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terça-feira, 22 de junho de 2010

Vaidade é Loucura ( na obra de Machado de Assis )

Em um dos capítulos do meu “Vaidade é Loucura ( na obra de Machado de Assis )”, abuso do direito de citar a sabedoria alheia... Cito-me, aqui, citando-a:



“Erasmo fala da insatisfação provocada por seu livro [ "Elogio da Loucura" ] nas pessoas da comunidade leitora. E se justifica:

‘Criticar os costumes dos homens sem atacar ninguém pessoalmente, será algo realmente mordaz? Não será antes instruir e aconselhar? De resto, não faço sem cessar minha própria crítica? Uma sátira que não poupa nenhuma das condições humanas não agride homem algum em particular, mas sim os vícios de todos. E se alguém se levanta e grita que foi ferido, é que realmente se reconhece culpado, ou pelo menos se confessa inquieto. Neste gênero, são Jerônimo mostrou-se mais livre e mais acerbo, às vezes sem poupar os nomes. De minha parte, abstive-me de mencionar um único nome, e tanto moderei meu estilo que o leitor inteligente verá sem dificuldade que meu intuito era divertir, de modo algum magoar. Não remexi, como Juvenal, no esgoto dos vícios ocultos; não cataloguei as torpezas, mas sim os ridículos. Se ainda houver um obstinado que esta argumentação não tranquilize, peço-lhe que pense na honra que é ser atacado pela Loucura, pois é ela que ponho no palco, com todas as características de sua personagem.’

Parece-nos que Erasmo e Machado fizeram a mesma coisa: mexer com a vaidade humana, denunciá-la. [...]
E é um paralelo entre a loucura e a vaidade que encontramos traçado em inúmeras linhas do Elogio da Loucura, e que deixa bastante claro, como muito bem depois registrou Machado de Assis, que a vaidade talvez seja muito mais loucura do que qualquer outra loucura: ‘Assim, imitaríamos os retóricos de nosso tempo, que se acham deuses por usarem duas línguas, como as sanguessugas, e consideram uma maravilha inserir em seu latim alguns pequenos vocábulos gregos, mosaico amiúde fora de propósito. Se as palavras estrangeiras lhes faltam, arrancam de bolorentos pergaminhos quatro ou cinco expressões arcaicas que deitam poeira nos olhos do leitor, de maneira que os que os entendem se pavoneiam, e os que não os entendem os admiram ainda mais. As pessoas, realmente, encontram um prazer supremo no que lhes é supremamente estranho. Sua vaidade tem parte nisso; riem, aplaudem, mexem a orelha como os asnos, para mostrar que compreenderam bem: ‘É isso, é isso mesmo!’’”



Tão bom se todos falassem e escrevessem para o maior número possível de pessoas...
Mas isso só é possível quando se acredita realmente naquilo que se diz ou escreve.

Tão bom se todos soubessem, sempre que fosse o caso, dizer “não entendi”...
Mas isso só é possível quando tocamos nossa essência, no fundo de nosso coração, e não mais nos confundimos com as aparências.