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terça-feira, 23 de agosto de 2011

DE PERNAS PRO AR

Como sabem os meus devotados leitores, não tenho podido me dedicar ao blog como gostaria...

Assisti há alguns meses ao DVD do filme “De pernas pro ar” e acabei adiando tanto o momento de sentar e escrever sobre a história que provavelmente será difícil, mesmo com o auxílio das notinhas rabiscadas e espalhadas sobre a minha mesa, acessar em meus arquivos internos todas as observações feitas então.

Essa comédia inofensiva(?), ao contar a história de uma mulher que nunca tivera um orgasmo, traça espécie de caricatura do que seria o processo de liberação da libido feminina.

Havia no filme um viés de crítica ou ironia? Pode ser.

De qualquer forma, o espectador comum acaba mesmo é à mercê de uma espécie de propaganda do sexo industrial, segundo a qual modelo de mulher livre e ardente é aquela que faz uso, sem maiores hesitações, de brinquedinhos de todos os tipos, desde calcinhas mastigáveis até o coelhinho eletrônico escolhido pela personagem para ajudá-la a conhecer seu próprio corpo (???)...

O consumismo realmente parece haver invadido definitivamente a vida dos infelizes seres humanos. Longe da certeza de que o autoconhecimento, a comunhão com seus corpos, almas, fantasias e criatividade, além da sintonia com o companheiro, são mais do que suficientes para que atinjam todo o prazer possível a sua faixa etária e hormonal, muitas mulheres talvez tenham saído do cinema dispostas a encher os bolsos dos vendedores de bugigangas sexuais.

Mas o pior é que ( inadvertidamente? ) o filme talvez passe uma mensagem não muito educativa para o público mais jovem... Além da comercial associação entre prazer e “brinquedinhos”, como o primeiro orgasmo da mulher ocorre após ter estado ela em uma festa barulhenta na qual experimentou algum tipo de droga, não podemos rechaçar a possibilidade de que, inconscientemente, alguns espectadores interiorizem a triste e equivocada ideia de que festas barulhentas e drogas se associem à liberdade. À mesma “liberdade” que, no filme, acaba por levar a mulher - já em casa - ao orgasmo, com a ajuda do coelho...

( Para os menos atentos, pode ficar tudo associado: drogas, coelho e satisfação sexual. A verdade é que mensagens subliminares são sempre perigosas. )

E ser livre é justamente desistir de estereótipos; é pensar, agir, escolher, falar, vestir, ser, sempre em busca da melhor expressão de nossa singularidade que, ao mesmo tempo, nos individualiza e reconcilia com cada outro ser humano...

Ser livre é, sem fazer parte de qualquer patotinha excludente ou “exclusiva”, ter coragem de descobrir o que realmente se pensa e sente sobre tudo...

E, caso isso interesse à construção de um mundo melhor para TODOS – única patota à qual de fato todos e cada um de nós pertencemos -, ter coragem de dizê-lo, sem medo de qualquer tipo de exclusão...