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sexta-feira, 5 de junho de 2009

Antigamente, dizia-se: "pessoas sem personalidade"

Numa festa ligada à literatura, na qual a presença de muitas autoridades respeitadas na cidade se fez notar, presenciei o gesto infame do amigo instalado ao meu lado.
Foi com um quase imperceptível movimento de cabeça que cumprimentou o rapaz com o qual toda semana, eu sabia, jogava bola e bebia "pra esquecer a derrota ou comemorar a vitória" do time da empresa onde ambos trabalham - ele, alto executivo; o rapaz, simples auxiliar...
Provavelmente sem entender o que acontecia, ele, a vítima da tola vaidade humana ali corporificada, ainda tentou se aproximar, mas foi rechaçado abruptamente pelo colega, que se dirigiu ao banheiro, como se fugisse de uma doença contagiosa.
Sem graça, fui gentil e disse à pessoa confusa, à minha frente, que seu parceiro das quartas-feiras não estava passando muito bem.
Mais ressabiado do que aliviado, o menino acomodou-se do outro lado da sala...
E não é que, quando, no transcorrer da festividade, fica evidente a simpatia do homenageado pelo zagueiro desprezado, meu colega tem coragem de mudar completamente sua postura em relação ao, de repente, assumido "companheiro"?
E foi para que, a partir de minha própria escala de valores, eu não viesse a agir - com aquele que já me via interiormente chamando de simples conhecido - da mesma maneira que ele o fizera com o parceiro de tantos anos, que me vi na obrigação de lhe dizer, palavra por palavra, o que pensava de seu comportamento:
"Nunca consegui entender aquelas pessoas que, chegadas, por exemplo, a um evento importante, e ali encontrando uma pessoa com a qual mantenha um bom relacionamento em algum setor de sua vida, comportam-se, em relação a ela, de maneira cuidadosa, diferente, aguardando, talvez, para ter certeza do quão bem quista seja pelos demais ali presentes.
Não consigo entender e abomino tal comportamento que, além de medíocre, em última análise, talvez denuncie algum tipo de complexo de inferioridade. Pois o que importa se Fulano ou Beltrano respeita ou detesta alguém com o qual eu, por minha vez, tenha alguma afinidade? Por que não deveria impor aos que me rodeiam o respeito que sinta por aqueles que elegi para o meu rol de amizades, levando em conta aquilo que, dentro de MINHA escala de valores, seja importante?
Ser capazes de reagir a cada próximo apenas em função daquilo que ele represente de fato e diretamente em nossa vida, e a partir exclusivamente de nossas próprias impressões a seu respeito é o que podemos esperar de nós mesmos, se nos queremos pessoas maduras e inteiras. Ou simplesmente nos assumamos como desprezíveis 'pessoas sem personalidade'."