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domingo, 1 de novembro de 2009

O FILHO ETERNO, de Cristovão Tezza

Talvez o maior mérito de “O filho eterno” seja - de uma perspectiva desmascaradora dos sentimentos do personagem-pai e longe de qualquer recurso apelativo - acabar por nos mostrar como o amor pelo filho“imperfeito” se insurge nesse genitor, apesar de todas as resistências nele concentradas.
Interessante é que a processo semelhante parecem ser submetidos os leitores que, muitas vezes conduzidos através das páginas do romance pelo desejo ou expectativa de se depararem com uma virada moral, acabam dando-se conta de que isso não irá acontecer. Simplesmente porque a paulatina transformação verificada no personagem-pai não é da ordem da moral e se dá de dentro para fora, sutilmente, mantendo-o imerso na eterna contradição humana até o final da história...(*) Pois já “conquistado” pelo filho e após vivenciar momentos que nos levam a pensar até em uma espécie de “superioridade” do menino sobre algumas criaturas ditas “normais”, volta a apontar seu próprio despreparo diante daquela existência, sempre revelando a dubiedade de seus sentimentos...
E justamente por isso, mantidos que fomos desarmados ao longo de toda a narrativa, nós, os leitores, vemos os resquícios de nossos possíveis preconceitos – desmascarados - se desmancharem completamente e não podemos precisar em que momento somos tomados de amor pelo garoto... Não podemos precisar o momento exato em que, muito mais do que qualquer campanha possa nos haver sensibilizado para a “síndrome de Down”, o filho eterno nos conquista.
Para sempre.

(*) Final da história é maneira de dizer, pois o melhor desse final, diga-se de passagem, é acenar para o simples fato de que, como qualquer “partida de futebol”, como a vida de qualquer um de nós, ninguém pode saber antecipadamente como qualquer história terminará... Acenando nas últimas linhas para a“primeira metáfora” utilizada por Felipe – fagulha otimista, CristovãoTezza, depois de nos haver levado, em seu português impecável, a encarar nossos medos diante da diferença, nos presenteia com uma conclusão perfeita, delicada e principalmente aberta, deixando claro o quanto tudo é relativo e como, em última análise, somos todos simultaneamente diferentes e iguais.