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quarta-feira, 27 de maio de 2009

KRISHNAMURTI E AS DROGAS

Segundo Krishnamurti, “os que tomam drogas para terem experiências extraordinárias vêem talvez um pouco mais intensamente as cores, tornam-se talvez um pouco mais sensíveis e, com a sensibilidade adquirida nesse estado quimicamente provocado, talvez possam ver sem nenhum espaço entre o "observador" e a "coisa observada"; mas, passado o efeito químico, ei-los de volta ao mesmo lugar onde estavam, de volta ao seu medo, seu tédio, sua velha rotina - e, portanto, obrigados a tomar de novo a droga.”
Não podemos afirmar sobre que tipo de droga o mestre falava, mas imaginamos poder estender sua previsão ao uso de qualquer uma das mais conhecidas e usadas hoje em dia, principalmente pelos jovens menos favorecidos. Acrescentando apenas que certamente, a cada vez que o ciclo acima descrito se repita, o quadro terá se tornado mais grave, e o tempo do protagonista mais curto.
De qualquer forma, não são poucas as histórias que nos falam daqueles que apenas abandonaram o vício após haverem se encontrado em alguma religião... Após haverem percebido, “em Cristo”, essa mesma diluição entre o “observador e a coisa observada” de que falava Krishnamurti, e que, em última análise, talvez seja aquilo que buscam de fato - espécie de diluição dos contornos grosseiros que parecem separá-los do resto do mundo.
Por outro lado, a impressão que se tem é que o espírito da dependência acompanha o modo de muitas dessas pessoas “buscarem a Deus”; muitas vezes com tal fanatismo que, ao invés de servirem de exemplo para aqueles que permanecem no vício anterior, acabam por afastá-los de qualquer proposta que acene para questões ligadas à espiritualidade.

Em texto pouco conhecido, dizia Freud:
"... é possível prever que, mais cedo ou mais tarde, a consciência da sociedade despertará, e lembrar-se-á de que o pobre tem exatamente tanto direito a uma assistência à sua mente, quanto o tem, agora, à ajuda oferecida pela cirurgia, e de que as neuroses ameaçam a saúde pública não menos do que a tuberculose...."
Assim, talvez devêssemos pensar em aliar o incentivo ao “autoconhecimento” a qualquer projeto - de ONGs, Instituições e Igrejas - que vise a recuperação de dependentes químicos.
A qualquer pessoa mais atenta a respeito de si mesma e de seus movimentos interiores será facultado perceber que a música, alguns esportes, a arte, a dança, a literatura, os fundamentos da psicologia e a filosofia - incluindo-se aí, além dos clássicos, os pensadores como o próprio Krishnamurti ( e, por que não, as práticas da meditação? ) _ podem ser aliados na busca da "salvação" de si mesmo e de outras pessoas, tornando-se ferramentas indispensáveis à possibilidade de manutenção no dia-a-dia daquela consciência ampliada que haviam pensado poder encontrar apenas lançando mão de artifícios como a droga.
Um bom exemplo de como o autoconhecimento e a valorização da própria história podem influenciar os rumos da vida de uma pessoa encontramos no filme "Escritores da Liberdade", baseado em fatos reais, e no qual os alunos são levados pela professora a escreverem sobre si mesmos inspirados na leitura de "O Diário de Anne Frank".
Quando alguém se torna capaz de olhar corajosamente para dentro de si mesmo, delineando a própria individualidade- e podemos dizer que o verdadeiro processo de autoconhecimento confunde-se, de certa forma, com o caminho da espiritualidade e de Deus -, de forma aparentemente paradoxal, torna-se também capaz de perceber a sua semelhança com os demais seres humanos - que passa a respeitar de uma nova maneira -, descobrindo, enfim, que não precisa de qualquer droga ou artifício para desfazer os contornos que pareciam separá-lo enquanto "observador" "da coisa observada".
Simplesmente porque eles, os contornos, nunca estiveram lá.