Sede de aprender a ler. Sede de aprender nos livros. Sede de
aprender sobre si mesma, sobre os acontecimentos. Apropriar-se da vida e da morte,
eis o que torna nossa personagem muito mais do que uma momentânea sobrevivente
de guerra...
A vida, o livro da vida, o conhecimento sobre o mundo, sobre
si mesma e sobre as pessoas, que ela absorve sofregamente, passa pelas
palavras. E as palavras, células de cada livro, de cada reflexão, de cada
história contada pela menina nos abrigos, à guisa de animar aqueles que só
tinham ouvidos para as explosões, acabam sendo o centro de toda a trama.
O bom e o mau. O belo e o feio. O amor, a amizade, o ódio, a
injustiça, a barbárie... Como pode um filme retratando período tão terrível da
história humana conseguir mergulhar os espectadores em espécie de estado de
graça, a culminar, ao final da exibição, no impulso incontrolável para o
aplauso genuíno, aquele que brota espontâneo como uma interjeição gestual?
Nas últimas cenas, a Morte – narradora - afirma ser ela
própria assombrada pelos seres humanos... Parece que principalmente por aqueles
que melhor conseguem elaborar as histórias que vivem e contam, levando seu
público à fundamental aceitação da absurda condição humana...