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segunda-feira, 28 de junho de 2010

ASSUNTO SÉRIO NA NOVELA DAS 9

Espero que o autor da atual novela das 9 saiba conduzir bastante bem a trama no que se refira ao pedófilo encarnado pelo ator Marcelo Antonni.

Para começar, acredito que Sílvio de Abreu poderia pensar na possibilidade de evitar outros momentos em que o pervertido contracene diretamente com crianças.
Afinal, são tantos os recursos que as modernas tecnologias oferecem... Por que não utilizar espécies de montagens, focando apenas de costas qualquer das crianças? Sem falar que, numa montagem, evitar-se-ia que elas captassem alguma ambiguidade daqueles olhares e afagos recebidos, que são propositalmente sugestivos.

As perguntas que ficam sobre as cenas até agora transmitidas: como irão receber aquelas crianças os comentários de algum coleguinha que haja ouvido seus pais ou irmãos mais velhos conversando sobre o capítulo no qual elas apareceram? Será que os psicólogos são capazes de prever possíveis consequências disso?
Pois, da mesma forma que aquilo que apenas temeram ou desejaram pode se refletir vida afora no comportamento de qualquer criança, não seria possível que as cenas que as pequenas atrizes representaram ou aquilo que possam ouvir a respeito de sua atuação, ao se misturarem, de certa forma, com o real, seja “subconscientizado” de maneira a prejudicar seu amadurecimento?

De qualquer forma, tais cenas – a novela em si - podem ser bastante úteis, ao servirem de alerta ou de motivação para uma boa conversa entre pais e filhos - incluindo-se as pequenas atrizes - de todas as idades. E a Globo, justiça seja feita - desta vez chocando mesmo -, mais uma vez, pode estar, através de uma novela, conseguindo abrir importantes canais de comunicação e esclarecimento.

Bem, disse que espero que o autor de “Passione” saiba conduzir especialmente bem o assunto “pedofilia”, pois, uma vez que o tenha abordado em uma novela de grande audiência, não pode correr o risco de ver humanizada essa terrível perversão, ao ser ela vivida por um homem bonito, rico, simpático...
Tudo o que não esperamos nesse momento é qualquer tipo de humanização dessa patologia, que precisa ser sempre enfrentada como caso de polícia, ainda quando também da psiquiatria.

Naturalmente, acreditamos que, cercando-se de cuidados, seja possível que o autor atinja o objetivo de denunciar esse tipo de crime hediondo, fazendo com que a sociedade atente para a terrível e cada vez mais evidente certeza de que, por trás da beleza, da agressividade e da riqueza, bem como da feiúra, da simpatia e da pobreza - em qualquer lugar - pode existir um monstro.

E a única maneira de protegermos nossas crianças, além de estarmos presentes, é orientá-las no sentido de que confiem em nós; no sentido de que nos possam contar qualquer coisa, assegurando-lhes que sempre serão por nós amadas e, seja qual for o sentimento por elas experimentado, jamais poderão ser responsabilizadas pela covardia de um possível agressor.


Abaixo segue pequeno conto infantil que escrevi logo depois de participar de uma reunião de professores durante a qual se falou sobre a triste história de uma aluna, naquele momento já casada, mas ainda sob o reflexo de tudo o que sofrera.

Pensando que toda criança precisava saber que seu corpo lhe pertencia e que, como a um segredo precioso, ela precisava ter consciência do seu direito de protegê-lo da curiosidade alheia; recusando-se, por outro lado, a fazer segredo de qualquer tentativa de violá-lo, mostrei, então, essa historinha para alguns dos meus colegas-professores, e imaginamos o quanto talvez pudesse ser importante - num mundo no qual, infelizmente, algumas vezes, nem os próprios pais merecem confiança - se psicólogos se dispusessem a estudar a possibilidade de pretextos, como essa historinha, para boas conversas, em casa ou na escola. Pois é provável que as crianças à mercê de qualquer anormal se fortalecessem, ao compreenderem que, em histórias como a sua, é preciso gritar por socorro.



A CAIXINHA DOURADA


Quando a princesinha nasceu, ganhou de presente uma caixinha dourada.
Sua chave foi guardada numa prateleira alta, e um dia lhe disseram que, quando fosse capaz de alcançá-la sem usar escada ou banquinho teria chegado o momento de dividir seus segredos com quem escolhesse.

Carolina foi crescendo e nunca se separou da caixinha, que trazia sempre consigo. De vez em quando olhava para cima, tentando adivinhar quanto tempo levaria para poder pegar aquela chavezinha tão importante.
E o tempo foi passando...

