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sexta-feira, 4 de junho de 2010

"Amor sem escalas"

Fora a exposição nua e crua do que seja a demissão em massa de funcionários e a frieza do mundo globalizado diante de seus sentimentos, podemos resumir assim esse filme: é a história mais caricaturalmente feminista veiculada pelos cinemas nos últimos tempos.

Vemos Ryan, o personagem vivido por Clooney, apresentado como o homem mais desgarrado e avesso às relações humanas profundas que se possa imaginar, acabar por se envolver com uma mulher que encarna nada menos do que o arquétipo do perfeito machista. Capaz inclusive de separar muito bem sua vida de mãe de família – mantida em segredo - daquilo que chama “fuga”, e que consiste em brincar - e ela o diz com todas as letras - de ser espécie de Ryan “com vagina”.

Pode ser que aquelas que já se descabelaram muito na tentativa de se relacionarem com homens do tipo descrito - e que não hajam tido coragem de olhar para dentro de si mesmas para descobrirem o porquê - desliguem a televisão com a alma lavada, após verem Alex levar Ryan a perceber que se deparou com alguém tão superficial quanto ele mesmo. Mas todos aqueles que esperam que as relações humanas evoluam ( uma mulher livre não pode ser prisioneira do estereótipo do macho descompromissado ) para algo bem melhor do que o modelo que inclui mulheres das quais Vera Farmiga - na pele de Alex - encarna espécie de caricatura chegam ao fim da sessão apenas cansados.

Registre-se que Ryan talvez haja revisto sua filosofia de vida, tornando-se inclusive mais generoso e capaz de amar, em vista da ameaça de viver algo parecido com aquilo que sua profissão o levava a oferecer a tantas pessoas: a demissão. Ou quase isso.
A possibilidade de ver-se definitivamente com os pés no chão pode havê-lo obrigado a parar de fugir de si mesmo.
Mas ficamos sem saber se sua primeira decepção amorosa estreitará ainda mais seu contato consigo mesmo, levando-o a questionar o trabalho, que retoma e de cuja dimensão terrível começara a suspeitar, ou se simplesmente voltará a ser o Ryan "aéreo" de sempre.