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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

RETICÊNCIAS...

Uma leitora – que leu um dos meus livros e costuma visitar o blog – acaba de me escrever, dizendo que uma coisa a incomodava em meus escritos: o uso infinito das reticências, a interromperem, toda hora, seu raciocínio.

Respondi a ela, mais ou menos, o que segue. Quem sabe, respondo, por tabela, a outros leitores que possam se incomodar com a mesma coisa?


Acredito que realmente as reticências sejam característica marcante em meu estilo. Sendo que muitas vezes o que quero é mesmo interromper o leitor, fazendo-o retornar ao texto outra vez ele mesmo... Em todo caso, pode ser que às vezes exagere – vou prestar mais atenção.

Por outro lado, fico pensando: por que você – e certamente pode não ser apenas você – se incomoda tanto com essa espécie de "interrupção" provocada pelas reticências...? Ou melhor, a pergunta talvez seja: por que as pessoas, de modo geral, não querem ser interrompidas?

Seria porque, na verdade, a interrupção que todos tememos é a sempre negada morte? E, assim, preferimos nos distrair com tudo que pareça mais contínuo do que a própria vida?

Machado de Assis sempre cuidou de “interromper”, a todo momento, seus leitores ( vide Roberto Schwarz sobre o assunto )... E eu, que sou apaixonada por sua obra, agora, fico sabendo que estou obtendo, de certa forma, o mesmo tipo de resultado... Creia, fico contente.

Afinal, em relação a cada leitor, o papel do escritor - daquele escritor que, mais do que convencer o leitor daquilo que diz, acaba por auxiliá-lo no caminho do autoconhecimento, em direção ao “humano universal” – talvez sempre haja sido, seja, e continue sendo, pura e simplesmente, ”interrompê-lo”.