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sexta-feira, 12 de novembro de 2010

FRACASSO(?)

De vez em quando, penso em parar com o blog... Essa minha necessidade de falar de minhas impressões, de dizer o que sinto e penso, às vezes me deixa preocupada...

Principalmente quando vejo pessoas que, como o jornalista/cineasta Arnaldo Jabor, parecem não saber ouvir, sobre seu trabalho ou ações, opiniões que, sob seu próprio ponto de vista, não lhes sejam favoráveis ou destoem da imagem que fazem questão de ter ( e de impor aos outros ) de si mesmas.

O referido jornalista/cineasta manifesta seu descontentamento, em relação, por exemplo, aos comentários pouco elogiosos a seu recém-lançado filme “A suprema felicidade”, através de sua coluna no jornal O Globo... O artigo que me levou às presentes reflexões intitula-se “Patrulhas ideológicas e patrulhas pop” e foi publicado na última terça-feira.

E fico pensando que aqueles que, não sabendo receber críticas e não tendo qualquer habilidade com as palavras, ou qualquer dom criativo, através dos quais possam expressar seu orgulho ferido(?), possam lançar mão de artifícios outros – trotes telefônicos? - com o único intuito de desconfortar os que, de uma ou outra maneira, acabem por “revelá-los”, ainda que por tabela.

De qualquer forma, acabo concluindo mesmo é que a mediocridade humana existe e que todo mundo que escreve ou diz o que pensa e sente acaba tendo de aprender a lidar com ela...

Por outro lado, no entanto, mais difícil de compreender é como criaturas nada medíocres, como certamente é o caso do jornalista/cineasta Arnaldo Jabor, possam prestar-se ao papel de responder com tamanha revolta àqueles que não puderam ver em seu filme aquilo que talvez a princípio desejassem...

Vejam estes trechos, do texto do cineasta, que se referem a um dos críticos de “A suprema felicidade”:

“Sei que grandes frustrações na vida se compensam por elusivas fantasias de grandeza. Sei que a onipotência não realizada, o narcisismo que parou no meio provocam ódio, e entendo que ele tenha buscado, digamos, 'profissionalizar' seu rancor. Assim ele descolou esse 'bico' para aliviar sua dor interna.”

“’A dignidade severa é o último refúgio dos fracassados.’”

Sinceramente, em alguns momentos, parece que podemos voltar suas palavras para sua própria demonstração de intolerância ( justo Jabor, que sabe melhor do que ninguém agudamente criticar ) com a variedade de opiniões possíveis aos diferentes seres humanos, diante da mesma situação, do mesmo fato, da mesma obra de arte...

Quanto à última afirmação, sugeriria ao jornalista/cineasta ( que respeito acima de tudo pela lembrança de belos textos seus produzidos em uma sua outra fase ) a leitura do livro “A corrosão do caráter”, de Richard Sennett.

Nesse livro, o autor consegue relativizar o conceito de “fracasso”, mostrando como ele está associado ao sistema, aos valores capitalistas... Dentre as inúmeras e profundas conclusões que tiramos de seus capítulos, uma das principais talvez seja que o maior de todos os fracassos é não sermos capazes de assumir qualquer um de seus tipos. E todos sabemos que uma boa bilheteria nem sempre é prova do sucesso de um filme, a não ser que o único objetivo dos envolvidos em sua produção possa ser em cifras colocado.

Encerro com uma frase de Sennett:

“Quando as pessoas acham vergonhoso estar em necessidade, podem tornar-se mais decididamente desconfiadas das demais.”