Carol, como era chamada por todos que a cercavam, era a criança mais alegre do mundo: brincava com as outras crianças da corte, filhas dos nobres e dos empregados que ali residiam; estudava com os professores especialmente contratados; e observava, com muita curiosidade, o mundo à sua volta, até aonde podiam ir os olhos de seu coração. O tempo todo distribuindo sorrisos e dando gritinhos de alegria...
Logo todos perceberam que a princesa seria uma pessoa muito boa, sempre preocupada com os súditos do pai, e não aceitando ver qualquer pessoa maltratada.

Um dia, de repente, Carolina parou de sorrir. Perguntada, dizia nada haver acontecido, mas seus olhinhos, antes brilhantes, pareciam nada enxergar quando olhavam para alguém ou para alguma coisa. Era como se estivessem procurando dentro de si mesma alguma coisa que precisasse muito ver, compreender...
Seu comportamento foi ficando cada vez mais estranho: os professores percebiam sua indiferença diante das matérias anteriormente preferidas, e notaram que, por duas vezes seguidas, quando alguém falara alguma coisa sobre caixinhas douradas, a menina parecera adormecer sobre a carteira, totalmente alienada das pessoas que a cercavam.
De outras vezes, no entanto, seu comportamento era o oposto: queria porque queria que todos falassem sobre suas caixinhas douradas: quem as tinha?; quem não as tinha? E ficava de tal maneira agitada com o assunto que, à noite, era comum ter o sono perturbado por pesadelos.
Os médicos consultados, bem como os conselheiros da corte, não conseguiam chegar a qualquer conclusão sobre as mudanças da princesinha.

O tempo foi passando e Carolina foi se fechando ainda mais... Costumava dizer que a plantas das quais mais gostava eram as heras, que subiam pelas paredes, e eram capazes de esconder portas e janelas...

Um dia, Carol, distraída, quebrou uma escultura muito admirada no reino. Sem saber se seria castigada pelo acontecido, ficou aliviada quando Sara, a baronesa que a socorreu, explicou-lhe que a peça não se havia quebrado, mas apenas parcialmente desmontado. E, após o conserto, vendo que a moça era uma pessoa muito sensível, Carol acabou por lhe contar que, há algum tempo, tinha a impressão de que entravam em seu quarto à noite, pegavam a chavezinha na prateleira alta e..., o que acontecia depois ela não lembrava porque acabava dormindo profundamente.
Mas essa impressão, contara a princesinha à moça, incomodava-a muito, e ela, não sabia direito por que, tinha medo de contar o acontecido para qualquer pessoa... Como se pudessem culpá-la por não haver conseguido evitar que se aproximassem da chave, que ainda não alcançava - deduzira a amiga da família.

A baronesa, apenas por lhe dizer que conhecia muitas histórias parecidas com aquela e que sabia o que fazer, conseguiu tranquilizar Carolina e, depois de deixar a menina entre as cobertas, tratou de se esconder em um canto escuro do corredor, à espreita...
De repente, Sara percebeu que alguém se aproximava sorrateiramente do quarto da princesa.
Pé ante pé, ela seguiu o vulto que, agilmente, pegou a chave na prateleira. No momento em que ele ia se virar, em busca dos segredos da caixinha dourada, a moça o atacou, aos socos e pontapés.
Apesar de não haver conseguido arrancar-lhe a máscara que lhe cobria o rosto, conseguiu assustá-lo, gritando-lhe que, se voltasse, pagaria caro pelo que ousara fazer.

Carolina nada ouvira, pois dormira profundamente aquela noite, sossegada pelo carinho da baronesa, que lhe garantiu, no dia seguinte, que aquilo nunca mais aconteceria, pois, além de protegê-la, alertaria todos nas redondezas sobre a existência daquele malfeitor que punha em risco os segredos das crianças do palácio. Explicou-lhe também que, infelizmente, como aquele invasor poderia ser qualquer um, ela deveria ficar atenta, e gritar por Sara quando suspeitasse de alguém.

Assim, a princesinha, pouco a pouco, foi voltando a ser a menina alegre que era antes.
E, algum tempo depois, no mesmo dia em que um bondoso príncipe de outro reino veio visitar sua família, Carolina percebeu que, sem escada ou banquinho, já podia alcançar a chave de sua caixinha dourada.

Obs. Noveleira de plantão me informa que as notícias sobre o andamento da novela das 9 mudaram: talvez o personagem de Marcelo Antonny esconda outro tipo de problema ( 24/07/10 ).