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segunda-feira, 27 de junho de 2011

AMOR POR CONTRATO

Esse filme pode ser entendido como interessantíssima metáfora daquilo que se tornou nossa vida no mundo capitalista.

Consumir. Invejar. Consumir. Invejar. Consumir...

Uma mulher, um homem e um casal de adolescentes, espécies de belos atores, são contratatos por algo como um consórcio de empresas para que, fingindo ser uma família perfeita, passem um ano instalados numa belíssima casa em determinada cidade.

Objetivo: divulgar, através de seu “invejável” estilo de vida, os sofisticados lançamentos de seus patrões, que vão desde peças de vestuário e decoração, passando por congelados servidos em sofisticadas reuniões, até potentíssimos carros e aparelhos de ultimíssima geração.

Qualquer semelhança com a sôfrega procura pelos bens – ou por suas imitações – associados a ricos e famosos nas matérias de revistas especializadas não parece ser mera coincidência.

Aliás, a verdade talvez seja que não apenas as classes média e baixa vivam atordoadas por seus desejos consumistas insuflados pelo marketing cada vez mais presente por todos os lados. Exatamente como no filme estrelado por Demi Moore, nossas elites – esquecidas totalmente da queda que sempre chega com o envelhecimento e a morte - parecem continuar ad infinitum no triste joguinho do vamos ver quem tem mais, manipuladas, vejam só!, por nada menos do que seus próprios pares.

Aliás, é o que parece ironizar, a caminho da lucidez, a parte masculina do casal-modelo, ao exclamar, em animada conversa sobre suas últimas e imediatamente invejadas aquisições:

“_ Aquele que morrer com mais brinquedos vence!”



Obs. De suas palavras, vemos todos rindo...

Pena que, atordoados pelo brilho de tais brinquedos, não houvesse ali quem lhe pudesse escutar com a devida atenção, o que certamente poderia evitar a tragédia final.

Fico pensando, mais uma vez, no quanto a quantidade de plásticas, o cuidado exagerado com a indumentária, além da inutilidade de muito daquilo de que as pessoas se fazem cercar apontam para o simples fato de que grande parte de nós mergulha o tempo todo no maior de todos os autoenganos possíveis, que é a negação da própria morte...

E me lembro da brincadeira de menina, durante a qual recitávamos:

“Da morte ninguém escapa:
Nem o rei, nem o bispo, nem o papa...

Só eu é que escapo:
Compro uma panela, entro dentro dela, e tampo.

Quando a morte chegar,
Eu digo assim para ela:
_ Aqui, não há ninguém.
Passe a senhora muito bem. Obrigada!”