dando certo”... Dessa forma, ao nos imaginarmos numa dança, em busca dessa harmonia, talvez nos venha o pensamento de que precisamos acertar o passo de imediato, sob pena de sermos culpados do estabelecimento de alguma espécie de “caos”, ali, onde imaginamos talvez uma ordem previamente estabelecida à qual devêssemos nos encaixar...
Mas não: na dança circular, nossos “erros” são assimilados pelo grupo, pelo círculo, e você retoma a cada passo a certeza de pertencer àquele momento.
Nossos “descompassos”, ao serem alegremente inseridos naquela dança em grupo, se tornam a chance mesma da criação de uma nova harmonia.
A impressão que tive, ao lado da Denise, professora a nos orientar com muita sensibilidade, e dos demais participantes, foi de que a relação erro/acerto havia sido definitivamente transformada na variedade, na multiplicidade de possibilidades a caracterizar o estar do homem no mundo e na vida.