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sexta-feira, 22 de maio de 2009

Legalização das drogas

Mandei, semanas atrás, para o Globo, o seguinte e-mail:
Ouvindo e lendo algumas pessoas , dentre aquelas que defendem apaixonadamente a manutenção do caráter criminoso das drogas, acabamos por concluir que um de seus maiores equívocos é acreditar que os que defendem sua legalização estejam automaticamente defendendo as drogas em si mesmas.
A bandeira em defesa da legalização das drogas, ao ser levantada por aqueles que delas não fazem uso, ou que trabalham no sentido de libertar de seu jugo o maior número possível de criaturas, é na verdade em favor da Lei e do Estado de direito propriamente dito; da dignidade humana e da abordagem da questão das drogas pela perspectiva da saúde pública.
Se um "Estado de direito" prevê que todos se submetam às mesmas leis e regras, e se percebemos a diferença do tratamento dado a drogas como o álcool, o tabaco e as anfetaminas, talvez devêssemos refletir sobre a hipocrisia de tal situação.
Hipocrisia essa que parece se estender à constatação de que, muitas vezes, como denuncia o personagem encarnado por Cristiane Torloni na novela das 9, nossas elites preferem justificar o comportamento inadequado de um filho, atribuindo-o ao uso de drogas - banalizando-o, portanto; do que admitindo a verdade, ou seja, que ele enfrenta distúrbios psiquiátricos.
Enfim, aos inúmeros argumentos que podem ser elencados a favor da legalização das drogas, deveríamos destacar a possibilidade de vermos os recursos dispendidos na repressão - retumbante fracasso - direcionados, além de para o tratamento digno dos já comprometidos pelo vício, à educação dos jovens. Educação geral mesmo, que, sem dúvida, acabaria por resultar em maiores chances de vermos nossos jovens crescerem longe de qualquer droga.
( Não foi publicado )

EM 27/9/09 CONTINUANDO A PENSAR SOBRE O ASSUNTO:

Nossos Jovens e a Legalização das Drogas:

A sociedade é um todo de partes articuladas entre si. Não existe solução satisfatória para qualquer problema atual que não passe pela reestruturação desse todo. Assim, no meu entender, soluções para questões como drogas e violência só serão delineadas de fato quando dermos prioridade à discussão sobre os valores que temos abraçado e que perpassam a vida e as ações de cada um de nós.
Enquanto jovens das classes média e alta estiverem à deriva ( muitas vezes desconfiados daquilo que seus próprios pais defendem através de suas posturas diante da vida, incluindo-se aí até mesmo o uso de algum tipo de droga ), com um grande vazio nunca preenchido por todas as coisas que o dinheiro possa comprar, sempre haverá mercado para quaisquer drogas, legais ou ilegais...
Enquanto a miséria jogar outra parcela de nossos jovens no vício e nas mãos dos empresários do crime, a violência só aumentará.
Apenas no dia em que a sociedade como um todo começar a rever seus valores, cada uma de nossas ações será humanizada e naturalmente as condições de vida dos filhos das classes mais e menos privilegiadas se beneficiarão disso. E tenho certeza de que, então, o uso de qualquer droga diminuirá muito.
Por enquanto, eu, que, graças a Deus, jamais tive qualquer problema relacionado às drogas com meus filhos – hoje adultos, acredito que precisamos discutir a possibilidade da legalização das drogas, em nome de um mundo melhor para todos.
Imagino que os legisladores e os juristas tenham muitas ideias para a regulamentação da venda e do uso das drogas, diante da possibilidade de sua legalização. Algumas delas talvez coincidam com as que enumero a seguir:
*Como ocorre na venda dos remédios de tarja negra, a venda de drogas deveria ser subordinada ao Ministério da Saúde, exigindo um documento assinado pelo comprador. Teria de haver algum controle de seus usuários, do quanto se drogam, de seu comportamento, daquilo que fazem sob o efeito da droga... Seu médico, ao qual teria de se apresentar regularmente para tratamento e acompanhamento, deveria ser sempre informado de suas solicitações de substâncias.
Como o álcool, qualquer droga teria de ser proibida a menores, claro.
* O dinheiro gasto na repressão deveria ser revertido em tratamento para os já dominados pela droga, além de na educação de modo geral, na formação de professores, na criação de possibilidades de emprego-estágio ( que preparariam os jovens para atuarem em diversas áreas, de acordo com suas aptidões, ali também avaliadas ) para os jovens carentes, incluindo-se aqueles em recuperação.
*Os melhor aquinhoados deveriam ser atingidos por um projeto de educação nas escolas que os levasse a colaborar com o ensino nas escolas públicas, por exemplo. Algum projeto social deveria ser implantado em cada colégio no sentido de permitir ao jovem sentir-se útil e responsável pelo futuro a se descortinar a sua frente mediante suas próprias ações. Isso certamente diminuiria a insaciabilidade de muitos jovens, que talvez seja o que acaba por levar alguns às drogas.
Enfim, é preciso ampla discussão sobre o assunto. Precisamos discutir livremente qualquer possibilidade de melhorar o mundo a nossa volta.
E não nos esqueçamos da Chicago de Al Capone. Não dá para deixarmos pra lá o fato flagrante de que no momento mesmo em que o álcool foi ali considerado ilegal, aquela sociedade se viu à mercê de uma violência sem igual, subjugada pelo tráfico e pelos assassinatos a ele relacionados.
Daí é que sempre concluo ser melhor lidar com a legalidade e com a possibilidade de controle que ela oferece à sociedade.

Em novembro de 2010, após ouvir e ler - dentre outros - o médico psiquiatra Hélcio Fernandes Mattos e o cineasta Cacá Diegues, fico com a certeza de que, a discussão em torno da aqui tratada legalização das drogas precisa se dar também em caráter mundial.