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quinta-feira, 20 de março de 2014

A menina que roubava livros

Em “A menina que roubava livros”, “roubar” parece significar apropriar-se em dado momento daquilo que “nem sempre foi seu”, porém, de maneira mais simbólica do que literal.

 

Sede de aprender a ler. Sede de aprender nos livros. Sede de aprender sobre si mesma, sobre os acontecimentos. Apropriar-se da vida e da morte, eis o que torna nossa personagem muito mais do que uma momentânea sobrevivente de guerra...

 

A vida, o livro da vida, o conhecimento sobre o mundo, sobre si mesma e sobre as pessoas, que ela absorve sofregamente, passa pelas palavras. E as palavras, células de cada livro, de cada reflexão, de cada história contada pela menina nos abrigos, à guisa de animar aqueles que só tinham ouvidos para as explosões, acabam sendo o centro de toda a trama.

 

O bom e o mau. O belo e o feio. O amor, a amizade, o ódio, a injustiça, a barbárie... Como pode um filme retratando período tão terrível da história humana conseguir mergulhar os espectadores em espécie de estado de graça, a culminar, ao final da exibição, no impulso incontrolável para o aplauso genuíno, aquele que brota espontâneo como uma interjeição gestual?

 

Nas últimas cenas, a Morte – narradora - afirma ser ela própria assombrada pelos seres humanos... Parece que principalmente por aqueles que melhor conseguem elaborar as histórias que vivem e contam, levando seu público à fundamental aceitação da absurda condição humana...