O “Cinema e Letras: Impressões” sempre se posiciona criticamente diante de ideias e não diante de pessoas ou partidos; já tendo tido eu oportunidade aqui de falar, por exemplo, sobre o quanto é bom aquele que escreve poder se sentir à vontade para analisar livremente o pensamento expresso por alguém, seja ele de direita ou de esquerda.
Aliás, segundo tenho podido concluir, eu, que jamais poderia ser rotulada como de direita, talvez não possa também ser incluída entre os ditos de esquerda... Sou, segundo alguns amigos, uma livre pensadora, mais humanista do que propriamente socialista... E, embora simpatize com alguns esquerdistas, entendo que não façamos parte da mesma turma.
Sendo assim, a força daquilo que escrevo não aumenta ou diminui ao sabor dos mais recentes escândalos em nossa política. E continuo me sentindo à vontade para perguntar: se história parecida com a do tráfico de influência ( nojenta, diga-se de passagem ) envolvendo a Casa Civil tocasse de perto a candidato que não andasse assustando tanto a grande imprensa como, ao contrário, parece que Lula/Dilma vêm fazendo – vide editorial, no Globo de anteontem, intitulado “Um projeto autoritário em marcha” -, será que ela ( a história ) seria tratada com a mesma paixão pela grande mídia?
Essa, no meu entender, é a grande questão ética a envolver os meios de Comunicação.
Posso estar enganada, mas, sinceramente, não me lembro de haver visto a mesma disposição em torno de notícias, por exemplo, sobre o escândalo das “Ambulâncias”, a respeito do qual hoje ainda dever-se-ia falar bastante, para que o povo não o esquecesse...
Ou talvez a verdade seja que, ao longo dos anos, vimos, em nosso país, tantas imundícies que não daria para determinar aquelas que deveriam ser mais lembradas... Principalmente porque posso imaginar que não seja pequeno o número das que, apesar de lamacentas e terríveis, a pulularem em diversos setores da sociedade, por alguma razão, jamais chegaram a virar notícia.
De qualquer forma, partindo do princípio de que a última sujeira vinda à tona corresponda à mais pura verdade, essa é uma ótima oportunidade para registrarmos o quanto pode ser proveitoso para o povo - num país no qual a grande imprensa, no entendimento de alguns, parece dar mostras de torcer pelo partido representativo das elites - ser governado pelo PT, por exemplo. Ou pelo PSOL.... Ou pelo PDT...
No mínimo, isso parece ser garantia de uma informação caprichada em todos os sentidos e direções. Exatamente como a queremos.
Mais uns dois ou três mandatos assim, denúncia após denúncia, pode ser que toda a corja seja espanada e que possamos usufruir apenas dos melhores ideais de presidentes pelos quais Frei Betto possa dizer – como acaba de dizer do presidente Lula – que por eles colocaria suas mãos no fogo.
E, já que estamos falando novamente sobre a imprensa ( vide aqui artigo “Liberdade DE Imprensa ou DA imprensa?” ), segundo o citado editorial de O Globo, Lula prepara ataque à liberdade de imprensa e de expressão:
“Será deixado pronto para Dilma um projeto que, entre outros pontos, pretende regular as chamadas “participações cruzadas”, com o objetivo de reduzir o tamanho e a diversificação dos grupos de comunicação. [...] É falso o argumento do incentivo à competição, pois hoje em dia, com a internet e a proliferação de canais de distribuição de informações, há incontáveis e crescentes opções à disposição de leitores, telespectadores e ouvintes. O real objetivo do projeto, de origem chavista, é acabar com a independência das empresas profissionais de jornalismo e entretenimento, pelo corte do seu faturamento, hoje obtido por múltiplas fontes de receitas. Reduzidos em sua escala, os grupos terão de buscar verbas oficiais para se manter, e com isso acabará na prática a liberdade de imprensa.”
Pensemos:
a) Concentração de poder é sempre concentração de poder. Por mais opções que hoje tenhamos, nenhuma delas ( chega a ser covardia qualquer um tentar compará-las, por exemplo, com as Organizações Globo ) tem como atingir o público por todos os lados, promovendo, por exemplo, a ideologia dominante – sutil ou agressivamente; direta ou indiretamente -, através da divulgação ou excessiva valorização de "SEUS" padrões, novelas, músicos, artistas, escritores, marcas, intelectuais, valores, escolhas, desejos, temores, produtos, grupos e - por que não? - candidatos.
b) Como se pode considerar INDEPENDENTE qualquer empresa que objetive lucro? E, se, como afirma o editorial em tela, “reduzidos em sua escala, os grupos terão de buscar verbas oficiais para se manter, e com isso acabará na prática a liberdade de imprensa”, é sinal de que reconhece ela mesma sua submissão àqueles que a mantenham.
c) A imprensa atual possuiria, então, senhores, ainda que “múltiplos”?
d) Certo é que, mesmo diante de um consumado projeto de combate à concentração no que se refira à Comunicação, não haveria necessidade de qualquer empresa submeter-se aos desígnios de qualquer governo democrático. Bastaria que reavaliasse sua ambição e o seu grau de dedicação à construção de um mundo realmente melhor e mais justo para todos.
Obs. Não posso deixar de comentar também o quanto pode ser falaciosa a interpretação dada pela imprensa às palavras de José Dirceu em torno do “abuso no poder de informar”...
Li, no blog de Theotonio de Paiva, um artigo sobre alguns jornalistas que, ao prepararem a apresentação do jornal de cada dia, riem-se dos espectadores, chamados entre eles de “HOMERs” - à imagem do idiota Homer Simpson do seriado americano. Será que são muitos dentre eles a pensarem que somos todos nós meros incapazes de compreender o significado do que seja dito quer por eles, quer pelos mocinhos ou bandidos de nossa História?
Pois, por mais que José Dirceu - comprovadas as acusações a pesarem sobre ele - mereça pagar por seus erros, qual o direito temos nós de inventar significados para aquilo que ele diga?
De meu lado, tenho certeza de que é mais provável que, ao pronunciar algo como o “abuso no poder de informar”, ele se referisse não de forma crítica à obviamente esperada questão feita pela imprensa de trazer à tona tudo o que aconteça e que mereça tornar-se do conhecimento do público, que é como a imprensa parece convenientemente interpretá-lo... Mas sim ao abuso que a muitos leitores, espectadores, telespectadores parece incomodar. Abuso esse no sentido de simplesmente parecer - pelo menos aos leigos no assunto - que a grande mídia dispõe ilimitadamente do poder de escolher e determinar O que será ( ou NÃO será ) e COMO será noticiado. Sem falar no QUANDO, que também pode ser científico.