Como sabem os meus devotados leitores, não tenho podido me dedicar ao blog como gostaria...
Assisti há alguns meses ao DVD do filme “De pernas pro ar” e acabei adiando tanto o momento de sentar e escrever sobre a história que provavelmente será difícil, mesmo com o auxílio das notinhas rabiscadas e espalhadas sobre a minha mesa, acessar em meus arquivos internos todas as observações feitas então.
Essa comédia inofensiva(?), ao contar a história de uma mulher que nunca tivera um orgasmo, traça espécie de caricatura do que seria o processo de liberação da libido feminina.
Havia no filme um viés de crítica ou ironia? Pode ser.
De qualquer forma, o espectador comum acaba mesmo é à mercê de uma espécie de propaganda do sexo industrial, segundo a qual modelo de mulher livre e ardente é aquela que faz uso, sem maiores hesitações, de brinquedinhos de todos os tipos, desde calcinhas mastigáveis até o coelhinho eletrônico escolhido pela personagem para ajudá-la a conhecer seu próprio corpo (???)...
O consumismo realmente parece haver invadido definitivamente a vida dos infelizes seres humanos. Longe da certeza de que o autoconhecimento, a comunhão com seus corpos, almas, fantasias e criatividade, além da sintonia com o companheiro, são mais do que suficientes para que atinjam todo o prazer possível a sua faixa etária e hormonal, muitas mulheres talvez tenham saído do cinema dispostas a encher os bolsos dos vendedores de bugigangas sexuais.
Mas o pior é que ( inadvertidamente? ) o filme talvez passe uma mensagem não muito educativa para o público mais jovem... Além da comercial associação entre prazer e “brinquedinhos”, como o primeiro orgasmo da mulher ocorre após ter estado ela em uma festa barulhenta na qual experimentou algum tipo de droga, não podemos rechaçar a possibilidade de que, inconscientemente, alguns espectadores interiorizem a triste e equivocada ideia de que festas barulhentas e drogas se associem à liberdade. À mesma “liberdade” que, no filme, acaba por levar a mulher - já em casa - ao orgasmo, com a ajuda do coelho...
( Para os menos atentos, pode ficar tudo associado: drogas, coelho e satisfação sexual. A verdade é que mensagens subliminares são sempre perigosas. )
E ser livre é justamente desistir de estereótipos; é pensar, agir, escolher, falar, vestir, ser, sempre em busca da melhor expressão de nossa singularidade que, ao mesmo tempo, nos individualiza e reconcilia com cada outro ser humano...
Ser livre é, sem fazer parte de qualquer patotinha excludente ou “exclusiva”, ter coragem de descobrir o que realmente se pensa e sente sobre tudo...
E, caso isso interesse à construção de um mundo melhor para TODOS – única patota à qual de fato todos e cada um de nós pertencemos -, ter coragem de dizê-lo, sem medo de qualquer tipo de exclusão...