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domingo, 21 de novembro de 2010

VOVÓ ( 2 )

Acabo de receber simpático e-mail do amigo Saint-Clair Machado de Mello, que mantém o blog "Asfalto e Mato" ( com o nome dele e o nome de seu blog, no Google, vocês chegam lá ), sobre a minha tentativa de por em palavras a emoção de ser avó.

Ele, que já é avô há algum tempo, sabiamente me aconselha a esperar pela concretização do fato para escrever sobre o assunto, pois será quando a emoção, em suas palavras, definir-se-á como "um amor acachapante antes da derrocada final do ser humano".

Lindo! Lindo! Lindo!

Infelizmente, da mesma forma que a paternidade e a maternidade não sensibilizam alguns dentre nós, imagino que o poder do sentimento “voterno” não esteja acessível a todos aqueles que começam a ver seus filhos se multiplicarem...

Quanto a mim, cujo papel de mãe sempre foi a prioridade da minha vida, imagino que realmente irei a nocaute quando vir meu neto nos braços de sua mãe... Quando pegar o nosso reizinho em meus braços...

Segundo Freud, três grandes golpes foram desferidos, ao longo da História, na vaidade humana: além da descrição, feita por ele mesmo, do inconsciente, que levava o homem à certeza de não ser senhor em sua própria casa, a constatação, de Copérnico, sobre a Terra não ser o centro do Universo, e os estudos de Darwin, segundo os quais descendemos do macaco...

Fico pensando que muitos parecem se haver protegido de tais golpes com mais vaidade ainda... A ponto de tentarem hoje vencer também o tempo, inclusive recusando-se a assumir o papel de avós... Como se não quisessem deixar o lugar - ilusório? - de protagonistas...; preferindo abrir mão da dádiva de se sentarem na privilegiada cadeira dos derretidos espectadores...

Se apenas prestássemos atenção à fugacidade de nossas vidas – a "derrocada final" sempre está à espreita -, isso bastaria para nos tornarmos humildes, independente de termos vindo ou não dos macacos, ou de sermos movidos por acontecimentos dos quais não temos a menor lembrança... Pois o simples fato de aceitarmos nosso fim - iminente como o de qualquer ser humano - levar-nos-ia à permanente consciência e consequente aceitação de não sermos o centro do Mundo. E pronto.

Sabe, acredito que o amor por nossos netos, tão fortemente quanto o amor por nossos filhos, seja espécie de ensaio para o amor universal, também porque nos oferece, carinhosamente, através desse “amor acachapante antes da derrocada final”, a consciência de que sempre chega a hora de passarmos nossa "coroa"...

A verdade é que mesmo aqueles dentre nós que nunca tiveram filhos, se olhassem a sua volta de coração aberto, teriam a oportunidade de perceber – na beleza e nos sonhos dos jovens e na pureza e alegria de todas as crianças ( postos permanentemente revezados ) - que não há por que lançarem mão de tantos recursos, teimosos em não ceder o seu lugar às gerações que seguem...

Pois não existe sentimento que possa justificar mais a vida de um homem do que o sentimento da sucessão humana, a levá-lo à consciência da única razão possível para que haja nascido: colaborar na construção de um mundo melhor não para si mesmo, mas para aqueles que vêm depois. Sejam eles seus filhos e netos, ou não.