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terça-feira, 4 de maio de 2010

TUDO PODE DAR CERTO - a Consciência Cósmica

“Tudo pode dar certo”, título nacional do último filme de Woody Allen, ao dar ao “certo” ideia mais de “possibilidade” do que de certeza, define muito bem aquilo de que trata a película: o acaso, fortemente presente em cada evento de nossa vida e responsável muitas vezes por aquilo que nos habituamos a chamar de sorte ou de azar.

Apesar de o personagem principal da história, o físico e professor de xadrez Boris, ser aparentemente um pessimista, desiludido com a vida e com a raça humana, a mensagem final, saída de sua própria boca, acena para a “possibilidade” otimista de que sorte e felicidade estejam relacionadas à coragem de nos aventurarmos no “acaso” dos encontros e dos acontecimentos, em busca de nós mesmos, de nossa verdade.

Com piadas sutis e outras nem tanto, o filme é bastante interessante; ao mesmo tempo profundo e superficial. E, embora alguns afirmem nele identificar espécie de retorno do Woody Allen de algum tempo atrás, ficamos com a sensação de que o cineasta completou mesmo foi um ciclo perfeito – mas em espiral, claro, pulando para outra dimensão. Abraçar a Física Moderna parece ser, afinal, a forma que Woody encontrou de se “espiritualizar”. Talvez de amenizar a acentuada consciência que sempre lhe foi peculiar do absurdo de nossa condição humana.

Saí do cinema pensativa, e muitos dos livros lidos ao longo dos últimos 20 anos me vieram à lembrança. Entre eles, todos os de Fritjof Capra ( O Tao da Física, O Ponto de Mutação, Sabedoria Incomum... ), além de um do qual fiz uma leitura diagonal nos últimos dias, “O andar do bêbado”, do físico Leonard Mlodinow, que trata essencialmente da importância de aprendermos a aceitar e a lidar com o... acaso.

Mlodinow, pelo menos à primeira vista, parece nos convencer facilmente de que a única fórmula para o sucesso é não termos medo de fracassar. Segundo ele, se a vida joga dados, quanto mais vezes lhe dermos oportunidade de lançá-los, mais chances. De fracasso. Mas também de sucesso. Seja lá o que for que isso queira dizer.

De Capra, jamais me esquecerei de como trata do princípio da incerteza, descrito primeiro por Heisenberg... Sem falar na descrição que faz do “spin – movimento rodopiante” das partículas subatômicas, segundo o qual – incrível!, o observador acaba por influenciar aquilo que observa ou analisa, mesmo a milhares de quilômetros de distância...

Veja trecho de “O Ponto de Mutação” e, se possível, leia o livro:

“O aspecto paradoxal do experimento EPR decorre do fato de o observador ter liberdade de escolha do eixo de medição. Uma vez feita essa escolha, a medição transforma em certeza as tendências das partículas para girar em torno de vários eixos. O ponto fundamental é que podemos escolher o nosso eixo de medição no último minuto, quando as partículas já estão bastante distanciadas uma da outra. No instante em que realizarmos nossa medição na partícula 1, a partícula 2, que pode estar a milhares de quilômetros de distância, adquirirá um “spin” definido – “para cima” ou “para baixo”, se escolhermos um eixo vertical; “para a esquerda” ou “para a direita”, se o eixo escolhido for o horizontal. Como é que a partícula 2 sabe que eixo escolhemos? Não há tempo para ela receber informação através de qualquer sinal convencional.”

Enfim, depois de nos familiarizarmos com alguns conceitos da física quântica, como o embutido no trecho acima – a existência de espécie de ligação entre todas as coisas? -, a ideia, o sentimento, de sermos “um” com cada outro ser humano – familiar àqueles dedicados aos ensinamentos esotéricos, torna-se, para nós, algo definitivamente concreto. E somos levados a tentar enumerar outras evidências dessa “certeza” que parece haver arrebatado Woody Allen, levando-o a nos presentear com essa homenagem à beleza de vivermos eternamente submetidos à incerteza dos acasos. Acasos, no entanto ( não nos esqueçamos de que a médium sobre a qual Boris cai dá a entender que “talvez soubesse” daquele acidente ), quem sabe paradoxalmente d e t e r m i n a d o s por essa fabulosa orquestra - ponto mágico entre o caos e a harmonia - chamada Universo?

Somos um com o mundo e com cada outro ser humano:
1) Misticamente: bramanismo etc
2) Cientificamente: Física Quântica
3) Historicamente: O processo histórico do materialista liga todos os seres humanos – a se moverem dialeticamente -, de todas as épocas, em uma coisa só e inseparável.
4) Cartesianamente: causas e efeitos uns dos outros
5) Sociologicamente: vide Durkheim e o consciente coletivo
6) Psicologicamente: vide Jung e o inconsciente coletivo

E mais:

Hegel trata da História do Espírito Universal, que se realiza em etapas sucessivas em “busca” da consciência de si mesmo.

O panteísmo de Hegel nos fala de um Deus que se confunde com a História dos homens, enquanto o panteísmo de Spinoza nos fala de um Deus que é o conjunto de toda a Natureza.

Para o padre e físico Teilhar de Chardin, “o absoluto só no final será o que é em realidade”. Segundo ele, após o “Big Bang”, viemos de um processo de evolução, no qual os níveis de complexidade vão se superando, uns aos outros, em saltos espantosos. Primeiro, a vida surge de uma matéria cada vez mais organizada; depois, é a vez do surgimento da consciência, fruto de células arrumadas, de espécie em espécie, em níveis de complexidade cada vez mais inacreditáveis. E a organização continua: em grupos humanos, sociedades, países, continentes... E a hoje tão falada globalização talvez fosse por ele, se estivesse ainda entre nós, compreendida como mais uma fase nesse caminho sem fim em direção ao “Absoluto”.

Em “O Fenômeno Humano”, seu livro mais conhecido, sem precisar falar em dogmas religiosos – apesar de ser padre, este cientista nos deixa a certeza absoluta da existência de Deus. Simplesmente porque, se da organização de alguns milhares de neurônios transcende algo abstrato e fantástico como cada uma de nossas consciências individuais, é natural imaginarmos que, da organização de todo um universo infinito – macro e micro –, que inclui o conjunto de todas as consciências, transcenda esse absoluto – ou Deus – para o qual, segundo Teilhard, caminhamos.
( Pergunta: em vista disso, existiria necessidade de confronto entre "criacionismo" e "evolucionismo"? )

É mais ou menos como se o objetivo de nossa passagem por aqui fosse de alguma maneira traduzir a energia pura dos sentimentos. Buscar o nosso melhor como seres humanos, já que essa energia pura, ao final, será aquilo que era em princípio: energia pura. Mas cada vez mais consciente de si mesma.
Energia pura: “de onde viemos” e “para onde iremos”, cada um de nós, ao encontro de todos os outros...
Consciência pura. Pura Consciência.
( No romance "A Juíza", essa Consciência ganha voz )