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domingo, 7 de fevereiro de 2010

Os jovens e a descriminalização do uso de drogas

Entendo a defesa da descriminalização do uso de drogas como uma manifestação da consciência crescente de que este é um problema da esfera da Saúde Pública. E essa consciência é indispensável.
Mas não consigo compreender que esse movimento não seja acompanhado de ampla discussão sobre a legalização e regulamentação – produção, venda e uso ( discussão inclusive sobre como estão sendo implementadas as políticas internacionais de combate ao tráfico ) dessas substâncias, cujo comércio ilegal tantos prejuízos tem trazido à sociedade como um todo.

Já tendo tratado desse assunto nesse blog, reproduzo trecho de texto anteriormente aqui publicado:
“A sociedade é um todo de partes articuladas entre si. Não existe solução satisfatória para qualquer problema atual que não passe pela reestruturação desse todo. Assim, no meu entender, soluções para questões como drogas e violência só serão delineadas de fato quando dermos prioridade à discussão sobre os valores que temos abraçado e que perpassam a vida e as ações de cada um de nós.
Enquanto jovens das classes média e alta estiverem à deriva ( muitas vezes desconfiados daquilo que seus próprios pais defendem através de suas posturas diante da vida, incluindo-se aí até mesmo o uso de algum tipo de droga ), com um grande vazio nunca preenchido por todas as coisas que o dinheiro possa comprar, sempre haverá mercado para quaisquer drogas, legais ou ilegais...
Enquanto a miséria jogar outra parcela de nossos jovens no vício e nas mãos dos empresários do crime, a violência só aumentará.”

Por enquanto, insisto que precisamos ampliar a discussão sobre o assunto. E gostaria de destacar as três principais razões que identifico para que pais, mães, médicos, educadores, intelectuais, psicólogos, políticos, juristas e seres humanos de modo geral discutam o retumbante fracasso da política segundo a qual o assunto vem sendo tratado e que a simples descriminalização do uso de drogas, a médio e longo prazos, talvez possa exacerbar.
A primeira dessas razões é que não podemos deixar de pensar na possibilidade de que a simples descriminalização do uso de drogas possa vir a tornar-se medida de caráter elitista, uma vez que, de certa forma, seus maiores beneficiados acabariam sendo os dependentes das classes mais abastadas. ( Vide em "Acionistas do Nada", do delegado Orlando Zaccone, quem seriam os escolhidos "para pagar o pato" no que se refira ao assunto drogas. )
A segunda é ser de difícil compreensão o fato de uma sociedade poder conviver passivamente com a ideia de que seus jovens mantenham relações comerciais com a criminalidade. Isso não cheiraria a hipocrisia?
E a terceira razão, talvez a mais séria, seria a grande probabilidade de, a médio prazo, podermos vir a verificar um aumento significativo da dependência química ( o uso desmedido do álcool aí incluído ), além dos episódios de violência, desumanidade e falta de limites envolvendo jovens das classes mais altas. Simplesmente porque tal situação – a descriminalização do uso pura e simples -, ao, de certa forma, permitir aos jovens o trânsito livre pela ilegalidade, colocar-se-ia contra qualquer princípio educativo. E essa contradição poderia favorecer a estruturação em nossos jovens de personalidades nada sadias, na medida em que os limites entre o legal e o ilegal, entre o que não deva ser punido e o que deva ser punido não ficariam muito claros. Inclusive podendo favorecer o fortalecimento do sentimento fascista – infelizmente já presente em alguns grupos de jovens - da superioridade em relação aos mais humildes.
São ou não são boas razões para no mínimo começarmos a pensar?
Lembrando sempre de que “legalizar” não tem qualquer relação com “aprovar” e muito menos com “legal” no sentido de bom, estando, no caso em questão, muito mais para a busca de um Estado de Direito.

Enfim, gostaria de concluir, remetendo-me novamente ao texto anterior:
“Apenas no dia em que a sociedade como um todo começar a rever seus valores, cada uma de nossas ações será humanizada e naturalmente as condições de vida dos filhos das classes mais e menos privilegiadas se beneficiarão disso. E tenho certeza de que, então, o uso de qualquer droga diminuirá muito.”